José Pedro Vianna: Paternidade e Gestão

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Confira artigo do gestor de Pessoas e Processos da Agrifoglio Vianna

Você é pai ou mãe? O que aprendeu sobre gestão a partir dessa experiência?

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Eu amadureci tanto como pessoa que foi impossível não perceber mudanças no meu dia a dia com o trabalho. Aprendi a ser resolutivo, bem mais assertivo, buscar soluções rápidas. Minha criatividade para os desafios que pareciam não ter solução se tornou mais apurada. Minha procrastinação diminuiu e, quando acontece, é pensada, estratégica.

Mas qual a relação com a paternidade (no meu caso)?

O choro de criança é a manifestação de uma necessidade não atendida desesperadora para alguém que é dependente dos outros; além de ser, não por acaso, bastante desconfortável para quem está perto. A demanda deve ser atendida o quanto antes, de forma efetiva e eficaz para que aquele serzinho se recomponha.

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Pode ser fome.

Imagine você com fome sem saber como pegar um garfo, fazer um arroz, ou pedir um Ifood?

Pode ser sujeira.

Imagine você de fraldas sujas, sem ter altura para abrir a torneira, sem saber nem caminhar para o banheiro…

Pode ser sono.

Você ainda não sabe bem como colocar a música relaxante em seu celular, nem a meditação budista, nem mesmo a técnica mais básica de relaxamento. Também ainda não toma um vinho, nem remédios para auxiliar no sono.

Enfim, são necessidades básicas que precisam ser atendidas antes que o desespero da criança se torne o seu desespero. Somos seres empáticos por natureza. Portanto, não suportamos ver o outro em sofrimento sem sermos afetados em maior ou menos grau. Quando sabemos que somos os responsáveis diretos pela sobrevivência de uma criança, e assumimos esse papel, a forma como lidamos com as demandas muda. E essa mudança nos transforma em todos os sentidos. Pelo menos foi assim comigo…

Essas mudanças não necessariamente foram ou serão saudáveis para todos. Pessoas já muito estressadas, ou organizadas demais, podem sofrer muito com a sobrecarga de demandas que uma maternidade/paternidade vivenciada pode trazer.

Mas, certamente, mesmo os mais controladores aprenderão que, muitas vezes, as coisas saem do planejado. Portanto, se desejam estar minimamente em paz, deverão aceitar mais a vida como ela é. Ser mais flexível às mudanças e aceitar não estar no controle é uma habilidade cada vez mais fundamental para líderes e gestores.

Já os constantemente estressados, ou entram em crise e precisarão de apoio regular, ou deixam de se preocupar tanto com tantas coisas. As necessidades primordiais primeiro! O que precisa ser feito agora? Sim, temos uma visão para educação do nossa(o) filha(o), lemos sobre comidas saudáveis, sobre dormir cedo e ter disciplina, mas agora ela(e) precisa de uma troca de fraldas: Quem vai?

Nossa empresa precisa de planejamento estratégico, de metas a longo prazo, de visão clara para que possamos alinhar e motivar a equipe. Mas hoje temos um cliente pedindo um relatório para às 17h. Quem faz?

Depois de sermos pais presentes, as demandas urgentes – apesar de tudo ser urgente ultimamente – chegam sem tanto alarde, geram menos medo. Acabo de sair de uma noite em que vi minha filha quase jogar meu celular no vaso, pegou uma faca de ponta para provar o mel, achou que a tomada era para os dedos e tentou subir na janela umas quatro vezes. Será que um relatório é que vai me assustar? Não… Vou precisar de inteligência, organização, saber delegar, ou seja, habilidades e competências. Talvez venha mais uma noite com pouco sono… mas já estou mais acostumado com isso. Como mãe/pai, meu dia a dia me exige essa desenvoltura. Eu aprendi e lidar com situações de risco, com urgências, entendi como cuidar e resolver demandas prementes com agilidade.

Foi-se o tempo em que todas as decisões eram pensadas, debatidas e analisadas “com calma”, com tempo. O tempo é agora, e preciso, sim, de calma, mas a calma não virá do espaço/tempo que tenho entre a necessidade e a urgência em atendê-la. A calma, quando comigo, auxiliará para que, no agora, minha assertividade e intuição me conduzam à melhor tomada de decisão para a questão. Quando estiver desprovido de calma, é possível que a impulsividade me engane. Mas não tenho espaço para buscar essa calma em outras atividades até o momento da tomada de decisão.

Amanhã outro fornecedor pode ter apresentado uma proposta melhor. Um robô fez não um, mas três relatórios antes das 16h. Amanhã o post já não é novidade. Amanhã é muito tempo para um bebê ficar com fome, sujo, ou sem amparo dos pais.

Portanto, a paternidade me ensinou a viver o agora com mais intensidade. Me ensinou que preciso buscar a calma dentro de mim quando eu estiver no fogo cruzado; que a vida pode mudar meus rumos de uma hora para outra e que, mesmo quando faço meus planos mais lindos, ainda tenho a louça para lavar, o relatório para fazer, o e-mail para responder. E essa é a minha vida. E, nessa vida ordinária, posso encontrar tanto amor quanto num sorriso de uma filha amada. Um amor que não cabe no corpo, que transborda, que só descobri depois de ser pai. Pode parecer coisa singular, ou mesmo paradoxal: que o amor por um se transforme no amor por todos.

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