“A hora de termos uma indústria mais unida chegou”, diz Newton Queiroz em coluna de estreia no JRS
Especialista conta com mais de duas décadas no mercado de seguros
Newton Queiroz conta com mais de duas décadas no mercado de seguros. Atuou recentemente como CEO da Argo Seguros, foi CEO México e América Latina da Swiss Re, além de integrar o Conselho Administrativo da companhia no Brasil e contar com a experiência de Diretor de Resseguros na Aon e Gerente Sênior de Aviação na Allianz Insurance PLC. Queiroz também atuou AS Cunha Bueno Corretora de Seguros e na Chubb, além de ser membro do G100 (grupo dos principais CEOs e empreendedores do Brasil) e CCO da América Latina por mais de cinco anos. O especialista também é membro de conselhos e mentor de executivos.
Como este breve resumo não demonstra as diversas atribuições que o executivo possui, o JRS tem o prazer de anunciar Newton Queiroz como novo colunista das publicações impressas e digitais do veículo, de modo a levar seus pensamentos e contribuições para um número ainda maior de entusiastas, profissionais e operadores do mercado segurador.
Inovar x Executar, por Newton Queiroz:
A palavra INOVAR faz parte dos planos estratégicos de seguradoras, corretores, assessores e outros players da indústria de seguro há anos. Esse fenômeno (recorrente) é derivado de nosso “conservadorismo” (como muitos rotulam a nossa indústria), mas este “conservadorismo” sempre fez o nosso universo mais humanizado e baseado em relações de confiança (cara a cara).
Porém, com a decorrência da pandemia de Covid-19, a palavra INOVAR, que até então era ligada a alguns projetos com orçamentos limitados, tornou-se prioridade máxima para todos, principalmente na parte operacional de nossos negócio – sempre muito dependente de pessoas e processos manuais.
Ato contínuo, toda indústria saiu “correndo atrás do prejuízo” causado pelo investimento tímido em inovações tecnológicas, uma vez que grande parte era dedicada a eventos, viagens e outros ligados a parte humana do negócio, para solucionar as todas as demandas de forma virtual. Desde uma simples reunião até a regulação de um sinistro.
A evolução significativa, em relação à transformação digital de todos os envolvidos na indústria, foi resultado de ao menos oito meses de foco no tema, o que de fato aconteceu e temos de ter orgulho pelo que foi atingido.
Para 2021, é fundamental balancear o INOVAR com o EXECUTAR, pois o cliente final tornou-se muito mais exigente e sua lealdade está diretamente ligada à experiência durante o ciclo de venda (onde a parte digital tomou grande importância).
E está aí, na questão de balancear, que necessitamos repensar a forma como nosso ecossistema funciona – para sermos eficientes em relação a qualquer investimento, mão de obra, contratações e outros, não ligados apenas à tecnologia.
Menciono este ponto porque estamos vivendo uma fase interessante, onde existem interessados em investir na nossa indústria. Mas, como qualquer investimento, os fundos também desejam retorno dentro de um prazo pré-estabelecido. Para que nossa indústria evite problemas com isso, faz-se necessário que o ecossistema esteja disposto a focar em sua função principal e ter como visão que dividindo se multiplica – ou seja – trabalhar com união para a transformação positiva que estamos vivendo.
Marketplaces de seguros
Para exemplificar, trago os famosos marketplaces de seguros – onde temos seguradoras, corretores e bancos buscando criar uma ferramenta com o intuito de dominar o mercado, sem considerar a enorme complexidade – dada variedade de produtos disponibilizados pela indústria seguradoras, além dos legados de vários M&As (fusões e aquisições) que aconteceram nos últimos anos.
Por que este exemplo é relevante?
Justamente porque para existir um dia tal marketplace, faz-se necessário uma divisão clara de tarefas e responsabilidades. Por exemplo, o corretor deveria efetuar o drive de criação do esqueleto deste sistema – uma vez que entendem tanto a seguradora, como o cliente – e, portanto, podem executar uma estratégia de inovação na oferta de produtos de maneira mais complexa e amigável. Isso sem falar nos custos. Imagine cada seguradora construindo um marketplace. Seria uma confusão na hora de cotar?
Por sua vez, as seguradoras deveriam focar em desenvolver e transformar todos seus produtos em APIs, com linguagens similares – de modo a facilitar a junção de ofertas em um único local – onde o corretor poderia efetuar seu login e buscar a melhor opção para seu cliente.
O grande desafio é justamente a necessidade de que todas as partes da indústria entrem em acordo para o bem comum da mesma, pois ainda temos muito a fazer em termos de penetração de mercado (estamos em 6,1% de participação com Saúde Suplementar e em 3,9% sem Saúde Suplementar), e de inclusão social – de modo a proporcionar melhores proteções para todas as classes.
Todos esses desafios necessitam de investimentos em um momento onde todos estão olhando para o mercado como um celeiro de oportunidades (o que é verdade), mas falta analisar o que já temos feito, quais parcerias estabelecer (ao invés de construir do zero), qual o papel de cada um na cadeia e assim por diante.
Em resumo, a união entre as classes de nossa indústria é essencial para a melhor utilização de capital, manutenção de empregos, penetração de seguros, inclusão social e experiência do cliente.
Se algo essa pandemia nos deixou de lição é que o passado não dita o futuro e mudar é preciso. A hora de termos uma indústria mais unida chegou.