Com queda da Selic para 3,75%, veja o que fazer com os seus investimentos

Com a pandemia do coronavírus surpreendendo o mundo, o Banco Central precisou cortar a taxa de juros. A vida do investidor está cada vez mais difícil, mas há oportunidades

Era para os cortes da Selic terem acabado, mas com a pandemia do coronavírus surpreendendo o mundo, o Banco Central precisou agir novamente. Ontem (18), cortou a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual, para 3,75% ao ano, novamente o menor patamar da história. Se o cenário já estava difícil para o investidor encontrar bons retornos na renda fixa, agora ficou ainda pior.

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Essa é a forma que o BC tem de incentivar que empresas tenham acesso a crédito a juros mais baixos e possam se capitalizar em meio à crise. A autoridade monetária acompanhou o movimento de corte de juros do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, e de outros bancos centrais ao redor do mundo. É um jeito de acalmar os ânimos das empresas e tentar fazer a economia girar, mas o pequeno investidor sofre com a queda de juros.

Nesse cenário, resta seguir em busca de alternativas de maior risco para ter retornos melhores. Mas é difícil dar esse conselho para quem nunca investiu em renda variável ou acabou de comprar ações e já se depara com a bolsa acionando o seu botão de pânico dia sim, dia não. Em oito pregões, a bolsa acionou seis vezes o “circuit breaker”, quando as negociações são suspensas para tentar acalmar os ânimos dos investidores no momento que as ações despencam demais.

Pânico no mercado: o lado emocional das perdas na bolsa

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A pandemia do coronavírus está apavorando o mercado financeiro e reduzindo as expectativas de alta das ações no mínimo no curto prazo. O Ibovespa, principal índice de referência da bolsa, que chegou a bater o recorde de quase 120 mil pontos em janeiro deste ano, despencou para abaixo de 70 mil pontos. Na visão de analistas, deve demorar pelo menos quatro meses para que o principal índice da bolsa brasileira volte ao seu patamar mais alto, visto em janeiro.

As incertezas em relação ao futuro da economia também estão mexendo com os preços dos títulos do Tesouro Direto, que estão mais voláteis do que nunca, a ponto de o Tesouro suspender as negociações nos dias de forte queda do Ibovespa. O fechamento seria para “proteger” os próprios investidores de negociar com valores distorcidos.

Como observa Hudson Bessa, professor e especialista em fundos de investimento e colunista do Valor Investe , a falta de previsibilidade costuma ser o pior companheiro de viagem para quem pretende fazer investimentos de médio e longo prazos. Ele recomenda parar de olhar o saldo de investimentos para evitar o sofrimento de vê-lo reduzir a cada dia.

“É um momento complicadíssimo para os investimentos. Para quem já investe em renda variável, meu conselho é não entrar em pânico e querer voltar correndo para a renda fixa. Não faça nada”, diz Luis Bento, analista da Rio Bravo.

Ele diz que, para diversificar as aplicações financeiras, quem tem um dinheiro sobrando pode considerar investir em novas classes de fundos de investimento, como fundos de ações que investem no exterior ou fundos quantitativos, que usam dados históricos para prever o futuro, usando inteligência artificial. Esses fundos tendem a ter melhor desempenho nos momentos de alta tensão. Fundos imobiliários também seguem como uma boa alternativa para a diversificação, pois as perspectivas seguem sendo de recuperação para o mercado imobiliário só que no longo prazo.

Outra opção é aproveitar o momento de baixa nos preços na bolsa para comprar mais ações, pensando no longo prazo, quando a tempestade passar. Só que para isso, é preciso ter muito sangue frio, porque a bolsa deve seguir muito volátil enquanto o mundo tiver poucas respostas sobre o avanço do coronavírus. Uma forma menos assustadora de comprar ações na bolsa agora é por meios dos ETFs, espécie de fundos de investimentos que espelham índices, como o Ibovespa.

“Para o investidor que estava com liquidez e não fez investimento ainda, há várias oportunidades agora. Várias empresas de muito boa qualidade caíram muito e estão a preços muito atraentes”, diz Adriano Cantreva, sócio da Portofino Investimentos. Ele recomenda comprar papéis que não dependam de ativos globais, como dos setores de varejo e financeiro. Vale lembrar que todas as mudanças na carteira de investimentos devem ser feitas com estratégia e cautela.

Renda fixa

Na renda fixa, especialistas recomendam manter uma reserva de emergência e um dinheiro para ter à disposição para aproveitar oportunidades de investimentos que surgirem. Para isso, títulos atrelados à taxa básica de juros são a melhor opção, mesmo com a Selic baixa e já dando retorno real negativo, ou seja, abaixo da inflação. Eles garantem segurança e liquidez ao investidor a qualquer momento. “Infelizmente a taxa real caiu muito e a alternativa acaba sendo o Tesouro Selic, mesmo que perca para a inflação. Não tem muito para onde correr”, diz Cantreva.

Fundos DI com taxa zero em plataformas de investimento como a Órama, Pi, BTG Digital e Rico também são uma boa opção para a reserva de emergência.

Fora os títulos atrelados à Selic, as oportunidades na renda fixa estão pequenas. “Renda fixa é porto seguro, mas não é mais para construir patrimônio. Nesse momento, está tudo bagunçado demais para pensar em montar posição no longo prazo em renda fixa. É possível que o investidor não consiga um prêmio grande o suficiente para compensar o risco da volatilidade”, diz André Massaro, consultor financeiro.

Bento, da Rio Bravo, também recomenda cuidado com os títulos atrelados à inflação de longo prazo, apesar deles oferecerem taxas mais altas. “A renda fixa também está bastante estressada e pode assustar o investidor pessoa física que acha que a renda fixa é sempre fixa. Se resgatar antes do prazo, o investidor pode perder dinheiro”, diz.

Não é hora de investir em títulos prefixados, segundo os especialistas, já que ninguém tem muita certeza do que vai acontecer com a taxa básica de juros, pelo menos num prazo mais longo. Se houver uma reviravolta no cenário e a Selic subir, esses títulos podem perder valor.

Outra opção são títulos pós-fixados de bancos ou empresas de “pior qualidade”, que têm mais risco que o Tesouro Direto. Podem ser LCIs e LCAs que pagam mais de 80% do CDI ou CDBs que pagam mais de 100% do CDI. Fundos de crédito privado também são alternativas, mas o risco de crédito deles também é mais alto.

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