Intenção de pedir empréstimo para quitar dívidas atinge o maior patamar dos últimos seis meses
O motivo ficou em primeiro lugar com 42%, seguido da intenção de solicitar crédito para negócio próprio (24%) e renovação da casa (20%)
No primeiro semestre de 2022, a expectativa dos brasileiros era que a economia se erguesse definitivamente, após dois anos entre altos e baixos. No entanto, não foi isso que as pesquisas do segundo semestre apontaram. O consumidor brasileiro segue endividado e tendo que tomar decisões sobre quais contas quitar primeiro.
É o que aponta a última edição do Índice FinanZero de Empréstimo (IFE), que entrevistou 500 pessoas com acesso à internet em todo Brasil, no período de 29 de julho a 08 de agosto e revelou que 42% dos entrevistados têm a intenção de pedir empréstimo pessoal para pagar dívidas nos próximos três meses, porcentagem que atingiu o maior patamar desde o início deste ano.
A elevação dos juros, somado a taxa de desemprego, a instabilidade do dólar e o baixo poder de compra, contribuem para que muitas famílias continuem endividadas. De acordo com uma pesquisa feita pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), em julho, 29% das famílias tinham algum tipo de dívida ou conta em atraso, o que é considerado o maior patamar de inadimplência desde 2010. Já o percentual de pessoas endividadas subiu para 78%.
Durante a pandemia, o endividamento se intensificou. Com o aumento da inflação refletido em produtos e serviços básicos do dia a dia, boa parte das famílias não conseguem quitar as contas que já estão em aberto. Um levantamento divulgado este mês pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), aponta que um em cada quatro brasileiros (25%) não consegue pagar todas as dívidas no fim do mês. Sem escolhas, muitos têm optado por adiar viagens, diminuir ou abrir mão dos gastos com lazer, ou com roupas na tentativa de poupar dinheiro.
Segundo Rodrigo Cezaretto, diretor operacional da FinanZero, o acúmulo de contas é um dos motivos para a crescente busca por empréstimos, pois sem outras opções, as famílias recorrem ao crédito como saída provisória para ajudar a quitar parte das dívidas e manter o nível de consumo. “Temos visto que os brasileiros estão tentando de tudo para economizar. Enquanto uma família adia viagens, outra diminui o consumo de itens de uso pessoal ou até mesmo deixa de comprar alguns produtos e alimentos por conta do preço. Isso evidencia como o aumento das despesas atingiram as famílias brasileiras e, consequentemente, os hábitos das pessoas precisaram mudar em decorrência da fragilização da economia”, pondera.
As solicitações por dívidas disparam, mas não são o único motivo entre os pedidos
A quitação de dívidas não é o único motivo pelo qual os brasileiros têm a intenção de pedir empréstimo pessoal nos próximos noventa dias. Na última pesquisa, a razão negócio próprio (24%) apareceu em segundo lugar, seguido por renovação da casa (20%), investimento (19%) e, fechando o TOP 5, um empate entre estudos e compras (cada um com 12%).
Por mais que os pedidos destinados para pagamento de dívidas sigam permanecendo na primeira posição, ao longo dos últimos 6 meses, motivos como investimento, negócio próprio e renovação da casa oscilam em segundo lugar. Analisando o motivo “investimento”, é possível supor, por exemplo, que vinha ganhando espaço entre aqueles que procuram por aplicações que possam render mais do que a parcela paga na solicitação de empréstimo para aumentar a renda. Em junho, esse motivo chegou a atingir o maior pico dos últimos 6 meses, mas, no mês passado, a quitação de dívidas subiu novamente e investimento apresentou um dos menores percentuais.
Entre aqueles que solicitam por essa linha de crédito para negócio próprio, uma das razões é o empreendedorismo por necessidade, em que novos negócios são abertos pela alta do desemprego ou, principalmente, por renda insuficiente.
Já com o aumento de contas e gastos, viagens e renovação da casa acabam ficando em segundo plano. Além disso, o motivo “compra de ativos”, apresentou menor percentual no último semestre, como mostra a tabela abaixo:
“Na pesquisa, realizada com todas as classes sociais, é possível observar que o pagamento de contas é prioridade para aqueles que estão em situações mais vulneráveis e possuem rendas menores do que é gasto em serviços básicos necessários. Se o atual cenário da economia brasileira permanecer, este provavelmente continuará sendo o principal motivo para solicitação de empréstimos”, considera Cezaretto.