Newton Queiroz: ‘Estamos focando nos pontos corretos durante a pandemia?’

Colunista do JRS traça ponto de inflexão sobre rumos do mercado segurador

É fato que a situação de 2020 trouxe à luz inúmeras necessidades da indústria seguradora, sendo que todos nós fomos colocados à prova no quesito transformação digital – que tanto falou-se nos últimos anos.

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No final, a indústria viu-se diante da aceleração da Transformação Digital, novas ferramentas e também maneiras de fazer negócio. Ainda tivemos as economias geradas em relação à diminuição de viagens, almoços e eventos em geral. Reduções essas, muito importante para investimentos necessários em várias frentes, visando impactar minimamente o consumidor final.

Quanto ao resultado geral, até o momento, a visão é que a indústria seguradora saiu-se bem, com um crescimento entre 0,6% e 1,3% (dependendo da fonte consultada). Mas realmente fomos tão bem assim mesmo?

Olhando a margem da indústria, podemos ver uma queda de mais de R$ 3 bilhões (15% de redução comparado com 2019), ou seja, independente de crescer em prêmio emitido, o resultado geral foi 15% pior que o ano anterior e isso nos traz a seguinte pergunta.

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Está 100% claro todos os desafios da indústria de seguros?

A resposta seria não. Por um lado, aprendemos que a demora em investimento em tecnologia e melhora de processos gerou um custo mais alto – dada a urgência. Com isso, a indústria tende a manter tais investimentos visando uma melhora continua em busca de reduções de custos administrativos. Com isso, é possível pensar que em três anos a indústria de seguros estará mais próxima do desejado pelos clientes – em comparação a outros segmentos do setor financeiro.

Agora por que crescemos em prêmios, mas decrescemos tanto em margem?

A resposta não é simples, mas algo que já podemos comentar é que o Brasil teve o menor índice de reajustes em suas taxas de seguro e a manutenção (com leve aumento) do custo de aquisição.

Agora, quais são as soluções para equilibrar os números, voltar a patamares de lucro igual (ou maior) que 2019 e ter um maior número de grupos seguradores gerando lucro operacional?

Se olhamos o índice combinado das seguradoras, em 2020, podemos ver que poucas conseguiram gerar margens de 10% ou mais.

Em 2019 a foto não foi tão diferente, mas os investimentos ajudaram (e muito) as seguradoras entregarem margens aceitáveis.

Em 2020 os resultados financeiros foram bem menores e o mesmo se espera em 2021, ou seja, se algo não mudar podemos ter um crescimento em prêmio novamente, mas uma continua redução na margem da indústria.

Essa redução pode levar a uma maior consolidação do mercado onde algumas seguradoras se destacam e terminam por dominar o mercado – o que do ponto de vista de competitividade não é positivo.

Bom. Após o exposto acima você pode se perguntar: Qual o objetivo deste texto?

Não, não é tomar uma visão pessimista do mercado, mas sim uma visão realista onde temos de ter claro que existe a necessidade de melhor balancear o mercado como um todo.

A solução não é simples pois, passa por temas como aumento de taxas e redução em custos de aquisição. Pontos que sempre geram grande desconforto, uma vez que há pelo menos uma década estamos vivendo em um mercado onde foi possível oferecer condições extremamente atraentes aos clientes, além de propiciar remunerações interessantes aos corretores sem comprometer as margens das seguradoras.

Agora, com o cenário atual, deparamo-nos com estes temas de uma maneira diferente, pois, se buscarmos manter a mesma tendência de redução e remuneração (cliente e corretor), as margens das seguradoras tendem a cair (ainda mais com os investimentos necessários para continuar com a Transformação Digital).

O resultado futuro pode ser nada interessante para todos nós, incluindo o cliente final – que pode acabar tendo um número bem menor de ofertas no mercado e, com isso, uma menor competitividade nos produtos atuais e futuros.

Portanto, a hora de analisar a fundo estes temas (por mais que sejam desconfortáveis) é agora. E para isso temos que olhar a indústria como um todo e pensar no bem maior. Ou seja: a manutenção do maior número possível de seguradoras, empregos e tantos outros pontos mais.

Pode ser que o ano de 2021 acabe sendo mais desafiador para todos nós se a indústria resolver ajustar tais pontos, mas se a indústria seguir ignorando estes temas o preço futuro pode ser muito mais caro.

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