Em mercado seletivo e sigiloso, seguro cresce 1.884%

Para diretor da corretora LTSeg, altas cifras seguradas garantem desempenho no ramo de Global de Bancos com negócios pontuais

Nos cinco primeiros meses deste ano, os prêmios diretos do seguro Global de Bancos cresceram espantosos 1.884%, saindo de R$ 586 mil no mesmo período do ano passado para R$ 11,6 milhões, de acordo com os dados da Susep. A cifra supera a registrada ao longo de todo 2015, R$ 10,6 milhões, e representa quase quatro vezes o mercado inteiro deste produto em 2014.

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Um aumento dessa envergadura normalmente denotaria aquecimento num segmento cuja base não é das maiores.
O Global de Bancos, no entanto, desafia leituras rápidas sobre movimentos clássicos de mercado. Segundo o diretor de operações da corretora LTSeg, Henrique Camillo, trata-se de um produto com algumas particularidades, que incluem poucos negócios, grandes valores assegurados e processos sigilosos — características que fazem com que o vertiginoso crescimento dos prêmios não decorram, paradoxalmente, de um aquecimento na procura pelo produto, destaca o diretor.

Fluxo

Levantamento feito no período por Risco Seguro Brasil em 38 linhas de seguros corporativos, mostra que o produto joga no time mais modesto desta área. O volume de prêmios movimentado é apenas o 27º maior entre elas.

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Há poucas seguradoras (quatro) trabalhando no segmento, cujo domínio absoluto é da Chubb (adquirida pela ACE em 2015, que por sua vez comprou a carteira de grandes riscos da Itaú Seguros em 2014). Em 2016, a chamada nova Chubb está sendo responsável por 90,5% (R$ 10,5 milhões) do mercado.

Com noticiário frequente de estouros de caixas eletrônicos seria de esperar que um seguro desse tivesse mais procura, certo?

Seria, se ele cobrisse este tipo de dano; não cobre.

Dinheiro grosso

Segundo Camillo, que a pedido de Risco Seguro Brasil se debruçou sobre a carteira, o Global de Bancos é contratado muito seletivamente por bancos e casas de câmbio para proteger seus “grandes cofres”, cujos valores armazenados giram nas alturas — em torno de R$ 300 milhões ou R$ 400 milhões, podendo chegar à casa do bilhão. “As empresas selecionam muito onde vão fazer esse seguro”, afirma ele. “Via de regra, não é qualquer agência que tem.”

Caixas eletrônicos, que normalmente abrigam em torno de R$ 100 mil ou agências “normais”, portanto, passam longe dessas apólices. Camillo ainda lembra que os caixas eletrônicos não dispõem atualmente de nenhum tipo de seguro no mercado.

Quem pensou em roubos como os ocorridos numa agência do Itaú da Avenida Paulista, em São Paulo, em 2013, ou o do Banco Central em Fortaleza (caso de 2005 que virou até um filme chamado “Assalto ao Banco Central”) ficou mais próximo das situações cobertas pelo produto.

Boca de siri

Com os volumes financeiros envolvidos, as operações são feitas num processo com alto grau de sigilo, diz o diretor da LTSeg. “É tudo super-sigiloso. Ninguém gosta de falar o que está fazendo.”

O que se pode garantir, no entanto, diz ele, é que o forte crescimento dos prêmios este ano não significa que o mercado esteja aquecido. “Não está havendo grande procura por este seguro”, garante. “Há uma ou outra apólice, pontual”, afirma. “A diferença [1884%] nos prêmios pode ser resultado de duas ou três operações isoladas. Quando se fala em grandes volumes de dinheiro num cofre, seguramente já dá uns bons milhões em prêmio.”

Também se pode afirmar, explica ele, que as taxas e franquias subiram “um pouco”. Quanto? “Difícil dizer; é caso a caso”, responde Camillo. “O que está acontecendo é que as empresas começaram a reavaliar este mercado por conta do crime organizado crescente.”

“O processo de seleção do risco por parte da seguradora aumentou muito, com procedimentos de segurança, tesouraria, entrada e saída de dinheiro”, afirma o diretor. “O foco é o grande volume e essa parte da operação [dos valores] é muito importante para a seguradora.”

De acordo com Camillo, há apenas duas empresas especializadas em fazer avaliação dos riscos neste tipo de negócio no Brasil. Cada apólice demanda um trabalho específico de acordo com as condições de cada cofre. Depois de feita essa avaliação é que se vai discutir com os resseguradores da operação os valores de taxas e franquias do segurado, diz ele.

Cobertura

A rigor o Global de Bancos cobre roubo, furto ou destruição de valores guardados em agências, como dinheiro, joias e ações.

Ficam excluídas das apólices, perdas decorrentes de mau acondicionamento ou de extorsão mediante sequestro. Transporte de valores é coberto por outro tipo de seguro, lembra Camillo: o RD Valores.

*Informações de Risco Seguro.

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