América Latina e o roubo de cargas

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Confira artigo Cyro Buonavoglia, presidente do Grupo Buonny

No Brasil, é comum falarmos de roubo de cargas, infelizmente. De acordo com um levantamento das polícias Militar, Civil e Rodoviária Federal, foram registrados mais de 22 mil ataques a motoristas em todo o país, em 2018. A Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC) aponta que o prejuízo para o setor produtivo com a perda de cargas e veículos chegou a cerca de R$ 2 bilhões no ano passado.

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Mesmo com números alarmantes, nos tornamos referência no combate a essa modalidade de crime e, hoje, diversos países assolados por essa prática se espelham nos modelos de gerenciamento de riscos criados aqui.

Como temos atuação na América Latina, recentemente estivemos no México e pudemos entender que o roubo de cargas é um problema comum aos nossos vizinhos. Isso demonstra que ainda temos muito no que pensar para reverter essa situação e permitir a segurança para cargas e motoristas, em qualquer país latino-americano.

O México, por exemplo, é o sétimo país mais perigoso do mundo em roubo de cargas (o Brasil está em sexto lugar). Segundo estudos de seguradoras, as cargas mais visadas são alimentos, bebidas (alcoólicas ou não), materiais de construção, produtos químicos e autopeças.

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Porém o que mais chocou a todos nós foi o crescimento de 120% em roubos de cargas nos últimos 10 anos e a perspectiva para mais 12%, aproximadamente, em 2019. É assustador.

A preocupação lá ainda é maior, pois embora as práticas utilizadas para combater o roubo serem similares às nossas, a tecnologia está muito longe do ideal. Eles não usam inteligência embarcada, por exemplo, e não há sinergia ou união entre os interessados em coibir o crime. Há muito o que evoluir ainda.

Na Argentina, o problema também existe e o cenário é muito parecido com o brasileiro. Por isso, especialistas em seguros destacaram que o uso da tecnologia é imperativo, além das avaliações de riscos. Mesmo assim, ainda há muito a ser feito naquele país.

A Colômbia também é um vizinho que sofre com roubos de cargas, embora usem ferramentas de gerenciamento de riscos e serviço integrados de tecnologia, ações de pronta resposta coordenadas com as polícias. Eles também criaram um comitê de iniciativa privada sobre o roubo de cargas junto ao governo, o que demonstra grande interesse em resolver essa questão o quanto antes.

O Peru apresentou franco crescimento no roubo de cargas, inclusive com muita violência envolvida. Lá, os roubos se concentram em Lima e Callao, província do principal porto do país.

Aqui no Brasil, sabemos que o Rio de Janeiro é o estado mais problemático. Por outro lado, temos comprovações, com base no trabalho que prestamos, que o gerenciamento de riscos é a ferramenta fundamental para que esse cenário se reverta. Não é um trabalho com resultados imediatos, logicamente, mas sim de melhoria contínua.

Com a experiência dos últimos anos no estado, conseguimos entender exatamente o problema e, assim, propor soluções. Os roubos, por exemplo, ocorriam (e ocorrem), principalmente, em trechos de rodovias rodeadas por comunidades controladas por criminosos.

Dados da Firjan apontaram que, em 2018, 81% dos roubos ocorrem na capital e na Baixada Fluminense; 76% foi o aumento de incidentes na região de São Gonçalo, com 17% dos roubos e, no total o prejuízo estimado foi de 607,1 milhões de reais.

No entanto, quando as ações de segurança e atuação da força pública, em conjunto com o Estado, o roubo de cargas migrou para outras comunidades.

Por isso, uma das principais medidas tomadas pelas gerenciadoras de riscos foi a proibição de entrar com veículos carregados em comunidades cariocas, uma vez que as características geográficas dificultam o acesso das forças policiais e diminuem as possibilidades de recuperação do veículo e da carga.

Outra ferramenta utilizada foi a análise de perfil profissional de todos os envolvidos nos processos logísticos. Isso porque, de acordo com investigações da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC), a participação interna de funcionários das empresas ocorre em, aproximadamente, 50% dos casos.

Como as áreas mais perigosas foram mapeadas, foi possível criar cercas eletrônicas, integradas a regras de segurança das tecnologias de rastreamento. Além disso, destaco o acompanhamento técnico vigiado, ou pronta resposta, bem como o controle de chegada de veículos a cidade do Rio de Janeiro, com criação de pontos de parada com base nos horários do trânsito.

Foram criadas ainda outras soluções específicas para combater o roubo de cargas no Rio de Janeiro, o que demonstrou que a tecnologia, aliada à inteligência e estratégia de equipes especializadas, funciona aqui no Brasil e pode funcionar em todos os outros países que sofrem com o crime.

De qualquer forma, é lamentável concluir que a América Latina está contaminada pelo crime organizado e a corrupção, mas como temos exemplos tão positivos no Brasil, temos o dever de espalhar pelos quatro cantos do continente a importância do GR para nossos vizinhos.

Felizmente, a tecnologia evolui a cada dia e, atualmente, a inteligência artificial tem se mostrado eficaz e fundamental para entender cenários e, rapidamente, apontar soluções.

Por atuar nesse mercado há mais de 24 anos, posso afirmar que o gerenciamento de riscos e todas as ferramentas de prevenção são fatores que melhoram a cadeia logística e tudo o que gravita em torno dela. Entretanto, é um processo de melhoria contínua, uma vez que a tecnologia e os cenários rapidamente mudam, e que requer a união de todas as forças envolvidas no fim dessa prática, em qualquer país do mundo.

*Cyro Buonavoglia, 70 anos, com vasta experiência em comércio e indústria, formado em administração de empresas pela Faculdade Dom Pedro II, atuou nas áreas de indústria e comercio e fundou há 24 anos a Buonny Projetos e Serviços, que se transformou em um conglomerado de empresas, que busca atender com eficácia o mercado nos segmentos de logística, saúde, tecnologia e energia fotovoltaica. O executivo também fundou as entidades: GRISTEC e SINDIRISCO. Atualmente como Presidente do Grupo Buonny, sua principal meta é avançar com o crescimento das empresas que compõe o grupo, por meio de investimentos em tecnologia, que aumentam a qualidade dos serviços prestados na mitigação de riscos.

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