Maioria dos brasileiros não se preocupa com mudanças no mercado de trabalho e com futuro financeiro, mostra pesquisa
Estudo realizado pela seguradora Zurich e Universidade de Oxford ouviu 1.145 trabalhadores, entre 20 e 70 anos
Grande parte dos brasileiros não está preocupada com as profundas mudanças no mercado de trabalho e com a segurança de ter uma renda no futuro. Essa é uma das constatações da pesquisa ‘Agile Protection – Proteção social: do frágil ao ágil’, produzida pela seguradora Zurich em parceria com a Universidade de Oxford, com tendências de adaptações e estratégias de proteção de renda dos indivíduos, realizada junto a 1.145 trabalhadores brasileiros de 20 a 70 anos. A Agile Protection é um desdobramento do estudo Income Protection Gaps (IPGs), de 2018, sobre as lacunas de proteção de renda, e mostra que 65% dos brasileiros especializados em trabalho “braçal”, e 73% dos profissionais da área do conhecimento e criação, não têm receio de serem substituídos por tecnologias.
O estudo também mostra que mesmo diante das transformações no mercado de trabalho que impactam diretamente na renda, é baixo o número de brasileiros que se preocupa com o futuro financeiro, principalmente os mais jovens. Só 23% dos mais novos de 20 a 29 anos e 30% aqueles de 30 a 39 anos afirmaram que ter dinheiro para a aposentadoria é a maior preocupação.
Os dados fazem parte de um amplo levantamento realizado com 16.894 indivíduos de 20 a 70 anos, com alguma ocupação no mercado de trabalho em 15 países (Brasil, México, Austrália, Reino Unido, Irlanda, EUA, Espanha, Itália, Alemanha, Suíça, Emirados Árabes Unidos, Malásia, Hong Kong, Romênia e Japão). Participaram da pesquisa 1.145 brasileiros com uma renda mensal média de R$ 5.561,90. A coleta de dados online aconteceu de fevereiro a março deste ano com grupos divididos em jovens da geração millennials (20-29 anos), adultos da geração millennials (30-39 anos), adultos da geração X (40-54 anos) e baby boomers (55-70 anos). De acordo com o levantamento, em todas as estratificações analisadas, considerando idade e gênero, não há uma percepção clara do poder disruptivo das tecnologias e as suas consequências no tradicional modelo de trabalho.
Para Edson Franco, CEO da Zurich no Brasil, o modelo tradicional de se ter um único emprego ou uma única carreira por toda a vida não é mais a única possibilidade de trajetória, mas para isso é necessário um planejamento profissional e financeiro. “As inovações criam novos modelos de trabalho e mais liberdade para as pessoas. Entretanto, à medida que a flexibilidade dos trabalhadores aumenta, eles também tornam-se mais suscetíveis a perdas em relação a estabilidade de emprego e de renda. Nesse sentido, o estudo traz uma valiosa contribuição para refletirmos sobre o futuro dos empregos e a estabilidade financeira dos trabalhadores”, complementa o executivo.
Estabilidade no emprego
A maioria é conservadora em relação à estabilidade no emprego: 79% com idade entre 40 a 54 anos, 73% com 55 anos ou mais e 70% de 30 a 39 anos, disseram ser improvável deixar o atual emprego voluntariamente para uma mudança na vida profissional. Na análise por gênero, 80% das mulheres e 77% dos homens não pretendem deixar o trabalho.
A reciclagem profissional aparece com uma estratégia para se manterem empregados. A qualificação profissional é uma preocupação tanto pela maioria dos trabalhadores que executam trabalho “braçal” (81%), quanto para os profissionais da área do conhecimento e criação (85%).
Futuro financeiro incerto
A Agile Protection também revela que é baixo o número de brasileiros que se preocupa com o futuro financeiro. Apenas 23% dos jovens 20 e 29 anos e 30% dos que têm de 30 a 39 anos afirmou que ter dinheiro para a aposentadoria é a maior preocupação. O índice só aumenta um pouco entre os mais velhos: 44% dos baby boomers e 42% daqueles da geração X têm o mesmo sentimento.
Segundo a pesquisa, pagar conta mensal ainda é a principal preocupação para 49% dos jovens de 20 a 29 anos e para 46% dos adultos de 30 a 39 anos. As contas mensais também pesam para 43% dos adultos de 40 a 54 anos.
Outro indicador mapeado pelo levantamento foi o total de brasileiros que conseguiram guardar dinheiro no ano anterior. Dos 1.145 participantes, só 47% dos entrevistados de 55 anos ou mais, e 41% dos jovens de 20 a 29 anos afirmaram ter conseguido constituir uma reserva financeira em 2018. O grupo de brasileiros de 40 a 54 anos poupou menos. Só 36% guardou dinheiro em 2018. “Há um sentimento geral da necessidade de um planejamento financeiro de longo prazo para se ter um complemento de renda no futuro. Mas, no curto prazo, as despesas domésticas mensais ainda comprometem grande parte da renda dos brasileiros, principalmente aqueles com renda inferior a R$ 5 mil”, diz o executivo.
Mesmo não se preparando para fazer frente às profundas mudanças no mercado e poupando pouco, segundo o estudo, a maioria dos brasileiros está otimista quanto ao futuro financeiro. Para 79% dos trabalhadores que executam trabalho “braçal” e 82% dos profissionais da área do conhecimento e criação, a sua situação financeira vai melhorar.
Seguro de vida
Os brasileiros ainda têm pouco conhecimento sobre instrumentos de proteção de renda familiar e pessoal, segundo a Agile Protection. Apenas 10% das mulheres e 15% dos homens afirmaram ter familiaridade com o seguro de vida. O seguro para proteção de renda também só é conhecido por 10% das mulheres e 14% dos homens.
Na mostra analisada por gênero, a maioria das mulheres (90%) e dos homens (88%) disse não ter um seguro de vida ou um seguro de proteção de renda.
Na análise por faixa etária, 91% dos participantes com idade entre 40 e 54 anos, e 90% daqueles de 30 a 39 anos e 55 anos ou mais não têm nenhum dos dois seguros. Entre os jovens millenials de 20 a 29 anos, também é baixa a penetração do seguro de vida e do seguro de proteção de renda: 84% não os têm. “O índice de conhecimento e de aquisição de seguros ainda é baixo entre os consumidores brasileiros, por isso nosso desafio é informá-los sobre a importância de uma proteção para a renda familiar. Isso deve ser feito com forte investimento em educação financeira”, diz.
Em relação aos planos de previdência privada, o conhecimento é maior em comparação à familiaridade que os brasileiros têm com os seguros: 40% dos homens e 25% das mulheres participantes do estudo sabem o que uma previdência privada. “Mesmo sendo mais conhecido, apenas 6,17% da população brasileira e 14,8% do total de pessoas com alguma ocupação no mercado de trabalho têm um plano de previdência para constituir uma reserva de longo prazo”, avalia o executivo, ressaltando que é necessária uma conscientização de que os dois produtos são complementares.
Desdobramentos
A pesquisa Agile Protection produzida pela seguradora Zurich em parceria com a Universidade de Oxford (Smith School of Enterprise and the Environment), traz uma completa análise sobre as decisões financeiras e profissionais dos individuos diante das profundas mudanças no mercado de trabalho, e o papel do seguro de vida e da previdencia privada no planejamento de longo prazo dos entrevistados dos 15 países.
O estudo prevê para outubro de 2019 outro relatório tratando das questões apresentadas na pesquisa Agile Protection, apresentando uma visão global e peculiraidades de cada país.
Em 2020, em uma nova rodada, a seguradora Zurich e a Universidade de Oxford vão tratar de outros temas do ponto de vista dos empregadores em um levantamento sobre políticas e práticas em diversos países, e como as circunstâncias específicas de cada país podem estruturá-las.
Posteriormente, a seguradora e a universidade publicarão uma série de recomendações para melhorar a proteção financeira dos indivíduos – inclusive trabalhadores com empregos não-tradicionais. As recomendações serão direcionadas a governos, empregadores, seguradoras e outras instituições financeiras e intermediárias, assim como a indivíduos e famílias.
Mais informações sobre a Income Protection Gaps (IPGs) 2018 neste endereço.