Reputação ligada a práticas ESG já determina até 40% do valor de mercado de uma empresa, diz professor da Fundação Dom Cabral

Tema é debatido no painel “ESG – Impacto no Valor de Mercado das Empresas”, no Congresso Aço Brasil

Até 40% do valor de mercado de uma grande empresa, hoje, é determinado por sua reputação, e isso significa essencialmente ter processos produtivos sustentáveis, empatia e transparência no relacionamento com clientes e colaboradores, além de incorporar a diversidade e a preocupação social como política.

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O dado foi apresentado pelo professor de Finanças & ESG da Fundação Dom Cabral, Carlos Braga, no painel “ESG – Impacto no Valor de Mercado das Empresas”, na última quarta-feira, 24, no Congresso Aço Brasil, em São Paulo. O debate levantou a importância de setores como a siderurgia nesse processo de transição para uma nova economia, em que uma maior preocupação com o planeta e com as pessoas é a nova unidade de valor.

Braga destacou como o próprio mercado já cobra das empresas esse posicionamento. Investimentos de longo prazo levam cada vez mais em conta, por exemplo, os riscos climáticos. “É por onde o mercado financeiro quer que sigamos. E a indústria siderúrgica, por sua importância e tamanho, têm todas as condições de puxar essa mudança globalmente, especialmente a partir das empresas brasileiras”.

De fato, a siderurgia está no coração da economia global e no centro da sociedade moderna e sustentável. É um fator essencial do desenvolvimento. Embora esse papel seja bastante relevante, o aço ocupa a posição de maior emissor comparando-se a outros setores industriais. No mundo, o setor contribui com 7% das emissões de CO2. Nesse contexto, as empresas correm contra o tempo para alcançar a meta de reduzi-las em pelo menos 50% até 2050.

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Mediador do painel, o presidente da Aperam South America, Frederico Ayres Lima, falou sobre o potencial que os fabricantes brasileiros de aço têm de liderar a descarbonização global do setor. Ele citou o exemplo da própria Aperam, que obteve este ano o balanço carbono neutro nos escopos 1 e 2. Foi discutido no painel que são necessárias mais de uma iniciativa para atingir esse feito. Ele explica que a Aperam atua em quatro frentes principais: uso do carvão vegetal, que é uma fonte de energia renovável; redução de emissões; remoções de CO2, com as florestas plantadas; e a crescente utilização de sucata como matéria-prima, em fornos elétricos.

Com florestas plantadas do grupo no Vale do Jequitinhonha (MG), a empresa é a única fabricante de aços especiais que utiliza 100% de carvão vegetal em seus alto-fornos, localizados em Timóteo (MG), que produzem o Aço Verde Aperam. Além de não utilizar combustível fóssil na usina, as florestas cultivadas funcionam como verdadeiros sumidouros de carbono, neutralizando as emissões do processo produtivo.

Ayres Lima disse que o Brasil tem uma oportunidade única de liderar esse processo. “O país tem uma matriz energética mais limpa que a média mundial. Nós temos o que costumo chamar de jabuticaba, que é o carvão vegetal, um biorredutor renovável com todas as condições de produção em larga escala, o que a Europa e a Ásia não têm. E podemos aumentar em muito a produção de aço a partir de sucata, usando cada vez menos o minério de ferro”.

O presidente da Aperam lembrou que os próprios clientes da empresa já usam os critérios ESG como fator de decisão de compra, e que bancos já oferecem melhores condições de crédito para companhias que têm metas e ações claras nessa área. “O mundo mudou, a sociedade mudou, e nós, empresas, também precisamos mudar. É gratificante ver que esse movimento está ocorrendo também no nosso setor. Mas acho importante dizer que essa é uma questão importante não porque é bom financeiramente ser sustentável, diverso e transparente. E sim porque precisamos falar das próximas gerações, do mundo que nós vamos viver e deixar para nossos filhos. Isso transcende o valor das empresas”, disse ele.

O professor Carlos Braga, que também é consultor, acrescenta que a mudança geracional é a principal catalisadora desse processo. “Cerca de 75% da força de trabalho em 2030 será formada por jovens de 20 a 30 anos. Esses serão também os consumidores e investidores do futuro próximo”. Braga acrescenta que, se as metas ambientais globais não forem levadas a sério, o PIB global pode cair até 15% e diversas áreas ficarem inabitáveis até 2050.

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