Pirataria e falsificação colocam setor odontológico em alerta

Dos mais de 2 milhões de implantes dentários feitos no Brasil, 30% são realizados com produtos sem procedência

Os dados são alarmantes. Segundo levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos e Odontológicos (ABIMO), dos mais de 2 milhões de implantes dentários feitos no Brasil, 30% são realizados com produtos sem procedência. O volume de peças e componentes irregulares apreendidos pela Polícia Federal sem registro na ANVISA, no âmbito da Operação Fake, que combate à pirataria e falsificação no setor odontológico, chega a 350 mil.

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A bola da vez são os instrumentos endodônticos, sobretudo as limas e brocas. O maior importador e líder no mercado de endodontia no Brasil, a Dentsply Sirona viu disparar, nos últimos meses, o número de registros e reclamações junto ao SAC por suspeitas de falsificação ou problema decorrente de uso de lima pirateada.

“Não se trata de um fato totalmente novo, pois pirataria sempre existiu nos instrumentos para endodontia. Contudo, é perceptível o aumento nos índices de registros por suspeita de falsificação, o que nos motivou a criar uma campanha de conscientização que tem como objetivo estimular os profissionais a comprar somente produtos originais em dentais cadastradas”, afirma Fabiana Nolasco, Coordenadora de Produtos de Endodontia da Dentsply Sirona.

“É fundamental que o mercado fique atento para diferenciar produtos originais de falsificados e somente comprar os materiais em dentais de confiança. Além claro, de desconfiar de preços muito abaixo do que o mercado pratica, principalmente no canal digital”, complementa Natlhalie Rodrigues, Coordenadora de Produto VDW, marca centenária que atua no Brasil sob gestão da Dentsply Sirona.

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Esse cenário coloca todo o setor em alerta, principalmente a área acadêmica, responsável por formar e qualificar os profissionais do futuro. No curso de Odontologia da Universidade São Francisco, no interior de São Paulo, incorporou-se à grade curricular, desde o início deste ano, uma aula com foco justamente em ajudar o estudante a identificar um instrumento falsificado ou de baixa qualidade. “Notamos um volume acima do normal de produtos mais frágeis, que impôem riscos à intervenção. Isso nos motivou a criar uma aula que orienta os alunos a ficarem atento, desde a visualização do informativo no encarte até uma análise do próprio instrumento”, ressalta Miguel Haddad Filho, presidente da Câmara Técnica de Endodontia do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP) e Coordenador do Curso de Odontologia da Universidade São Francisco.

O assunto entrou definitivamente na pauta, uma vez que a Comissão Técnica de Endodontia, liderada por Haddad, em parceria com a APCD, estuda como disseminar essa preocupação e, acima de tudo, um conteúdo orientativo para outras universidades e, sobretudo, aos cirurgiões-dentistas.

Saúde dos pacientes em risco

A pirataria afeta toda a cadeia odontológica, do fabricante ao distribuidor e ao profissional. E coloca em risco o sucesso do procedimento e, consequentemente, a saúde do paciente.

De acordo com o Especialista, Mestre e Doutor em Endodontia pela Faculdade de Odontologia de Piracicaba (Unicamp), Carlos Bueno, materiais falsificados, pirateados ou produzidos sem padrão de qualidade e aprovação na ANVISA podem provocar diversos danos e infecções bucais, colocando a vida dos pacientes em risco. “São inúmeros os riscos, desde o insucesso do procedimento, que será observado somente no longo prazo, no caso de uma limpeza ineficiente, por exemplo, até uma fissura ou infecção”, alerta Bueno.

O Prof. Associado da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (USP), Manoel Machado, ressalta que os instrumentos representam um papel fundamental na taxa de sucesso de um procedimento. “A eficácia do tratamento e, consequentemente, a saúde bucal do paciente estão vinculadas diretamente às propriedades físico-químicas e desenho do instrumento. O material pirateado submete o profissional a inconvenientes ao longo do procedimento e pode levar a uma complicação de toda terapia Endodontia, gerando circunstâncias indesejáveis tanto ao profissional quanto ao paciente”, complementa o professor Machado.

O presidente da Sociedade Brasileira de Endodontia, professor Marco Húngaro, vai além e sugere que se faça um trabalho coordenado em todos os níveis para evitar que produtos não regulamentados ou piratesados cheguem até os consultórios. “Acho que tem que se trabalhar de forma mais intensa em nível governamental e com uma maior rigorosidade no controle de entrada de materiais”, afirma.

Saber onde comprar minimiza riscos

Nada é tão valioso quanto a reputação médica e saúde dos pacientes. Portanto, é fundamental que os profissionais fiquem atentos para diferenciar produtos originais de falsificados. E, para isso, adquirir produtos somente nas melhores dentais minimiza riscos de comprar produtos pirateados.

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