Pandemia faz Brasil ter maior número de usuários de planos de saúde desde 2016

Mesmo com dificuldades financeiras, população tem priorizado manter benefício na hora de definir o orçamento familiar

Em tempos de crise sanitária e financeira, o brasileiro tem se desdobrado para equilibrar o orçamento sem abrir mão do plano de saúde. Em 2021 o setor registrou o total de 48.995.883 beneficiários, o maior número desde janeiro de 2016 segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). O crescimento foi de 1.508.134 usuários em um ano, alta de 3,18%. A modalidade empresarial representa 68% deste total, seguida pelo individual (18%) e pelo coletivo por adesão (13%). O plano de saúde individual foi o único que perdeu usuários em 2021, passando de 9.044.454 para 8.910.918 beneficiários em um ano, queda de 1,47%.

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C Josias & Ferrer no JRS

A pandemia da covid-19 escancarou a preocupação dos brasileiros com a saúde. É o que aponta a Pesquisa ANAB de Planos de Saúde, encomendada pela Associação Nacional das Administradoras de Benefício ao instituto Bateiah Estratégia e Reputação. Para 81% das pessoas, a crise fez aumentar o receito do acesso a tratamentos médicos. Entre os que possuem menor poder aquisitivo, com renda até cinco salários mínimos, a preocupação aumentou muito. A pesquisa traça um panorama os planos de saúde no Brasil e traz um perfil de seus beneficiários.

“Ter plano de saúde hoje é um dos maiores desejos de consumo do brasileiro, atrás apenas da casa própria e de educação. Enquanto o número de novos usuários cresce, vemos também uma parcela de pessoas que buscam uma solução para manter o plano, especialmente em virtude do preço. De modo geral, nosso sistema público de saúde passou por momentos de superlotação e até esgotamento nesse período de quase dois anos. Não apenas a preocupação aumentou, como também despertou a necessidade de ter a garantia de atendimento médico sempre que precisar”, explica Alessandro Acayaba de Toledo, advogado especializado em direito na saúde e presidente da Associação Nacional das Administradoras de Benefícios (ANAB).

Em relação aos dados por estado, a ANS divulgou que no comparativo com dezembro de 2020 o setor registrou aumento de beneficiários em planos de assistência médica em 24 unidades federativas, sendo São Paulo, Minas Gerais e Paraná os que tiveram o maior ganho de beneficiários em números absolutos. Há em atuação, segundo a ANS, 703 operadoras de planos de saúde.

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O papel das administradoras de benefícios

A ANAB representa as empresas que fazem a gestão e comercialização de planos de saúde coletivos, aquela em que o benefício é vinculado a alguma empresa ou entidade de classe a que o consumidor pertença. De acordo com a ANS, há 168 administradoras de benefícios cadastradas no país.

Levantamento da ANAB aponta que, nos últimos 9 anos, quem tinha uma administradora de benefícios na gestão do plano de saúde economizou R$ 6,6 bilhões. Esse valor representa a diferença entre o reajuste pedido pelas operadoras anualmente e o efetivamente cobrado dos clientes das administradoras de benefícios após a atuação dessas empresas na negociação em prol dos consumidores; gerando uma economia mensal por beneficiário de R$ 131.

Pesquisa ANAB de Planos de Saúde

Para levantar os dados, foram entrevistados mais de 1 mil usuários de planos de saúde a partir de 16 anos em todo o país, com amostras em capitais, regiões metropolitanas e cidades de interior. Também consideraram fatores como gênero, idade, escolaridade, renda familiar e ocupação. Foi realizada entre os dias 16 e 28 de setembro por meio de entrevistas telefônicas com 1006 respondentes em 420 municípios do país. De acordo com o instituto Bateiah Estratégia e Reputação, a margem de erro é de 3%.

O sonho do plano de saúde próprio

A pesquisa mostra que os consumidores enxergam o plano de saúde como uma conquista, tal qual ter um imóvel, um veículo, realizar uma viagem ou ter investimentos. O plano é a terceira maior conquista do brasileiro em 2021. Na faixa etária acima de 50 anos, benefício só perde para a casa própria em importância. Quanto menor a renda familiar e o grau de escolaridade, maior é o reconhecimento do plano. Ao menos 18,7% dos respondentes que ganham até dois salários mínimos indicam o benefício como conquista, da mesma forma que 21,8% dos entrevistados com o Ensino Médio também reconhecem. Em relação a idade, essa percepção é ainda maior entre os entrevistados com 50 anos ou mais, que representam 25,5%. Mas é na parcela da população aposentada que o plano assume papel principal e toma a frente no ranking das conquistas dos brasileiros, deixando casa própria e automóvel para trás. Ao menos 50,6% dos entrevistados aposentados indicam o plano como conquista.

Percepção dos planos

O plano como conquista também tem uma relação direta com a percepção de segurança do beneficiário sobre sua saúde. Ao menos 69% disseram que o benefício é uma salvaguarda em casos de necessidade, enquanto que para 31% é uma necessidade recorrente.

Quando precisam utilizar os serviços do plano, a maioria dos beneficiários recorrem a consultas com especialistas (69%) seguida de exames (13,3%) e emergência (8,7%). O levantamento da ANAB também verificou que mesmo com plano, 42% dos beneficiários utilizam serviços do Sistema Único de Saúde (SUS). O serviço de vacinação é o mais mencionado entre o uso no SUS, indicado por 49,3% dos respondentes. A procura é maior entre os mais velhos e a população com menor poder aquisitivo.

Avaliação do beneficiário

Na percepção dos beneficiários, a agilidade no atendimento é o fator mais importante em um plano de saúde, indicado por 24,2% dos respondentes. A facilidade de autorização de procedimentos aparece em segundo lugar com 15,4% seguida pela rede médica contemplada no contrato, com 14,4%. No top cinco aparecem ainda serviços oferecidos (11,1%) e rede de profissionais (10,9%).

Relação custo-benefício

O estudo da ANAB também analisou a relação entre custo e benefício do plano de saúde na visão dos clientes. Para 49,2% dos respondentes, a importância de ter um plano de saúde aumentou muito com a pandemia, no entanto, não são receptivos a possíveis aumentos. A resistência é ainda maior entre os homens, que representam 51,5% dos que reconhecem a importância do plano, mas não estão dispostos a pagar mais por isso. Em relação à idade, o percentual é maior entre os respondentes de 40 a 49 anos, que correspondem a 56,1% dos que não se dispõem a valores adicionais. No geral, apenas 20% dos entrevistados se mostram abertos a pagar mais pelo plano de saúde.

Em contrapartida, mesmo com as possibilidades de negociações de preço com as operadoras ou a mudança do plano via portabilidade de carências, 91,4% dos respondentes preferem deixar o benefício como está e apenas 7,8% fariam mudanças para redução de custo.

Para Alessandro Acayaba de Toledo, presidente da ANAB, o consumidor ainda carece de informações claras sobre seus direitos no plano de saúde. Dados da pesquisa mostram que ao menos 35% dos beneficiários sentem algum nível de dificuldade ao analisar as propostas das operadoras. Para 44% deles, o auxílio de um consultor para tirar dúvidas faria diferença.

“O mercado tem dado resposta a esse desejo de manter o plano de saúde com o lançamento de produtos a preços mais atrativos e até sugerindo a portabilidade de carências, como a ANAB tem feito. É fundamental que o consumidor tenha conhecimento desses direitos para tomar as melhores escolhas para sua saúde, inclusive a financeira”, diz Alessandro.

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