Risco medido pelas práticas ambientais, sociais e de governança

Confira artigo de Solange Beatriz Palheiro Mendes, diretora-executiva da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg)

O setor segurador deu uma prova importante neste ano do quanto será estratégico para validar se uma instituição adota as práticas ambientais, sociais e de governança (ASG). Uma renomada companhia europeia negou a subscrição de risco para uma grande mineradora australiana por entender que esta feria seriamente os critérios de sustentabilidade. Daqui a alguns anos, a tendência é que as seguradoras passem a avaliar essas métricas cuidadosamente – não apenas no que tange à questão de meio ambiente – antes de emitirem uma apólice, tornando-se balizadoras que vão validar se uma empresa realmente é ASG, ou se apenas adota o discurso, o chamado greenwashing.

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Outro passo importante foi o lançamento da Net – Zero Insurance Alliance (NZIA), em tradução livre, “Aliança Seguradora para o Carbono Zero”, na qual oito das seguradoras e resseguradoras líderes mundiais se comprometeram a fazer a transição de suas carteiras de subscrição para emissões líquidas de gases de efeito estufa até 2050.

Nesse contexto, o setor entende que para avaliar métricas que contribuam para o enfrentamento das adversidades climáticas e a diminuição dos impactos sociais, precisa fazer o exercício de olhar para dentro e organizar a sua própria atuação. A Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) tem essa questão mais estruturada há quase dez anos, a partir da criação da Comissão de Integração ASG que, entre outras ações, passou a divulgar anualmente o Relatório de Sustentabilidade do Setor. Na edição mais recente do Relatório, lançada em setembro, foram divulgados números que mostram que o setor de seguros brasileiro vem incorporando gradativamente a cultura relacionada ao desenvolvimento sustentável nas suas tomadas de decisão e em seu ambiente organizacional.

Das 34 seguradoras que participaram do levantamento – juntas, correspondem a 85,7% do mercado representando pela CNseg e as quatro federações que a compõem – 90,5% das participantes afirmaram que integram temas ASG na estratégia da organização. Essa integração ocorre em diversos aspectos, incluindo: procedimentos, políticas e planejamento estratégico (84,2%), criação de produtos ou serviços (73,7%), condições contratuais das apólices, gestão de investimento e subscrição de riscos (47,4%) e na regulação de sinistros (42,1%).

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Outro ponto importante é que 55% informaram que incluem tópicos ASG na política de investimentos, próprios ou geridos por terceiros. Além disso, 35% contam com metodologia de avaliação ASG na análise e gestão de ativos, enquanto 5% estão em fase de implementação e 20% pretendem adotar no futuro.

Um dado merecedor de destaque é que 58,3% disseram já ter produtos ou linhas de negócio relacionadas ao risco ou responsabilidade ambiental. Destacam-se: incentivo ao reparo de peças em vez de troca, no caso de quebra de vidros no seguro auto; programa de gerenciamento de resíduos automotivos; reciclagem e reaproveitamento de peças automotivas; destinação de sucatas e peças substituídas de veículos danificados em acidentes; inspeção veicular móvel para conscientizar o motorista sobre a importância da manutenção preventiva do veículo; consórcio para compra de placas solares; cobertura para equipamentos de energia solar ou eólica; programa de reciclagem de cartões plásticos; plano de ação para reduzir, no menor prazo possível, o atendimento a sinistros e pagamento de indenizações a segurados afetados por tragédias naturais.

Nas questões de governança, 90,5% responderam manter um serviço de Ouvidoria e 76,2% disseram que mantém canais externos sigilosos e anônimos para denúncias de comportamentos não éticos ou incompatíveis com a legislação. E 57,9% afirmaram que adotam práticas para o alcance da igualdade de gênero e empoderamento de todas as mulheres e meninas.

Esses índices são muito positivos e mostram que o comprometimento do setor segurador com o tripé ASG está avançado, o que só é possível porque a preocupação não é recente, mas sim, de um segmento que tem a cultura do planejamento e antecipação de riscos no DNA.

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