Sustentabilidade como vetor estratégico para os negócios
Olhar estratégico considera também os aspectos ambientais, sociais e de governança corporativa
A incorporação de critérios de sustentabilidade à estratégia das empresas foi um dos grandes marcos do processo de evolução mundial. Esse olhar estratégico a partir de um contexto mais amplo, que envolve não apenas o desempenho econômico-financeiro, mas considera também os aspectos ambientais, sociais e de governança corporativa, há muito tempo vem ganhando força, tanto no ambiente corporativo como na esfera pública.
Mas, afinal, o que é sustentabilidade? Essa é uma questão que poderia ser respondida de diversas maneiras. Mas me concentrarei em apresentar esse conceito de um jeito simples e objetivo: sustentabilidade é uma forma de preparar a organização para o futuro, demonstrando ao mercado que a empresa possui uma visão de longo prazo e orienta seus investimentos nessa direção.
Para Michael Porter, professor da Harvard Business School e uma das maiores autoridades mundiais em estratégia competitiva, a maneira mais poderosa para se resolver um problema da sociedade é fazê-lo por meios sustentáveis, gerando lucro e criando um modelo de negócios. Não basta apenas realizar uma doação filantrópica, é preciso responder a uma necessidade com serviços que podem ser sustentados a partir de um modelo de negócio que gere valor compartilhado.
As demandas atuais da sociedade exigem, cada vez mais, que as empresas adotem, por meio dos seus produtos e serviços, um posicionamento ético e responsável dos pontos de vistas financeiro, social e ambiental. Nesse contexto, a sustentabilidade deixa de ser apenas um modismo para se consolidar como um desafio global para empresas, governos e sociedade, gerando um grande diferencial competitivo.
Mas a simples adoção de uma miscelânea de táticas e ações isoladas não compõe uma atuação estratégica sustentável. A sustentabilidade deve fazer parte do posicionamento estratégico da empresa, orientando suas ações e decisões.
Uma estratégia de sustentabilidade no setor de seguros passa, necessariamente, por compreender os temas críticos (sociais, ambientais e de governança corporativa) nas principais cadeias de valor para as quais a organização oferece suas soluções de transferência de risco. A ideia aqui é focar estrategicamente nas questões ‘materiais’, ou seja, aquelas de maior impacto sobre a capacidade da empresa de gerar valor para seus clientes e acionistas, produzindo inovações nos produtos e serviços.
Percebendo a importância do cenário, o mercado de seguros se movimentou para consolidar a cultura da sustentabilidade, com o lançamento, em junho de 2012, do PSI – Principles for Sustainable Insurance (Princípios para Sustentabilidade em Seguros).
Esta, que é uma iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente/Iniciativa Financeira – UNEP/FI, em parceria com a Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg), tem contribuído para a formação de uma nova consciência entre as empresas do setor.
Os princípios não foram desenvolvidos para serem obrigatórios. Por isso, cabe à indústria seguradora arregaçar as mangas e adotar essas práticas em seu dia a dia, em busca de um segmento mais responsável, transparente, consciente e preparado para o gerenciamento de riscos e o desenvolvimento de soluções sustentáveis para o setor.
O grande desafio é disseminar uma cultura de prevenção, por meio do seguro, para educar a população e garantir o seu acesso aos produtos. Esta é uma atitude sustentável. É preciso levar informação para a sociedade, engajando as pessoas e as empresas para a construção de um novo cenário, mais inclusivo.
Uma empresa sustentável zela pela qualidade ética e transparente das relações com os seus públicos; incorpora interesses legítimos das partes envolvidas em seus planos estratégicos; considera o impacto de suas ações no meio ambiente e identifica estratégias para reduzi-los; e, principalmente, assume um posicionamento e não apenas uma postura legal ou puramente filantrópica.
A experiência mostra que as grandes iniciativas podem começar por aquilo que, à primeira vista, parece pequeno, rotineiro. Sim, é preciso pesquisar e inovar para a sustentabilidade. Mas também é preciso manter os gastos corriqueiros como essenciais – cortar custos desnecessários, economizar recursos como água e energia, usar frente e verso do papel, reciclar, reduzir resíduos, otimizar processos logísticos e, fundamentalmente, educar para a cultura do seguro.