Com conscientização maior, microsseguros crescem 63% no ano
Cada vez mais os brasileiros buscam este tipo de proteção
Mesmo quando não há muita folga no orçamento familiar, um tipo de investimento é imprescindível: o seguro. A ideia é evitar gastos imprevistos no futuro, por meio de pequenos aportes mensais. E, cada vez mais, os brasileiros buscam esse tipo de proteção. Dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep) apontam que, entre janeiro e setembro deste ano, o segmento de microsseguros movimentou R$ 245,6 milhões. Isso representa um crescimento real (descontada a inflação) de 63,39% em relação ao mesmo período do ano passado. Entre 2015 e 2016, em plena recessão, a alta foi de 128,5%.
As vendas de seguro funeral, segmento tratado à parte pela Susep, também subiram 13,87% nesses dois anos. Entre janeiro e setembro de 2017, as receitas somaram R$ 405,2 milhões, alta de 9,47% frente a igual período de 2016.
O microsseguro pode cobrir morte, invalidez, despesas médicas e hospitalares, diárias de hospital, doenças graves, desemprego, perda de equipamento, danos a imóveis, incêndio, alagamento e roubo. Uma de suas principais características é o baixo custo, o que tem despertado interesse das famílias, principalmente as menos abastadas.
O Grupo Bradesco Seguros lançou em 2010 um microsseguro de acidentes pessoais de baixo valor, para pessoas de 14 a 70 anos, que oferece indenização de R$ 20 mil em caso de morte acidental. Até outubro, já foram vendidas 4,6 milhões de apólices, ao preço de R$ 5,50 e vigência de cinco anos.
Segundo dados da Caixa Seguradora, o seguro Amparo, que cobre despesas com funeral, lançado em 2008, já bateu a marca de dois milhões de apólices vendidas, arrecadando R$ 11 milhões. Oferecido nas lotéricas por R$ 30, ele garante assistência por 12 meses, com renovação anual.
Castelano Santos, gerente de seguros da Caixa Seguradora, diz que a facilidade na contratação do seguro funeral ajuda a explicar seu sucesso. Basta informar o CPF e efetuar o pagamento na lotérica. “O seguro funeral tem um forte apelo social. Quando as pessoas têm acesso a um produto que cabe no bolso, elas geralmente contratam, principalmente quem já passou por necessidade financeira na hora de enterrar um ente querido ou tem conhecimento de casos na família, na comunidade”, explica.
‘Tem que ter um dinheirinho em caso de sufoco’
Cleberson Alves, que trabalha no ramo de informática no Distrito Federal, conta que soube do seguro funeral em uma ida à lotérica e decidiu comprar o produto para seu pai. Meses depois, seu pai faleceu. Todas as despesas pagas pela seguradora, sem qualquer burocracia. “Só acionei o 0800 e dei o CPF dele. Eles cuidaram de todo o processo, com urna de boa qualidade, ornamentação. Achei tudo muito honesto”, diz Alves, que decidiu comprar o seguro para si próprio e sua mulher.
Já corretora Juliana Veloso contratou o seguro para a sogra, que estava doente. Quando ela faleceu, a família estava num aperto financeiro. “Liguei para a seguradora e foi tudo muito rápido e tranquilo. É que, nesse momento, a gente fica desesperada. Pelo valor, achei que compensou demais. Todo mundo precisa aprender a pensar no amanhã”, afirma Juliana.
Fora das lotéricas, a Caixa oferece outros pequenos seguros a preços mais em conta — uma iniciativa que ganha força em todo o sistema financeiro, até para ampliar o grau de relacionamento do banco. Para atrair clientes, algumas instituições financeiras costumam oferecer sorteios mensais.
Entre as mulheres, tem crescido a modalidade de seguros em caso de diagnóstico de doenças graves, como câncer (mama, ovário e útero). A servidora pública Elizabete Sales tem um desse tipo, contratado junto ao Banco do Brasil. Não só para ela, mas para as duas filhas. Ela tem um plano de saúde, para consultas e exames, mas, ainda assim, prefere se prevenir em caso eventual de gastos com o tratamento de uma doença grave. “A gente tem que ter um dinheirinho em caso de sufoco. Tenho casos na família de pessoas que tiveram câncer e gastaram muito dinheiro”.
Para o presidente da Comissão de Seguros Inclusivos da Confederação Nacional da Seguradoras (Cnseg), Eugênio Velasques, a expansão dos microsseguros é relevante, mas ele pondera que a base ainda é pequena em relação ao mercado como um todo. Entre janeiro e agosto deste ano, o setor arrecadou R$ 160,5 bilhões em todo o Brasil, considerando seguros gerais (automóvel, patrimônio, habitacional, dentre outros). Velasques, porém, ressalta que o crescimento dos microsseguros mostra que os brasileiros estão cada vez conscientes da necessidade de ter um mecanismo de proteção.
De acordo com dados da entidade, em 1994, 38% da população achavam desnecessário ter um seguro de vida. Em 2016, são apenas 3%. Para Velasques, além da maior conscientização, há o fato de que as seguradoras passaram a oferecer produtos específicos para as classes C, D e E. “Até as épocas de crise na economia ajudam”.
Atualmente, existem 24 seguradoras com autorização para operar em microsseguros. Entre elas, três microsseguradoras e 82 produtos passíveis de comercialização, com uma diversidade de coberturas, de acordo com a Susep.