Você conhece alguém que mente compulsivamente?
Mentir demais pode prejudicar a saúde
Quem nunca contou uma “mentirinha” para evitar uma discussão ou para levantar a estima de um amigo? Apesar de serem contra as regras morais e educacionais da sociedade, as famosas desculpas podem ser consideradas saudáveis, uma vez que treinamos nossa capacidade de jogo de cintura. No entanto, isso vira problema quando mentir passa a ser hábito.
O psicólogo Gerson Jung revela que as mentiras não afetam apenas os terceiros, como também trazem sofrimento ao indivíduo. “A mitomania também prejudica o grupo onde ele se encontra inserido (família, trabalho, amigos, igreja…) à sociedade em geral e ao meio ambiente, na medida que há um engano nestas relações, que são coemergentes, mesmo que o indivíduo não tenha a percepção dessa inseparatividade com o todo”, conta.
Para o profissional, na mentira compulsiva já está estabelecida a repetição de um hábito. Mentir transforma-se em vício, com características similares ao de uma dependência química, enquanto na mentira esporádica, há um nível maior de lucidez do que se está omitindo. “Uma pessoa que mente demais geralmente possui uma capacidade criativa muito desenvolvida, elaborando paisagens internas ricas, grandiosamente configuradas, com infinitas possibilidades de condições de formatação e manifestações expressivas, a ponto de não distinguir mais entre o espaço dá realidade natural de bom senso e ilusão criativa”, completa.
Jung relata que o acolhimento incondicional é fundamental para ajudar pessoas nesta situação. “Devemos ter a lucidez de sabermos que é um ser que não está saudável, necessitando de nossa escuta e sustentação, para então, oferecer uma reestruturação de organização emocional coerente com os valores éticos de convívio humano e com a vida em geral”, explica.
Uma das principais causas que levam uma pessoa a mentir demais é a carência afetiva. Seja pela falta de amor ou o não reconhecimento do seu valor. “Isso leva esta pessoa a criar formas de chamar a atenção e receber importância para sua vital sobrevivência e segurança de inclusão, confiança, amor e valorização por parte do outro”, revela o psicólogo.
Sociopatia
E um alerta. Mentirosos compulsivos podem desenvolver atitudes características da sociopatia. “O mentiroso compulsivo não leva em consideração as leis, normas sociais e direitos de outras pessoas em relação à honestidade e sinceridade”, elenca Gerson Jung como principais traços paralelos entre pessoas que mentem demasiadamente e sociopatas.
“Temos ainda a falta de sentimento de culpa e comportamento violento mental, de instituir falsas crenças. Eles ainda podem ser capazes de fingir ou forçar sentimentos, parecendo estar à vontade ou contente, quando na realidade não estão”, destaca.
O profissional lembra ainda que algumas pessoas, de tanto contarem mentiras para si e aos outros, ficam convencidas de suas verdades. Isso acontece de forma profundamente arraigada, ignorando sua origem enganosa.
Viver mentindo pode trazer muitos problemas
Existem ainda uma série de dificuldades que acompanham a vida do mentiroso compulsivo. Jung elenca, entre as principais, as dificuldades relacionadas ao crescimento emocional e laboral, com superficialidade e fragilidade nas relações. “A pessoa fica escondida atrás da mentira por medo ou vantagem, desperdiçando a possibilidade da riqueza do enfrentamento com a realidade”, lembra. Para ele, enfrentar a realidade pode trazer potência, segurança, confiança, admiração e respeito do outro, autoestima, amor próprio e realização. “Isso leva ao amadurecimento da pessoa e consequentemente aflora sua felicidade”, reflete.
“Falar a verdade nos dá mais vida. Permite que se seja tudo aquilo que somos de mais aprimorado. É preferível fazer o nosso percurso de vida com as melhores qualidades criativas possíveis, para crescermos em uma sociedade melhor, com coerência e honestidade, na esperança de um mundo seguro, de confiança e paz”, finaliza.