Número de pessoas físicas na B3 tem alta recorde e bate 2,24 milhões em março
Investidores locais seguem resilientes apesar de toda a turbulência do mercado
O mau desempenho da bolsa no mês de março, com a pior queda mensal (-30%) em 22 anos, não foi suficiente para espantar o investidor pessoa física. Pelo contrário, em relação a fevereiro, a base de CPFs registrados como investidores na B3 teve sua maior alta, de 15%, atingindo novo recorde com 2,24 milhões de pessoas físicas.
De acordo com a B3, no entanto, alguns desses CPFs podem se repetir na base, então se a pessoa tiver conta em mais de uma corretora ela pode ser contabilizada mais de uma vez pelo cadastro do agente de custódia.
Em comparação a 2019, que já foi um ano de recorde de pessoas físicas, o salto no número de CPFs foi de 33%. E ainda estamos no primeiro trimestre. No perfil, a maioria, 76,3%, ainda são de homens, enquanto 23,7% são mulheres. Da base de faixa hetária, a maior fatia, de 36% têm mais de 66 anos.
Se os investidores estrangeiros batem recordes consecutivos de retirada de recursos da bolsa brasileira, com destaque para o mercado secundário, os investidores locais seguem resilientes apesar de toda a turbulência do mercado.
Num mês marcado por uma queda de 29,90% do Ibovespa, a maior desvalorização mensal em 22 anos, com direito a seis circuit breakers, as pessoas físicas fizeram um aporte de líquido de R$ 17,6 bilhões na bolsa brasileira.
O movimento foi na contramão do que fizeram os investidores estrangeiros, que sacaram liquidamente R$ 24,2 bilhões do mercado secundário. Já os investidores institucionais colocaram R$ 4 bilhões na bolsa durante o mês passado. Os dados, informados pela B3, foram elaborados pelo Valor Data.
No ano, o resultado não é diferente: pessoas físicas seguem com um saldo positivo de R$ 26,1 bilhões, valor muito próximo do que os estrangeiros retiraram daqui em apenas um mês. Os institucionais, por sua vez, aportaram R$ 36,3 bilhões em 2020.
Já a fuga dos estrangeiros é evidente, com um saque de R$ 64,3 bilhões em recursos em apenas três meses, de longe a maior retirada líquida para um período de três meses da série histórica.
Para analistas, esse aparente sangue-frio da pessoa física se deve à percepção de que, com a queda recente, apareceram oportunidades de compra.
“No início do ano, houve aportes dos locais porque ninguém entendia direito essa questão do coronavírus, se ele chegaria por aqui, quais seriam os impactos. Uma vez que chegou e os casos no mundo aumentaram, a bolsa derretou, mas aí surgiu a oportunidade de comprar”, explica analista de investimentos da Daycoval Investimentos, Enrico Cozzolino.
Ele ainda avalia que isso acontece porque os preços atuais das ações não condizem com aquilo que a empresa realmente vale, citando casos como Banco do Brasil e Gerdau. Logo, se os preços não condizem com os fundamentos da empresa, em algum momento haverá um ajuste e, portanto, oportunidade de ganhos com a valorização.
“Fluxo vendedor e pânico não conversam com fundamento, então essa situação acaba sendo um chamariz para pessoas físicas e fundos de investimentos”, diz o analista, ressaltando que de fato todos os setores sofrem e ainda devem sofrer de maneira geral com a crise do coronavírus, mas empresas com bons fundamentos prometem resistir ao período ruim.