Busca por seguro cibernético dobrou

Produto ainda pode crescer 15% em 2018

O seguro cibernético deve crescer de 10% a 15% até 2018. Impulsionado pelos recentes ataques e pela entrada de três novas seguradoras, a procura mais do que dobrou em maio em relação a 2016. Incerteza econômica e alto preço, porém, ainda são entraves.

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De acordo com a gerente de linhas financeiras da Willis Towers Watson, Ana Albuquerque, o ataque cibernético mundial do último dia 12 já alavancou a busca pelo produto em 109% em maio frente igual mês de 2016.

“É um incremento significativo, mas está baseado no fato de que, até agora, temos apenas 60 apólices emitidas. De qualquer forma, a previsão é que os últimos eventos despertem uma perspectiva de análise das empresas de se resguardarem de possíveis riscos”, identifica a executiva.

“A expectativa é que a estabilidade econômica e a entrada de novos participantes no mercado segurador impulsione esse crescimento de dois dígitos já para o próximo ano. O terreno é fértil, mas ainda temos pouca conscientização do seguro”, acrescentou o diretor financeiro da LTseg, Caio Timbó.

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Na mesma linha, um estudo levantado pela Marsh apontam que os prejuízos decorrentes de ataques cibernéticos mundiais contra as empresas alcançará até US$ 2,1 trilhões até 2019, valor até quatro vezes maior do que o observado em 2015.

Para o líder da prática de consultoria de riscos da Marsh Brasil, Carlos Santiago, um dos fatores desse cenário é a “falta de obrigatoriedade das empresas em reportar ataques às autoridades” do País.

“A falta de uma lei de proteção aos dados cria um vácuo de exposição a essas organizações e esse processo não é tão simples”, explica o executivo.

Ele reforça que é necessário quantificar os danos tanto da organização quanto de terceiros. “Só assim é possível desenvolver ações eficazes para mitigar um risco que tem um potencial de prejuízos incalculável”, completa Santiago.

Ainda segundo dados da Marsh, na América Latina, 19% das organizações não contam com nenhum tipo de programa estruturado de cibersegurança e em 39% dos casos, apesar de existir a gestão de incidentes relacionados à tecnologia, não há nenhum plano de identificação de riscos.

“É preciso diferenciar que o seguro contra ataques cibernéticos não mitiga as ocorrências, mas sim os danos provenientes desses crimes, como os impactos no patrimônio da empresa ou de terceiros”, analisa Timbó, da LTseg.

Nessa linha, o diretor financeiro da corretora ainda reforça que há uma discussão no mercado para o “amadurecimento” das coberturas oferecidas. “O produto ainda é muito recente e, a seguir o exemplo da última ocorrência, os hackers não apenas tem um alvo novo todos os dias como também miram a extorsão. Isso inevitavelmente gera uma perda enorme e é isso o que queremos mitigar”, afirma.

Obstáculos à proteção

Outros pontos relevantes também foram levantados pelos especialistas entrevistados pelo DCI como sendo os atuais obstáculos do seguro contra ataques cibernéticos.

De acordo com o superintendente de linhas financeiras da BR Insurance, Fernando Cirelli, além do baixo desenvolvimento da cultura de seguro, entraves como a atual crise econômica brasileira e os altos preços do produto, acabam atrasando o crescimento.

“Como ainda não temos o seguro massificado, a tendência é que o prêmio desse seguro ainda seja alto. Além disso, há um entendimento errado por parte dos gestores de TI [Tecnologia da Informação] de que o produto vai mudar essa parte de administração da empresa quando, na verdade, o seguro é um aliado”, comenta.

Ele reforça, ainda, que o momento de incerteza futura e a necessidade de corte de gastos por parte das empresas também têm feito o produto andar de lado até agora. “Muitas companhias miram no seguro como o primeiro corte a ser feito. De qualquer forma, ainda estamos em um momento de conscientização e crescimento do setor e a tendência é que isso continue”, pondera Cirelli, da BR Insurance.

Os executivos ainda reforçam que a entrada de novos players pode acirrar a competição do mercado para esse seguro, mas que a falta de uma regulamentação mais específica ainda pode ser um desafio para o crescimento das contratações dessas apólices.

Atualmente, apenas a AIG e a XL Caitlin operam com o produto mas, até o final de 2017, a previsão é que Generali, Ace Seguradora e Zurich já estejam avançadas no segmento e lançando seus produtos.

“São seguradoras que estão se iniciando mas, o que temos observado, é que há um crescimento entre as empresas de atuar com esse produto. Ainda não há um histórico de sinistralidade de eventos, mas as taxas devem diluir e fazer a procura aumentar”, diz Albuquerque, a gerente da Willis.

Ela ressalta, porém, que o Brasil deveria preparar sua legislação para algo “mais relacionado à transações digitais”.

“Não há um direcionamento sobre o que fazer em casos como esse e, apesar de o seguro oferecer a cobertura, há a necessidade de as empresas saberem o que fazer. Só assim a legislação do setor conseguirá acompanhar as expectativas do mercado”, concluiu.

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