AN-Re quer desmistificar o resseguro e fomentar parcerias com seguradoras
Nova associação de resseguradoras locais assumiu o desafio de reconstruir a imagem do resseguro
Passados oito anos desde a abertura, o mercado de resseguros brasileiro está mais estabilizado. “Agora, devemos pensar em como aprimorar esse mercado e incentivar o seu crescimento. E estes são os propósitos da AN-Re”, disse Paulo Botti, presidente da recém-criada Associação Nacional das Resseguradoras Locais, durante sua participação em almoço do CVG-SP, dia 17 de agosto, no Terraço Itália.
A princípio, a AN-Re, que é composta por quatro das 16 resseguradoras locais que operam no setor – Austral Re, IRB-Brasil Re, BTG Pactual e Terra Brasis –, assumiu a difícil missão de mudar a imagem do resseguro perante o mercado de seguros. Para tanto, pretende trabalhar para melhorar a assimetria de informações entre seguradoras, corretores e resseguradores. Botti acredita que este seja o caminho para diminuir a mística que existe em torno do resseguro. Ele frisou que “resseguro não é um mistério e tampouco faz milagres, reduzindo a sinistralidade e aumentando o lucro das seguradoras”.
Para o presidente da AN-Re, essa visão deturpada tem complicado o relacionado entre seguradoras e resseguradoras. “O ressegurador pode ser o sócio perfeito da seguradora, oferecendo o seu capital para que esta possa aceitar riscos e incrementar sua produção, e também pode atuar como um bom segurador para grandes riscos ou eventos catastróficos”, explicou.
Evolução do resseguro
Botti analisou a trajetória do resseguro brasileiro, desde a criação do IRB em 1939 até os dias atuais, reconhecendo que o monopólio teve seus méritos na evolução e criação das bases do mercado. O período mais difícil, segundo ele, ocorreu logo após a abertura, em 2008. Naquela época, os desafios eram incentivar a criação de empresas de resseguro no Brasil e ao mesmo tempo manter a oferta de capacidade do exterior necessária para suprir as demandas adicionais do mercado local.
Para tanto, foram criadas duas regras básicas. A partir da definição do capital mínimo de R$ 60 milhões para operar no país, foi fixada a oferta preferencial de 40% dos prêmios ao mercado local. Já para evitar operações de fronting no resseguro, foi definida a obrigatoriedade de retenção de 50% dos prêmios recebidos pelas resseguradoras.
Hoje, em sua opinião, o mercado obteve m bastante sucesso e conta com 16 resseguradoras locais e mais de cem empresas com licença para operar no resseguro offshore, como admitidas ou eventuais. Mas, apesar de competitivo, o mercado de resseguro de seguro de vida ainda é pequeno se comparado ao de outros países.
Dados apresentados por Botti revelam que nos últimos doze meses até março, as seguradoras brasileiras cederam ao resseguro cerca de R$ 10 bilhões em prêmios, dos quais 30% foram colocados diretamente no exterior e 70% em resseguradoras locais. Estas últimas, por sua vez, também retrocederam para o mercado exterior, de modo que em torno de 55% dos prêmios foram para fora do país e 45% permaneceram no mercado nacional.
Resseguro no ramo de vida
Dos R$ 105 bilhões faturados em prêmios pelo mercado de seguros em 2015 (sem considerar previdência privada, saúde e capitalização), R$ 35 bilhões corresponderam ao ramo de seguro de vida. Nos cálculos de Botti, deste volume, o ramo vida cedeu ao resseguro cerca de R$ 400 milhões, o que representa pouco mais de 1% dos prêmios. Segundo ele, no mercado mundial o ramo vida costuma ceder menos resseguro que o property. Porém, a diferença está na proporção.
Enquanto no Brasil o ramo vida corresponde a 1% do total de resseguros, em outros países mais desenvolvidos a proporção chega a 30%. Até mesmo nos países vizinhos a proporção é maior: Argentina e Chile, 3% cada, e Colômbia e México, 5% cada. “Por outro lado, significa que o seguro e o resseguro de vida no Brasil têm muito a crescer”, disse.
Botti acredita que o mercado brasileiro de seguros e resseguros continuará crescendo, seguindo a tendência de expansão dos mercados emergentes. Ele aponta, ainda, a tendência de descentralização empresarial, apesar da concentração que ainda existe no mercado de vida no Brasil. Sua expectativa é que produtos mais sofisticados cheguem ao mercado e que sejam operados predominantemente por seguradoras menores, mais especializadas, contando com a alavancagem do resseguro.
“Depois de oito anos, creio que as resseguradoras estão em dívida com o mercado e podem colaborar muito mais. A AN-Re tem muito trabalho pela frente para colaborar no desenvolvimento desse mercado, principalmente, na área de vida, na qual a oportunidade é muito grande”, disse.
O presidente do CVG-SP comentou a importância da atividade de resseguro para a indústria de seguros. “Além de um instrumento de apoio à capacidade de absorção de riscos pelas seguradoras e empresas de previdência, o resseguro também possibilita, por meio das resseguradoras, o acesso a produtos diferenciados, que auxiliam a incrementar o portfólio de opções aos segurados”, disse Dilmo B. Moreira.