Polarização prejudica desenvolvimento do Brasil, avalia César Saut

Vice-Presidente da Icatu Seguros participou de evento virtual na última sexta-feira (13)

A VI Jornada de Seguros e Benefícios do Clube de Seguros de Vida e Benefícios do Rio Grande do Sul (CVG RS) terminou, na última sexta (13), em alto estilo. O Vice-Presidente da Icatu Seguros e Presidente da Rio Grande Seguros e Previdência, César Saut, foi o palestrante da noite. O executivo fez uma retrospectiva sobre outras crises e abordou os aspectos de transformação desencadeados pela pandemia de coronavírus. Além disso, perspectivas para o próximo ano também foram apresentadas na palestra “Retrospectiva sobre 2020 e perspectivas para 2021: O quê importa em vida?”.

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“Foram dias maravilhosos. Passaram muitas pessoas do cenário nacional de seguros por aqui e o César Saut é uma das pessoas mais envolvidas com o CVG RS. Apadrinhou a entidade”, cumprimentou a presidente do Clube, Andréia Araújo.

Plano de Contingência diante da pandemia de Covid-19

Saut lembra quando foi preciso acionar o Plano de Contingência para continuidade das atividades das companhias em que atua. “Era uma sexta-feira 13. Comunicamos 2 mil pessoas que elas iriam passar para um modelo de trabalho em home office. O Plano de Contingência havia sido construído para um incêndio ou uma inundação. Não para uma pandemia. Naquele momento, observávamos as altas expectativas de mortes e também os números da economia e do desemprego”, lembrou.

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O executivo citou a Gripe Espanhola, que desencadeou em 50 milhões de mortes entre os anos de 1918 e 1920. Naquela época, a população mundial era de 1,3 bilhão de pessoas. Outro fato histórico mencionado pelo palestrante foi a 2ª Guerra Mundial, que vitimou 85 milhões de pessoas entre 1939 a 1945 em um período que o mundo tinha 1,6 bilhão de população. “Durante a Crise Econômica de 2008 aproximadamente 250 milhões de pessoas estavam conectadas à internet. Agora, com a crise do coronavírus, este número saltou para 4,57 bilhões de pessoas. A população mundial, hoje em torno de 7,9 bilhões de seres humanos, viu mais de 1,2 milhão de mortes em 2020 por conta da pandemia”, resumiu. “A evolução do fator dominante da humanidade também nos traz um aprendizado em geral. Antes, a dominância vinha pela força física e sua imposição. Em um segundo momento, é possível dominar o mundo pelo capital, pela capacidade de comprar. E agora a gente viu uma terceira onda, que é absolutamente irreversível, a gente entra na onda da informação, conexão e capacidade de utilização da dados é o que faz a força se estabelecer ou o capital ser potencializado”, justificou.

César Saut é Vice-Presidente e acionista da Icatu Seguros, além de Presidente da Rio Grande Seguros e Previdência / Foto: William Anthony/JRS
César Saut é Vice-Presidente e acionista da Icatu Seguros, além de Presidente da Rio Grande Seguros e Previdência / Foto: William Anthony/JRS

A Era dos Dados, na visão de César Saut, ficou evidenciada com a eleição do atual presidente do Brasil. “Foi eleito sem capacidade econômica. Não teve uma campanha eficiente, mas sim uma mobilização das redes sociais que o fizeram existir. É um fenômeno mundial e relativamente irreversível, onde a informação e a conexão dominam. Imagine há 20 anos atrás ou quando houve até mesmo a Crise Econômica de 2008 se tivéssemos algo como a pandemia? Nem a íntegra dos funcionários e clientes teria acesso à web para conseguir trabalhar presencialmente”, comparou. “Pagamos 200, 300 indenizações por dia no Sul. Não mudou-se absolutamente nada. Não houve necessidade de atrasar ou mudar nada por não se ter a presença física e estarmos fazendo tudo pela internet”, acrescenta. “Imagine se este vírus não tivesse afetado as pessoas, mas sim as comunicações? Aí sim teríamos o pior dos mundos, com pessoas sem poder acessar suas contas correntes, por exemplo”, demonstrou.

Polarização prejudica desenvolvimento do Brasil

“Apesar desse lado positivo fomos muito prejudicados pela polarização, que alimenta a ignorância. A discussão entre Economia ou Vida foi uma das menos inteligentes que se poderia ter levantado. Esquerda ou Direita. Remédio A ou Remédio B. Vacina Obrigatória ou Sem Vacina? Sempre que há uma discussão a ignorância reside em ambos os extremos. A tendência dos entendimentos é discutir meios e formas para conseguir acolher o maior número de pessoas. Aqui no Brasil vimos em diversos níveis, municípios, estados e até em nível federal as decisões sendo tomadas de forma polarizada e entramos em discussões absolutamente improdutivas para o desenvolvimento do País. Isso tem um custo”, disse César Saut ao lembrar que o coronavírus deixou alguns aprendizados. “A Covid-19 mostrou efetivamente que todos são iguais e que algumas discussões são inócuas, incompetentes e não poderiam se estabelecer. Todos foram para casa, independente de questão social, econômica, sexual, religiosa, entre outras. Qualquer estereótipo que se queira traçar sobre alguém não faz nenhum sentido”, compactou.

“Mercado ocupado não é mercado disponível”

9 em cada 10 pessoas no Brasil não possuem algum tipo de seguro de vida. Diante desse número, o especialista afirma que o mercado precisa identificar quem é o seu público-alvo. “Todos foram afetados, mas os executivos e funcionários de seguradoras e corretoras focam em determinado nicho ou segmento sem compreender que mercado ocupado não é um mercado disponível, que é absolutamente amplo e promissor”, emendou Saut ao lembrar que a pandemia gerou sensação de finitude e fragilidade.

Desemprego preocupa

“O mundo pensou praticamente nas mesmas questões e temos a questão da Transformação Digital. No Brasil temos 10 robôs para cada 10 mil trabalhadores. Em nível mundial essa média é de 74 robôs. Até 2021, a expectativa é que a automação substitua 4 milhões de empregos. Quem serão os trabalhadores que ocuparão as vagas do futuro?”, questionou ao apresentar números da Consultoria Gartner. “Essa ameaça é complicadíssima em um país com 14% da população economicamente ativa desempregada. Segundo a FGV, 69,39% das pessoas tiveram perda na renda mensal por conta da pandemia. A renda do brasileiro caiu de R$ 1.118 para R$ 893, cerca de 20% menos”, embasou.

“Estamos em uma situação que uma luz laranja está acessa. O mutualismo, como os programas assistenciais, não poderão deixar de existir em um curto espaço de tempo. Discussões sobre Bolsa Família ou Auxílio Emergencial estão relacionadas ao desemprego, que não tende a diminuir e isso não é um problema exclusivo do Brasil. A Transformação Digital está sim eliminando empregos e este é um problema inerente à educação. Também não estamos gerando empregos suficientes para as gerações que estão vindo”, afirmou o Vice-Presidente da Icatu Seguros em evidenciar que Bolsa Família e Auxílio Emergencial custam R$ 285 bilhões de reais para atender 117 milhões de brasileiros, enquanto que, apenas a esfera pública federal consome R$ 400 bilhões para atender 1,6 milhão de brasileiros que estão ativos ou inativos.

“É preciso sim se preocupar com o nível de desemprego desse país e com a necessidade de reformas. A máquina pública precisa custar menos. Se a gente não custar menos não haverá dinheiro para investir em educação. E aí vira um ciclo vicioso. Sem educação você fica sem capacidade de gerar vagas de trabalho e absorver essas gerações que de uma forma ou de outra estão vindo. Leio um cenário bastante preocupante. Se a gente continuar polarizado e não fizer o que o Brasil precisa. Se a gente ficar discutindo coisas que não são importantes para o desenvolvimento de uma sociedade e não discutirmos eficiência na máquina pública e sem melhoria da educação estaremos bastante comprometidos com o país do amanhã de uma maneira geral”, projetou o também presidente da Rio Grande Seguros e Previdência.

Reformas e Educação são pontos-chave

César Saut considera as reformas e a educação como pontos fundamentais para uma guinada nos resultados do Brasil. “Vivemos em um mundo dinâmico, que não é mais estático. Os ciclos estão cada vez mais curtos. Um indivíduo hoje tem de ter capacidade constante de aprender, desaprender e reaprender. O que se sabe é transitório e para um determinado tempo, que é muito curto. A humildade virou fator preponderante para o desenvolvimento do individuo e as habilidades são essencialmente humanas. Robôs não sabem lidar com sentimentos, não têm empatia para atender. Já existem trabalhos nesse sentido. Mas hoje, de uma maneira geral, é possível identificar quando o atendimento de um robô. O robô tem de estar a serviço do ser e não ser protagonista do processo”, complementou.

O palestrante do último encontro promovido pela VI Jornada de Seguros e Benefícios do CVG RS também mostrou números projetados pela economista da Icatu Seguros, Victória Werneck. De acordo com a expert, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deve cair 4,9% em 2020, mas a expansão no próximo ano deve ser de 4,5%. “É uma perspectiva positiva em um ano quase que catastrófico. A Selic, que já foi de 14%, hoje está em 2%. Para 2021, a projeção é de que fique em 3,2%”, comentou Saut.

“Outro dado preocupa. O mundo terá uma média de crescimento de 5,4% em 2021. Isso significa que o crescimento nos países desenvolvidos deve ser de 4,6% e 5,9% em países emergentes, segundo o FMI. O Brasil deve crescer, de novo, menos que o mundo. Todos nós deveríamos nos preocupar sim. Volto ao tema educação. Por que crescemos menos que o mundo? Por que há 200 anos somos os maiores produtores de café e a Alemanha o maior exportador?”, exemplificou. “Há uma clara mensagem com isso: é que precisamos de mais eficiência em tudo. Ser mais humilde para reaprender o que a gente faz e não vai bem”, diagnosticou.

Transição demográfica e econômica

Outro ponto abordado pelo executivo foi a transição demográfica do Brasil. Na opinião de Saut, “a mais rápida de todas”. “Em 1910, a expectativa de vida era de aproximadamente 30 anos. Passou para 50 anos em 1950 e, agora, passa de 80 anos, dependendo da região”, apontou. “Isso significa que também teremos uma transição econômica muito alta. Temos tanto potencial e capacidades. Este País ainda vai ser muito grande. Tem mercado para absolutamente tudo. Todos que operarem com propósito vão resistir ao tempo e vão crescer. Por isso é importante pensar o que vamos fazer com as experiências da pandemia”, sinalizou.

Números da Icatu Seguros:

Investimentos em Tecnologia da Informação:

2019: R$ 152,5 milhões.
2020: R$ 187,1 milhão (R$ 139,7 milhão até setembro ).

Resultado Financeiro:

2018: R$ 157,7 milhões.
2019: R$ 216,9 milhões.
2020: R$ 30 milhões.

Lucro:

2018: R$ 271,9 milhões.
2019: R$ 319,8 milhões.
2020: R$ 300 milhões (R$ 240 milhões até setembro).

“Olha a capacidade de reaprender e fazer absolutamente tudo ao se reinventar. Nossa solidez vem do lucro, do resultado e dos investimentos que se faz. Investimos R$ 730 milhões em aquisições e não diminuímos isso. Outra grande aquisição foi realizada há pouco, em meio à pandemia, e gerará efeito no começo do ano. Essa resiliência é, de uma forma ou de outra, a característica da nossa empresa, do mercado, do nosso povo e do Brasil. Essa resiliência é o que me faz crer que a gente vai crescer. O melhor país para se estar neste momento é esse. Estamos tão atrasados que vamos crescer mais do que os outros. Transição demográfica mais violenta que o mundo já vivenciou”, dissertou César Saut.

“É preciso se reinventar o tempo inteiro. Não é imaginar que produto e a solução, mas sim a postura da equipe, da gestão, da empresa, produtos e do próprio negócio em si. Em via de regra, assim como Brasil, temos de conseguir entregar qualidade e eficiência em praticamente tudo. A gente precisa entregar mais com menos”, explicou.

Apesar do ano duro, o palestrante demonstra o orgulho pela equipe da Icatu Seguros. “Temos de nos orgulhar daqueles que estão conosco nessa empreitada de construir uma empresa maior, melhor e cada vez mais forte”, disse ao enfatizar que é preciso saber lidar com diversas questões como a digitalização, a inovação, como lidar com os grupos de risco, como administrar a integração do home office com o trabalho híbrido e outros temas, como a gestão de espaços físicos em um modelo mais racional.

“Tem sido um ano muito duro, mas temos de acreditar em pessoas. Temos de acreditar no mercado de seguros e sua potencialidade, além desse país, independente do cenário que se tenha. Isso possibilitará um futuro melhor e muito maior que foi o passado dessa nação”, finalizou César Saut ao citar parcerias e a necessidade de mudar a forma de respeitar o desenvolvimento humano, além da valorização do capital humano, daqueles profissionais que apresentam-se como verdadeiros “donos do negócio”.

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