Congresso Unidas: a longevidade brasileira e atenção primária à saúde
Enxaqueca e insuficiência cardíaca foram alguns dos temas das discussões
O último dia do 21º Congresso Internacional Unidas – Caminhos para Inovar, que aconteceu entre os dias 07 e 09 de novembro, na Costa do Sauípe (BA), começou com palestras sobre duas doenças cuja relevância é significativa, tanto no Brasil, quanto no mundo: enxaqueca e insuficiência cardíaca.
O médico e professor do curso de pós-graduação em Medicina Interna e Ciências da Saúde da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Elcio Juliato Piovesan, abriu as apresentações do dia com a palestra Impacto da enxaqueca na qualidade de vida: novas evidências a personificam como uma doença de alto impacto clínico. Segundo o palestrante, a enxaqueca causa danos à vida do paciente. “O bem-estar do paciente fica comprometido, bem como a economia, devido aos custos no tratamento da doença”, explicou o médico.
Em seguida foi a vez do especialista em cardiologia e transplante cardíaco pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e coordenador do Programa de Insuficiência Cardíaca do Hospital TotalCor, Flavio Brito. Com a palestra Insuficiência Cardíaca, o médico ressaltou a importância da inovação no tratamento da doença.
Viver mais, mas com saúde: os desafios da longevidade
A Organização das Nações Unidas (ONU) prevê que, de 1950 a 2050, a população acima de 60 anos cresça seis vezes no Brasil, o dobro do projetado para países como Canadá e Holanda. Em 2030, o número de idosos brasileiros vai superar pela primeira vez o de crianças com até 14 anos. No caso das operadoras de saúde de autogestão essa já é uma realidade que impacta profundamente a administração dos planos. Atualmente, as autogestões detêm 25,9% dos beneficiários com 60 anos de idade ou mais, enquanto a média do setor de saúde suplementar é pouco mais de 13%.
E foi sobre esses e outros desafios do envelhecimento da população brasileira que o médico e presidente da Aliança Global de Centros Internacionais de Longevidade, Alexandre Kalache, e as médicas portuguesas Joana Abreu e Paula Silva falaram no painel Viver mais, mas com saúde: os desafios da longevidade no Brasil, no 21º Congresso Internacional Unidas – Caminhos para Inovar.
Segundo Kalache, serão necessários ao Brasil apenas 18 anos (de 2012 a 2030) para dobrar a população de idosos, de 10 para 20% – o que ocorreu na França ao longo de 145 anos a partir de 1850. “Com todos os problemas que a sociedade brasileira tem, como vamos enfrentar mais esse, que é o envelhecimento da população?”, questiona.
Conforme o médico, é preciso reinventar o envelhecimento e se preparar para uma vida longa. “Com a revolução da longevidade, a vida deixou de ser uma corrida de 100 metros para se tornar cada vez mais uma maratona”, exemplificou Kalache.
Diante desse contexto, Kalache fez uma crítica. “Os países abastados ficaram ricos antes de envelhecer. Nós estamos envelhecendo antes de enriquecer”. Alexandre Kalache foi enfático ao dizer que a discussão sobre longevidade tem várias vertentes. “A revolução da longevidade passa por um processo de transformação da economia. Precisamos de prédios para idosos, turismo focado na 3ª idade e mais serviços para essa população”. E ressaltou quão fundamental é oferecer serviços de saúde aos idosos de maneira barata e acessível para que haja qualidade de vida na terceira idade. “É essencial focar na prevenção e quanto antes minimizar ou eliminar os fatores de risco, melhor. Por isso, é fundamental ter uma estrutura de atenção primária à saúde para garantir a longevidade com saúde e independência”.
Em seguida, foi a vez da médica geral e familiar na Unidade de Saúde Familiar das Conchas e do Hospital da Luz, ambos em Lisboa, Paula Silva fazer apresentação. A médica deu início falando sobre as experiências no país lusitano, inclusive com dados do funcionamento do Serviço Nacional de Saúde de Portugal, que foi criado em 1979, e possui características parecidas com as do SUS.
De acordo com a palestrante, Portugal é um país com baixa natalidade, população envelhecida e com patologia múltipla. Por isso, em 2012, o país criou um Plano Nacional de saúde que vale até 2020. O plano tem três pilares: incentivar a natalidade; criar jovens saudáveis e minimizar os impactos das doenças crônicas na velhice. O programa tem como objetivos diminuir a redução da mortalidade prematura (abaixo de 70 anos); melhorar a esperança de vida saudável a partir dos 65 anos, combater a obesidade infantil e o consumo de tabaco.
Finalizando o terceiro painel do 21º Congresso Internacional Unidas – Caminhos para Inovar, a médica geral e familiar na Unidade de Saúde Familiar das Conchas, em Lisboa, Joana Abreu, deu sequência ao debate, contando mais sobre as experiências de Portugal com a gestão do envelhecimento. Segundo a palestrante, o isolamento social dos idosos deve ser combatido e, com foco nisso, o sistema de saúde português tem programas específicos para combatê-lo. “É aqui que devemos ressaltar a importância dos médicos de família, que possuem um papel importante na conscientização da família no combate ao isolamento social dos idosos”, afirmou.
Como o cuidado de saúde primário melhora a performance do sistema
O Professor da Harvard Medical School, nos Estados Unidos e executivo da Cambridge Health Alliance, Robert Janett, abordou a qualidade e eficiência como objetivos do sistema de saúde. O palestrante apresentou estratégias para eliminar os gaps no cuidado do paciente, os impactos nos desfechos a partir da mudança no modelo de entrega do cuidado de saúde, as características gerais de um sistema de cuidado primário integrado e os resultados na aplicação deste modelo no sistema de saúde suplementar brasileiro.
Segundo o palestrante, há um percentual altíssimo de tratamentos desnecessários, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil. “Ao mesmo tempo, temos pacientes que não recebem o tratamento médico necessário para que ele se cure”, esclareceu.
Durante a apresentação, Roberto Janett falou que a prevenção e o atendimento precoce são essenciais para evitar desperdícios de recursos na saúde. Por isso a atenção primária é fundamental. “No Brasil, milhares de pessoas morrem em decorrência de um atendimento insuficiente. Isso poderia ser evitado se o paciente tivesse recebido atenção primária”, finalizou o palestrante.