Crise dos apps de transporte levou à migração para o táxi em 2021, revela balanço

Na contramão dos concorrentes, setor teve crescimento de 37% na procura; Expectativa é de que o avanço se consolide neste ano

O ano de 2021 marcou a retomada do protagonismo dos táxis como meio de mobilidade e, para 2022, esta tendência deve se consolidar. Segundo dados do app Vá de Táxi, a demanda pelo meio de transporte cresceu 37% no ano passado. Entre os principais motivos está a crise dos apps de motoristas particulares, com o crescente número de cancelamentos, e a retomada do turismo. Ao todo, o número de usuários da Vá de Táxi cresceu 64%.

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A CEO da empresa, Glória Miranda, afirma que o arrefecimento da pandemia contribuiu para a melhora no cenário. “A vacinação diminuiu bastante o percentual de contaminação e de óbitos. Isso encorajou as pessoas a fazerem viagens de lazer e de negócios. Além disso, 2021 marcou a volta de muitos brasileiros ao trabalho presencial. Consequentemente, o segmento de táxis foi beneficiado”, explica.

A expectativa é de que os taxistas sejam ainda mais demandados durante 2022. Porém, ela pondera que o crescimento esperado deve se confirmar a partir do final do primeiro trimestre por conta do aumento dos casos de contaminação por coronavírus, em função da variante ômicron.

Mas o que realmente tem feito a diferença para os táxis é a crise que afeta os aplicativos de transportes. O ano começou com a notícia de que o Procon do Rio de Janeiro multou dois aplicativos conhecidos por causa da má qualidade dos serviços prestados. Usuários reclamam do aumento do tempo de espera e de atitudes como a desistência da viagem por parte de motoristas que resolvem pegar outra corrida considerada mais vantajosa. Em alguns relatos, passageiros tiveram de arcar com taxas de desistência, embora ela tenha partido do motorista.

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“Este foi um problema recorrente em 2021 e fez os usuários de Apps retornarem a utilizar os táxis”, lembra Glória.

Mais taxistas na praça

Os cancelamentos são provocados por conta dos altos custos que os motoristas dos aplicativos precisam arcar, o que os fazem priorizar corridas maiores. “De 30% a 40% do que eu ganhava com as corridas ficava para os aplicativos que eu prestava serviço. Quando coloquei na ponta do lápis, vi que não valia a pena, pois ainda precisava pagar o seguro e a manutenção do veículo, sem contar com o desgaste do automóvel, que provocava sua desvalorização”, afirma Luciano Rosa, ex-motorista de aplicativos.

Ele observa que o cenário se tornou ainda mais desafiador com o aumento do preço da gasolina e inflação alta. “Os preços se tornaram proibitivos. Além disso, muitas vezes, peguei passageiros e levei até destinos muito longe e não consegui encontrar ninguém para levar na viagem de volta. Nestes casos, é pagar para trabalhar”, conta ao explicar o motivo de muitos colegas escolherem viagens.

O alto custo pode ser, ainda, um motivo que levou os próprios motoristas a migrarem de serviço. Outro dado revelado pelo balanço da Vá de Táxi diz respeito ao número de taxistas, que cresceu 9% em 2021.

Os aplicativos de mobilidade chegaram ao Brasil por volta de 2014 e conquistaram uma parcela importante dos usuários que, até então, utilizavam o serviço de táxi para se locomover devido ao custo menor e a facilidade de chamar e pagar com o simples manuseio do smartphone. Desde então, os táxis, que exibiam custos mais elevados por serem obrigados a cumprir a legislação, estavam perdendo espaço.

Quando criados, os aplicativos contavam com a vantagem de não terem de arcar com custos trabalhistas. O argumento era não existir vínculo empregatício. Os magistrados concordavam, mas esse entendimento está mudando em consonância com decisões já tomadas em países europeus como Inglaterra e Espanha.

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