50 anos de carreira de Carlos Josias: Histórias de gratidão
Confira considerações do advogado e sócio do escritório CJosias & Ferrer
Cinco décadas de trajetória certamente carregam muita competência e, também, gratidão aos que fizeram parte desta construção. Através de histórias marcantes e repletas de emoção que o advogado Carlos Josias Menna de Oliveira encontrou de reverenciar a passagem dos seus 50 anos de carreira no mercado de seguros.
“Ao longo da minha trajetória, que neste 2021 alcança cinquenta anos no setor de seguros, vivi situações inusitadas e conheci personagens inimagináveis. De fato a vida é mais intensa e espetacular que a ficção”, destaca.
O sócio da C Josias & Ferrer Advogados Associados, empresa que conta com 38 anos, relembra fatos marcantes com executivos que estão na memória da instituição de seguros gaúcha e brasileira. Os personagens desta semana são o ex-presidente do Sindicato das Seguradoras do Rio Grande do Sul (Sindseg RS), Júlio Cesar Rosa, e Luis Carlos da Silva, o Caburé. Confira na íntegra:
O grande Júlio Cesar Rosa
Muitos me ajudaram nesta trajetória. Alguns são especiais. Um destes especiais é Júlio Cesar Rosa. Comecei no ramo de seguros em 1971 com 15 anos. 3 anos mais tarde Julio Cesar Rosa também iniciava, na mesma cia, Assicurazioni Generali di Trieste e Venezia. Alcei vôo da Generali, em 1974, e passei pelas corretoras VVD – da Volkswagen e Porto, Nazareth ISA – aqui vinculada ao Grupo Ipiranga. Retornei em 1980 e ele continuava lá – aliás foi ele quem me repatriou, como Gerente Comercial e me colocou na função de Gerente de Sinistro. Em 1981 ele saiu para outra grande seguradora, a Cia Paulista de Seguros, hoje Liberty.
Estive ainda na Porto Seguro e Gente Seguros. Me formei em 1982 e a minha primeira cliente foi exatamente esta, a Paulista, a qual ele dirigia e meu primeiro escritório foi na sala de reuniões da empresa ao lado da dele. Advoguei por todas pelas quais ele passou e em 2010 ele assume a presidência do Sindicato das Seguradoras do Rio Grande do Sul. E, claro, lá estava eu.
Quando o escritório completou seus 21 anos ele foi um dos homenageados. Disse-lhe uma frase do meu filho caçula quando era pequeno e ainda com seu português de aprendiz: ‘pai, a gente “demos” certo!’. O escritório hoje conta com 38 anos de existência, Julio Cesar Rosa é Padrinho meu e da CJosias e Ferrer. Um amigo de toda a vida.
A magia Caburé
Foram muitos nomes, muitos, mas talvez nenhum tão espetacular como Luis Carlos da Silva, o Caburé, cuja empresa conta 58 anos de existência, e virou lenda no mercado segurador gaúcho. Conheci Caburé profissionalmente quando era menino, em 1970, e começava a vida trabalhando com seu irmão, Cláudio Fernando da Silva, na então Assicurazioni Generali di Trieste e Venezia, hoje Generali do Brasil. Antes disto já sabia de suas histórias que corriam pelo Arraial da Baroneza, onde me criei e onde meu pai e mãe vizinhavam com o Velho Babá, nada mais nada menos que o ´pai da criança`, e por onde ele ‘aprontava’ do inicio ao fim do dia.
De 1970 para cá sempre andamos juntos como amigos ainda que na época houvesse diferença de idade a considerar, ele nunca tornou isto relevante, mas da minha formatura em 1982 para cá os escritórios nunca mais se separaram considerando aquilo que sei fazer: advogar.
Caburé é uma personalidade que te empresta uma importância que nem sempre se tem e daí sua inteligência aflora. Ao exagerar convictamente nas tuas qualidades ele faz o indivíduo crescer e se capacitar a fazer coisas que normalmente não faria: doping puro, adrenalina na essência.
Muitas das vitórias e conquistas – se não todas – obtidas em conjunto estão debitadas nesta conta. Certa vez num almoço do Sindseg RS, o presidente Júlio César Rosa fez uma lista de diversas frases ditas por Steve Jobs em sua recente trajetória e depois comparou com frases feitas por Caburé há 40 anos. Um visionário. Entre tantas pérolas uma delas era a resposta para quando se perguntava como ele ia: “começando, eu estou sempre começando” – era o que respondia.
É do Júlio a grande homenagem em frase para ele: “todos querem ser como ele, mas só ele consegue ser o que é”. Não tenho as contas de quantos casos daria para contar nestes anos todos de convivência, mas me atrevo a lembrar uma passagem.
Caburé sempre teve diversos estipulantes com diretorias compostas por muitas pessoas. A forma que tinha para reunir em cada um deles todos ao mesmo tempo e se confraternizarem, numa transparência que ele inventou, era reunirem-se vez que outra num restaurante, com parte dos agenciadores, para degustarem um bom churrasco e se embrenhar por parte da tarde entre acaloradas conversas, que variavam do trabalho diário, que era a que mais lhe agradava, a todos os assuntos possíveis. Este pequeno segredo, que parece fácil de imitar, mas que não é porque exige a presença dele para dar certo, foi a base da manutenção de sua clientela em que misturava amizade/celebração e trabalho/talento.
Certa vez não tendo data Caburé marcou três almoços ao mesmo tempo com três estipulantes diferentes e em três lugares diversos, que ficaram lotados, diga-se de passagem. Para se fazer presente nos três lugares – sem que nenhum deles soubessem do esquema, Caburé escolheu restaurantes próximos e estrategicamente estruturados para ´esconder` da vitrine da calçada a visão interior.
E escolheu todos na mesma rua, Riachuelo. A Churrasquita, que mantinha um salão grande nos fundos, o Devon, quase em frente um pouco mais à esquerda e do outro lado da rua, e que também mantinha um local bem afastado da entrada e o Hereford, uma quadra para cima, com as mesmas condições e um pouco mais distante.
Pois Caburé se fez presente nos três almoços e seus afastamentos rápidos sequer foram notados. Eu estava num deles, o da Churrasquita, com a incumbência de manter o debate acirrado.
Como ele fazia? Ele deu a fórmula: “Fiz como fazem os equilibristas de pratos, chineses, aqueles que com uma vara colocam um prato na ponta, giram, giram e os pratos ficam ali, rodopiando durante um tempo. Lançava em um lugar um debate acalorado numa roda tipo quem é melhor, Maradona ou Pelé e sempre deixava alguém para incentivar os ânimos da divergência … pronto os pratos passavam a rodar. Ai saia de fininho ia no outro e lá metia outro assunto estrondoso na conversa, Deus existe ou não, pronto, lá ficavam os pratos a mil, girando. Ia para o terceiro encontro e lá mais uma lenha na fogueira, qual o melhor sistema, capitalista ou socialista e lá se iam os pratos girando feito loucos. Neste terceiro eu já sabia, os pratos do primeiro já estão começando a ficar lentos e podem cair … então voltava correndo já com outro assunto em mente = Sofia Loren ou Elizabeth Taylor?”
Gostou tanto da técnica, e ele vivia e sobrevivia, se alimentava de desafios, que fez estas reuniões exaustivamente. Levaram anos para descobrir, porque até a hora de ir embora ele selecionava horários separados, e os grupos na realidade não se conheciam. O conhecido era ele.
Descobriram quando ele quis que descobrissem. Justamente para virar história. Certa vez no aeroporto de Buenos Aires, no Duty Free, ele olhou um óculos experimentou e indagou da balconista: gostou? Ela disse, ficou lindo, perfeito. Ele respondeu, então não quero!
O planejamento estratégico e o plano de qualidade era ele. O Gênio!