Tendências de consumo e mudanças estruturais no pós-pandemia

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Especialistas analisam os atuais hábitos de consumo e sugerem mudanças estruturais com foco no fortalecimento local

A crise ocasionada pela pandemia do coronavírus paralisou a economia global, fechou fronteiras e deturpou as noções de cultura e sociedade. Contudo, com o surgimento de novas vacinas e a esperança de um amanhã melhor, diversos questionamentos começam a surgir: no pós-pandemia, o mundo que encontraremos será o mesmo que tínhamos antes? Como nós, como sociedade e comércio, podemos reagir a isso? Quais os tipos de negócios que irão aflorar primeiro quando tudo voltar ao normal? Se até a forma como nos cumprimentamos mudou – os abraços e beijos deram lugar a acenos distantes –, o que serão dos outros hábitos culturais?

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Para o empresário do segmento da alimentação José Araújo Netto, fundador das redes Porks – Porco & Chope e Mr. Hoppy, que contam com mais de 60 unidades espalhadas pelo país, a recuperação mais rápida só vai acontecer por meio da responsabilidade social e do sentimento de comunidade. “Este é um momento crucial na trajetória da população mundial para agirmos em prol de uma reabilitação conjunta”, diz. “É preciso pensar nos pequenos comerciantes do bairro e fazer com que o dinheiro continue circulando para que haja um crescimento compartilhado, não apenas individual”, afirma.

Nos últimos anos, grande parte da população dirigia seus esforços de compra para as grandes redes de comércio, que conseguem vender barato, com qualidade e relativamente perto, entretanto não fazem o comércio local girar. Para Araújo Netto, campanhas como “compre do pequeno”, que circulam na internet desde o início da pandemia, são essenciais para que os danos da crise sejam reduzidos gradualmente. “O empreendedor sabe as dificuldades que vêm enfrentando e terá que se reinventar para sair da crise, mas este é o momento do consumidor ser inteligente a ponto de fazer parte dessa transformação, não pode ser mais um simples receptor”, explica. “A partir do momento que o consumidor deixa claro o que precisa e se mostra disposto a pagar um pouco mais, o pequeno comerciante pode retribuir, aumentando a qualidade e gerando benefícios a sua comunidade local”, diz.

Para Horacio Coutinho Junior, consultor de Negócios e Marketing em San Diego (EUA), o momento exige mudanças em termos de estratégia empresarial. “Para se reinventar, é preciso ter personalidade de marca. Não adianta fingir que se preocupa com o bairro, mas não se envolver com a comunidade”, diz. “É momento do dono de restaurante entender que não vende comida, mas sim uma experiência. Afinal, se fosse só pela comida, o serviço de entrega por delivery deveria servir”, conta.

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De acordo com o especialista, nessa nova construção de coletivos e interesses em comum, será preciso reduzir a polarização do comércio para que a renda seja melhor distribuída localmente. “A questão não pode mais ser ganhar dinheiro só pelo dinheiro em si, mas sim para fortalecer a comunidade em que seu comércio está inserido”, afirma. Para Coutinho Junior, os empresários estão pensando em resolver seus problemas com uma mentalidade anterior à crise, mas que não será suficiente para o mundo pós-pandemia. “Dinheiro sem construção social leva ao caos que vivemos hoje”, complementa o consultor.

Embora ainda existam muitos desafios pela frente para chegarmos a este modelo de sociedade proposto, o atual momento nos permite pensar qual rumo queremos dar para nossas vidas. “Se a resposta encontrada for uma mudança de ritmo, com mais tempo para a família e mais qualidade de vida, esta crise ainda pode trazer resultados positivos para o futuro”, completa Araújo Netto.

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