Especialistas do setor de seguros analisam especificidades do segmento para um novo tipo de veículo, o carro voador
Éder Oliveira e Peterson Goi apresentam suas considerações sobre o Liberty, o 1º carro voador vendido em concessionária
Quando as pessoas pensam em um futuro moderno e de alta tecnologia, uma das imagens que predomina no imaginário coletivo é a de carros voadores. Muitos considerariam um sonho poder voar em um veículo que até hoje foi construído essencialmente para deslocar-se em uma superfície. Mas como as últimas décadas estão sendo marcadas pela crescente tecnologia, um carro que voe está deixando de ser um projeto para uma época distante e cada vez mais torna-se realidade. Na cidade alemã de Munique está sediada a Pal-V, primeira concessionária para veículos voadores do país. A empresa já iniciou a comercialização do Liberty, fabricado para trafegar nas ruas, mas que diferentemente dos outros automóveis está equipado para voar. Para analisar essa novidade sob a ótica do mercado segurador, o JRS entrevistou o atuário e sócio-fundador da Atuária Brasil, Éder Oliveira e o diretor da Ducon Seguros e presidente do Clube da Bolinha do RS, Peterson Goi.
Para o experiente atuário Éder Oliveira, o tema é instigante sob todos os aspectos, sendo necessário uma análise técnica sobre como as Seguradoras poderão proteger este patrimônio. Éder esclarece que o objetivo principal do seguro de Danos é a proteção do bem patrimonial, por meio de sua reposição parcial ou total, conforme o sinistro se apresentar. “Então começamos pensando sobre qual o valor deste bem? Quais suas particularidades para precificação e como mensurar estes riscos?”, foram seus questionamentos iniciais. O Liberty já começou a ser vendido na Alemanha. De acordo com o especialista, o preço do veículo sugerido na Europa, quando convertido para reais, fica entre R$ 1,6 milhões e R$ 2,65 milhões: “quanto ao seu valor, poderíamos posicioná-lo em um patamar elevado, numa faixa que compreende poucos bens de circulação, mas que não chega a ser uma novidade ao mercado de seguros, pois uma Ferrari é comercializada no Brasil com preços bem superiores ao do carro voador”.
Na avaliação do atuário, o desafio inicial consiste em como precificar o seguro de um carro voador, já que tecnicamente os seguros de Danos necessitam de estatísticas pretéritas robustas para serem precificados. E essas estatísticas são oriundas de uma base de dados que disponibilize várias informações básicas para que o profissional de atuária possa mensurar os riscos e iniciar um processo de taxação: “que começa pelos tipos de sinistros ocorridos em um determinado período de tempo e suas quantidades, os valores desembolsados para repor estes sinistros, as regiões de sua ocorrência e por aí afora, tendo presente que quanto mais dados disponíveis, mais bem precificado será o seguro”.
Sendo assim, qual seria a estatística a ser utilizada para o caso de veículos voadores? E como ainda é inexistente a disponibilidade mínima de uma base de dados, pois simplesmente ela não existe no momento, os atuários das Companhias Seguradoras necessitarão analisar minuciosamente o tema, formando equipes de discussão técnica, contando com o auxílio analítico de seus resseguradores e ainda apresentar muita criatividade para poder fixar taxas experimentais e ajustáveis, com a segurança requerida. “Somente com o passar do tempo e o uso crescente deste bem pela sociedade, o setor de seguros obterá dados estatísticos realistas e com isto estabelecer preços técnicos mais calibrados à realidade dos eventuais sinistros que irão ocorrer”, explica Éder.
Para o atuário a novidade referente aos carros voadores é uma oportunidade e um desafio ao setor de seguros. A questão poderá ser equacionada por uma boa equipe de estudos, que com muito debate deverá achar a melhor solução. Entretanto, de forma muito embrionária, Éder já vislumbra inicialmente algumas certezas para reflexão: “ressalto que os riscos de invalidez e/ou de morte dos passageiros de um carro voador que sofra um sinistro, são bem superiores aos riscos dos mesmos passageiros trafegando em um veículo normal, e por aí já podemos começar a estudar a matéria e seus reflexos”.
Na avaliação do diretor da Ducon Seguros, Peterson Goi, a transição para a cobertura de carros voadores vai representar uma mudança significativa na indústria de seguros. Para ele a tecnologia de veículos que voam está em fase de desenvolvimento e não será amplamente utilizada, mas o mercado de seguros ainda precisa entender e se adaptar para inovar. “Entendo que precisamos considerar fatos ainda não tão claros, como será realizado a avaliação de risco? Quais coberturas serão necessárias para atender a necessidade do cliente? Como iremos precificar?”, pondera o sócio diretor da Ducon.
Peterson destaca que a telemática desempenhará um papel importante na avaliação de riscos e na definição dos prêmios, mas que também é necessário compreender como será a regulamentação governamental: “as apólices de seguro para carros voadores terão que abranger uma variedade de riscos, podendo incluir danos causados por colisões, falhas mecânicas, danos à infraestrutura de aterrissagem, lesões pessoais, entre outros”.
Independente das adaptações que precisarão ser feitas pelo setor de seguros e pelas demais áreas relacionadas ao funcionamento e comercialização do carro voador, a novidade deverá tornar a vida da sociedade mais dinâmica e prazerosa. Para informações complementares sobre o veículo Liberty, clique em https://abre.ai/gTHE.