Protegendo a saúde: medidas essenciais durante e após enchentes
Especialistas criaram um material com perguntas e respostas, juntamente com dicas, abordando os problemas de saúde que podem surgir e oferecendo orientações sobre como proceder após o nível da água baixar
O Rio Grande do Sul está enfrentando uma das mais graves tragédias climáticas do Brasil. As enchentes impressionam pela magnitude dos números divulgados pelas autoridades estaduais. Com início no final de abril, as chuvas já afetaram 2.281.774 pessoas. Mais de 90% dos 497 municípios foram afetados e o estado registra 77.199 pessoas em abrigos e outras 538.164 desalojadas.
Com a temporada de chuvas cada vez mais intensas e enchentes cada vez mais frequentes, as preocupações com a saúde pública crescem. Além dos danos materiais e da desestruturação social, as enchentes trazem consigo uma série de riscos à saúde, decorrentes da contaminação da água, do contato com lama e detritos, e das condições precárias de higiene e saneamento básico.
Orientações dos especialistas
Como explica o supervisor de produtos do DB Molecular, Rodrigo Chitolina, o contato com águas de enchentes pode aumentar significativamente o risco de contrair doenças infecciosas uma vez que bactérias, vírus, protozoários e parasitas presentes nessas águas podem causar uma variedade de doenças incluindo gastroenterites, infecções respiratórias, hepatites, leptospirose e dermatites.
“Além das doenças infecciosas, a contaminação química da água pode causar irritações nas vias respiratórias, nos olhos e na pele. Em casos mais graves, pode resultar em intoxicação aguda ou crônica, afetando órgãos como o fígado e os rins. As enchentes também aumentam o risco de acidentes, como cortes e ferimentos, que, se em contato com água contaminada, podem levar a infecções secundárias”, explica o especialista.
Para auxiliar a população do Rio Grande do Sul e de outros estados que possam enfrentar enchentes, o DB Molecular em parceria com o laboratório Hidrolabor – sob a supervisão do Dr. Gustavo Campana, Diretor médico, desenvolveu um conteúdo com perguntas e respostas, além de dicas abordando os problemas de saúde que podem surgir e orientações sobre como agir após a redução do nível da água, quando as pessoas puderem retornar às suas residências, empresas e comércios, para resgatar o que for possível.
O que fazer durante as enchentes
Quais são as doenças que podem ser transmitidas pela água das enchentes?
A água das enchentes pode estar contaminada por esgotos, lixo e produtos químicos tornando-se um ambiente propício para a cultura de vários patógenos (organismos que são capazes de causar doenças em um hospedeiro).
Doenças como leptospirose, gastroenterites infecciosas, diarreia, febre tifoide, cólera, hepatite A, giardíase e outras infecções parasitárias são comuns em áreas atingidas por enchentes, devido à ingestão involuntária ou contato com essa água contaminada.
Além disso, a presença de esgoto não tratado pode aumentar a carga de parasitas como Ascaris lumbricoides (lombriga) e Taenia spp. (solitária). Esses patógenos podem causar uma variedade de sintomas, desde leves a graves, e podem representar um risco significativo para a saúde pública, especialmente em áreas onde o acesso à água potável e saneamento básico é limitado.
Como os microrganismos presentes nessas águas podem afetar o sistema imunológico das pessoas?
Esses microrganismos podem sobrecarregar o sistema imunológico das pessoas, tornando-as mais suscetíveis a infecções. A exposição a uma variedade de patógenos pode desencadear respostas inflamatórias no corpo, enfraquecendo a capacidade do sistema imunológico de combater eficazmente as infecções. Isso pode levar a um aumento na incidência de doenças infecciosas e agravar condições de saúde preexistentes.
Quais são as medidas imediatas que as pessoas devem tomar para proteger-se após o contato com a água das enchentes, do ponto de vista da saúde?
Após o contato com águas de enchentes, é importante que as pessoas adotem medidas imediatas para proteger sua saúde. Isso inclui lavar as mãos com água e sabão frequentemente, especialmente antes de comer e depois de usar o banheiro. Evitar o contato direto com a água contaminada e evitar a ingestão de alimentos ou bebidas que possam ter sido expostos à água das enchentes também é fundamental. Além disso, buscar atendimento médico imediato ao desenvolver sintomas de doenças, como febre, diarreia ou erupções cutâneas após o contato com águas de enchentes, é essencial para um tratamento adequado e para prevenir complicações.
Quais são os cuidados de higiene e desinfecção recomendados para animais que foram expostos a águas de enchentes?
O recomendado é que o animal de estimação tome um banho com água e sabão, em seguida, ele precisa ser secado com muito cuidado para evitar fungos nos pelos. Se possível, o tutor ou quem acolher o animal deve se certificar que ele está com a vacinação em dia, principalmente a vacina para evitar a leptospirose, como a V8.
As vacinas são importantes para prevenir várias doenças causadas pelas enchentes. Mas se a pessoa não está com a vacinação em dia, ainda assim deve buscar se vacinar mesmo após ter contato com a água?
Sim, mesmo que a pessoa não tenha a vacinação em dia, é recomendável que ela busque se vacinar após entrar em contato com a água das enchentes. As vacinas desempenham um papel fundamental na prevenção de doenças transmitidas pela água contaminada, como hepatite A e tétano, que podem representar um risco aumentado após enchentes devido à exposição a condições insalubres.
No caso específico do Rio Grande do Sul, por causa das doenças típicas do outono e das aglomerações nos abrigos, é importante que as pessoas também se vacinem contra a Gripe, Covid e Dengue.
As vacinas contribuem para proteger não apenas a saúde individual, mas também a saúde pública, reduzindo o risco de surtos de doenças infecciosas em comunidades afetadas por enchentes.
O que fazer depois que água baixar
Com a redução do nível das águas após as enchentes, surge a necessidade de cuidados especiais para proteger a saúde da população afetada. Aqui estão algumas orientações importantes para esse período pós-enchente:
Quais são os procedimentos recomendados para limpar e desinfetar roupas e objetos contaminados pelas águas das enchentes?
O mais importante ao voltar aos locais atingidos pelas águas das enchentes é usar bota de borracha/plástico ou galocha para proteção dos pés, além de luvas para não deixar a pele entrar em contato com a água contaminada. É fundamental proteger cortes e ferimentos com curativos adequados para evitar infecções.
Usar máscaras faciais durante a limpeza para evitar a inalação de poeira e partículas suspensas no ar. Isso ajuda a prevenir irritações respiratórias e problemas de saúde causados pela exposição a substâncias nocivas presentes na lama e nos detritos.
O uso de repelentes também é recomendado, pois ainda haverá muitas poças e água parada o que permite uma maior proliferação do mosquito que transmite a dengue.
Limpeza de roupas
Para roupas, o ideal é separar as que estiverem contaminadas, deixar de molho por 20 minutos com algumas gotas de água sanitária e enxaguar várias vezes em seguida. Deixar secar em área externa para que peguem sol, pois a luz solar favorece a eliminação de algumas bactérias.
Limpeza do imóvel e outros objetos
Para pisos, lavar com água e sabão e a desinfecção pode ser realizada com água sanitária na proporção de 100ml para um balde de 10 litros, deixando a mistura em contato por 20 minutos. E para objetos, procurar lavar com água e sabão, se possível realizar desinfecção com álcool 70%.
Proteção aos animais domésticos
Após as enchentes, é importante manter os animais protegidos contra parasitas, como pulgas, carrapatos e mosquitos, que podem proliferar em áreas úmidas. Além disso, assim que possível, certificar-se de que os animais estejam com a vacinação em dia e recebam cuidados veterinários adequados, especialmente se estiverem expostos a condições insalubres durante ou após as enchentes.
“Seguir estas orientações pode ajudar a reduzir os riscos à saúde e promover a recuperação segura das comunidades afetadas. Claro que sabemos que muitas medidas se tornam mais difíceis no momento de caos que as pessoas enfrentam durante uma enchente, mas é importante que ainda assim todos tenham o conhecimento necessário para saber como agir”, explica Osualdo de Moura, gerente técnico do Hidrolabor.