Seguradoras recebem pedido de indenização da Covid-19
“A certeza de estar protegido traz a tranquilidade necessária para encarar ocasião tão desafiadora”, diz o presidente da Brasilseg, Ivandré Montiel
As seguradoras já começam a receber solicitações de indenização de apólices das vítimas da covid-19. A Prudential, que tem o seguro de vida como carro-chefe, e a Generali, uma das principais seguradoras do ramo no país, confirmaram já terem sido acionadas em casos ligados à pandemia.
“Nós já recebemos os primeiros avisos de sinistro decorrentes do novo coronavírus, desde a semana passada, alguns, infelizmente, por morte e outros solicitando a nossa cobertura renda hospitalar”, afirma a vice-presidente de marketing & digital da filial brasileira da seguradora americana, Aura Rebelo.
Na italiana Generali, “tivemos, infelizmente, duas mortes de segurados relativas à Covid-19”, conta a vice-presidente da filial brasileira e chefe de canais massificados para Américas e Sul da Europa, Claudia Papa. Outras casas consultadas, como Icatu, MetLife e Mag Seguros ainda não registraram solicitações.
Junto com os primeiros casos de sinistros pela Covid-19, a Prudential anunciou o pagamento sem restrições aos beneficiários dos segurados falecidos ou com invalidez durante a pandemia, mesmo com a previsão nos contratos de exclusão das indenizações em casos de pandemias. A Generali, assim como a Icatu, não tem restrições para atender casos como os da covid-19 nas apólices de vida. Essas empresas se juntam a um grupo que já conta com, pelo menos, uma dúzia de seguradoras que adotaram a mesma flexibilização, como Caixa Seguradora, Itaú Seguros, Zurich Santander, Mag Seguros, Mapfre, MetLife, Centauro-ON, Previsul, Sura e Youse.
Pagar ou não as indenizações das vítimas do coronavírus pelas apólices de vida abriu um debate no setor, porque a maior parte dos contratos do produto prevê exclusão de cobertura em caso de epidemias ou pandemias. As cláusulas de restrição existem para preservar o equilíbrio financeiro do fundo de mútuo que suporta os pagamentos, explica a sócia da área de seguros e resseguros do TozziniFreire, Bárbara Bassani. “O prêmio que o cliente pagou foi determinado com riscos específicos subscritos e a apólice não foi feita para esse tipo de situação. Vejo a flexibilização como uma liberalidade das seguradoras.”
O executivo-chefe financeiro da Mag Seguros (nova denominação da Mongeral Aegon), Raphael Barreto, afirma que a companhia “entendeu que estes valores poderiam ser absorvidos sem comprometer a saúde financeira da seguradora”. De acordo com o CFO, a empresa realizou estudos com base nas idades reais da carteira de clientes e obteve projeções mais aderentes à realidade da companhia. Nos vários cenários de pagamentos de benefícios para as coberturas de morte e invalidez permanente, a Mag se mostrou resiliente.
A Generali também monitora a evolução dos sinistros ligados à pandemia, mas assegura estar preparada da absorver qualquer crescimento de ocorrências. “Consideramos que vai haver aumento de sinistros por conta da pandemia de coronavírus, mas é difícil estimar o percentual exato”, diz a vice-presidente da seguradora. Apesar do aumento, “não vai afetar o equilíbrio das apólices”, acrescenta Claudia.
A advogada Bárbara, do TozziniFreire, ressalta que cada companhia tem de fazer esse exercício de impacto sobre o próprio equilíbrio financeiro e nem todas poderiam arcar com os custos de uma flexibilização. De acordo com a advogada, existem seguradoras que podem “comprometer o mutualismo e levar a carteira a ficar deficitária”.
Conforme mais companhias aderem à iniciativa, a pressão sobre o mercado como um todo aumenta. “Como seguradora, reavaliamos uma cláusula importante para contribuirmos com o cuidado da sociedade neste momento”, afirma o CEO de seguros da Mapfre Brasil, Luis Gutiérrez, sobre o pagamento às vítimas do coronavírus. “A certeza de estar protegido traz a tranquilidade necessária para encarar ocasião tão desafiadora”, endossa o presidente da Brasilseg, do grupo BB Seguros, Ivandré Montiel.
As propostas das seguradoras incluem o pagamento de benefícios, como indenização por morte ou invalidez permanente devido à Covid-19, para as apólices vigentes. No caso de novos contratos, as companhias têm definido períodos de carência entre 45 dias e 90 dias. A MetLife, por exemplo, avisou em comunicado que decidiu pagar as indenizações referentes a “morte, funeral, diárias de internação hospitalar, invalidez permanente e viagem que venham a ocorrer em decorrência da Covid-19”.
No caso de apólices adquiridas após 26 de março, “a decisão se aplicará aos sinistros que ocorrem após 45 dias da data de contratação do seguro”. A medida da MetLife vale por 120 dias.
A Prudential informou ter decidido que, “para todas as apólices de seguro de vida individual e em grupo contratadas até 25 de março de 2020, pagará integralmente as indenizações de morte além das coberturas de renda hospitalar, assistência funeral, diária de internação hospitalar, invalidez funcional ou permanente e seguro viagem decorrentes do diagnóstico de Covid-19”.
De acordo Aura, da Prudential, “a inclusão da cobertura vai ser feita em caráter permanente, para todos os clientes da nossa base, assim como as novas vendas da companhia nos próximos 180 dias”. A Prudential explica ainda que, “para as novas contratações, a partir de 26 de março, nos comprometemos a indenizar os sinistros com diagnóstico de coronavírus, que ocorrerem depois de 90 dias da contratação, até o limite de R$ 3 milhões”.