Banco Ourinvest traça projeções para economia com cenários para eleições presidenciais
Para a instituição, perspectivas de crescimento para este ano são baixas e para o próximo são muito incertas ainda
A volatilidade ainda seguirá no mercado local, pelo menos até o resultado da corrida presidencial no Brasil. Além da disputa eleitoral no país, a guerra no Leste Europeu, que ninguém sabe quais serão os impactos e nem quando acabará, e o temor com o crescimento mundial e a inflação adicionam mais incertezas sobre os rumos da economia. Essa é a avaliação da equipe de economistas do Banco Ourinvest, que apresentou, no último dia 26 de maio, o relatório Cenário econômicos 2022/2023 – “exercício de imaginação”.
“Fazer um exercício de cenários para um primeiro ano de governo, novo ou de reeleição, é um exercício de imaginação. Até o final deste ano, temos um adicional de incerteza que é a guerra entre Ucrânia e Rússia, que ninguém sabe ainda os impactos, e o temor sobre o crescimento mundial e a inflação. A partir disso, temos muita volatilidade nos ativos, que já é observada na taxa de câmbio. Aliás, essa é uma certeza que conseguirmos dividir: a volatilidade ainda seguirá no mercado local, pelo menos até o resultado da corrida presidencial”, contou Fernanda Consorte, economista-chefe do Ourinvest.
Welber Barral, consultor de comércio exterior do banco e ex-secretário de Comércio Exterior, apontou fatores que determinarão o cenário internacional nos próximos meses com impactos na América Latina. Um deles é a avaliação de que os Estados Unidos devem dar prosseguimento ao ciclo de alta de juros.
“O Fed reconheceu que demorou para elevar os juros. Ele estendeu por muito tempo taxas baixas criando incentivos para o crescimento americano, mas deu muitas asas para a inflação, que não mostra sinais de arrefecimento. Agora vai ter como efeito a elevação rápida da taxa de juros, o que traz consequências para o crescimento do mundo inteiro”, citou o especialista.
Barral destacou ainda que a China foi afetada por uma nova onda da pandemia que impactou negativamente a produção local, já há expectativa que o país asiático retome o crescimento, chegando ao final do ano com uma alta de 4% no PIB. “A China também enfrenta diversos desafios logísticos e novas ondas de Covid, mas mantém uma demanda crescente por commodities. Isso terá impactos para o Brasil, que deve ser beneficiado pelos preços das commodities em patamares elevados”, afirmou.
O Brasil, entretanto, terá crescimento baixo comparado a outros países da América Latina neste ano. A projeção do banco é de uma expansão de 0,80% em 2022. O ano deve terminar ainda com uma inflação de dois dígitos (10%) e taxa básica de juros a 13,50%.
“Por um lado, algumas questões podem contribuir de forma favorável para a inflação, como a queda recente do dólar. Por outro, temos as pressões das commodities e da inércia inflacionária do Brasil. Com isso, o Banco Central se vê obrigado a dar continuidade ao ciclo de aperto monetário, mas que vai demorar um pouco para surtir efeitos na inflação. Além disso, a guerra na Ucrânia e questões relacionadas à China podem ter impacto na composição de preços aqui. Dessa forma, está difícil de enxergar um crescimento sustentável por conta das questões internas e da conjuntura internacional”, analisou Cristiane Quartaroli, economista do Ourinvest.
Segundo o relatório, o mercado deve seguir volátil com tendência de alta do dólar durante todo período eleitoral. A taxa de câmbio média de 2022 dificilmente ficará abaixo de R$ 5. A expectativa é que o dólar encerre este ano a R$ 5,10.
Incertezas sobre 2023
Já o desempenho da economia brasileira em 2023 é muito incerto ainda, dependendo do resultado das eleições presidenciais e da postura que o vencedor da disputa tomará. Com toda cautela necessária, seguindo o que apontam hoje as pesquisas eleitorais, a equipe da instituição financeira traçou dois possíveis cenários, que foram chamados de “chutes” diante das grandes incertezas locais e globais: de reeleição (palpite 1) ou vitória da oposição (palpite 2).
“As últimas corridas presidenciais têm sido marcadas por situações surpresas que podem mudar o curso da história. Mas, hoje um cenário de 3ª via parece, de fato, pouco provável, mas jamais impossível”, acrescenta Fernanda Consorte.
Os cenários partem do efeito do resultado das eleições na confiança dos agentes em 2023.
Caso o palpite 1 (reeleição) se concretize, a expectativa é de mais um ano com depreciação cambial, com o dólar fechando o ano a R$ 5,20. Os juros e inflação seguiriam ainda em patamar elevado, a 12,5% a.a. e 5%, respectivamente, ao final de 2023. Já a economia deve sofrer uma queda 0,50%.
“No caso de reeleição, vemos um “mais do atual, com alguma tendência de mais gastos”. Ou seja, confiança baixa, com imagem institucional arranhada no exterior. Assim, o crescimento fica baixo por confiança, mas, também, pelo baixo ingresso de investimentos e capital. Por outro lado, a tendência menos austera dá motivo para a inflação seguir acima da meta e, por consequência, os juros seguirem altos, em dois dígitos. Já a taxa de câmbio continua desvalorizada, acima de R$5”, analisa a economista-chefe do banco.
Se o palpite 2 (vitória da oposição) acontecer, de acordo com o relatório, as projeções podem ser um pouco melhores, com câmbio voltando para o patamar de antes de pandemia, a R$ 4,15. A inflação fecharia 2023 mais próximo da meta, a 4%, com menos juros (9% a.a.) e crescimento do PIB (+2%).
Para a economista, a mudança de governo deve, à primeira vista, provocar uma onda de otimismo/esperança, embora o candidato da oposição seja o mesmo de 20 anos atrás. A expectativa é que o novo governo comece com um time econômico pró-mercado e busque melhorar a imagem institucional do Brasil.
“Com o restabelecimento da confiança, atraindo capital e investimentos, o crescimento econômico deve despontar em 2023. A taxa de câmbio deve cair bastante, ajudando a inflação a ficar perto (não abaixo) da meta, dando espaço para queda de juros. Mas a característica de gastos exacerbados deve ser notória, gerando inflação e desarranjo nas contas fiscais à frente. Não vemos lua de mel duradoura”, afirma Fernanda Consorte.