Nelson Wedekin questiona medidas de ex-superintendente da Susep

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Ex-presidente do Grupo Aplub escreveu carta aberta a Roberto Westenberger

Em carta aberta, o ex-presidente do Grupo Aplub, Nelson Wedekin, questiona medidas de intervenção adotadas na companhia pelo ex-superintendente da Superintendência de Seguros Privados, Roberto Westenberger.

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C Josias & Ferrer no JRS

No texto, Wedekin refuta afirmações feitas pelo ex-superintendente de que intervenção é uma medida normal, que não causa efeitos ou prejuízos. “Como se a intervenção não fosse a ante-sala da liquidação”, escreveu.

Ele também contesta os motivos que levaram a Susep a intervir imediatamente na Aplub, mesmo com a companhia apresentando plano de recuperação. “O senhor não prestou a menor atenção aos propósitos elevados, à firme disposição e aos sólidos fundamentos dos planos de recuperação apresentados. Talvez nem tenha percebido que o primeiro deles tinha como valor básico de R$ 89 milhões, uma estimativa realista da própria Susep”, diz.

Em sua carta de despedida, Westenberger afirmou que todas as medidas adotadas em sua gestão teriam sido em prol dos consumidores. Wedekin defende que não foi o caso da Aplub. “O senhor e a Susep deixaram à deriva, em mar crispado, 30 mil associados e seis mil beneficiários da Aplub, quando tinham à mão um barco salva-vidas, capaz de, no mínimo, só com os recursos já em poder da autarquia e de outros que seriam aportados, dar uma sobrevida de três ou quatro anos à entidade, se tudo corresse mal, e da permanência por tempo indefinido, se as coisas se desdobrassem com razoável normalidade”, destaca.

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Procurado pela redação do Grupo JRS, Roberto Westenberger não se manifestou sobre as considerações de Wedekin acima citadas.

Confira a carta de Nelson Wedekin na íntegra: 

Porto Alegre – RS, 25 de julho de 2016.

Sr. Roberto Westenberger
ex-Superintendente da SUSEP
Rio de Janeiro – RJ

Senhor:

Escrevo-lhe na qualidade de ex-presidente do grupo APLUB (até agosto de 2013) e de associado daquela instituição.

A sua carta de despedida da SUSEP, afinal, esclarece as razões verdadeiras da intervenção na Associação dos Profissionais Liberais Universitários do Brasil-APLUB, uma entidade que em 51 anos de existência e até o dia de hoje nunca atrasou nenhum pagamento dos seus atuais seis mil beneficiários mensais, de salários, de fornecedores, de obrigações tributárias, sociais e trabalhistas.

Já havia estranhado uma declaração anterior sua, de que, na dúvida, propunha a intervenção na companhia ou entidade. É um disparate e tanto. Só uma pessoa muito desavisada seria capaz de enunciá-la. Um profissional ginasiano do mercado saberia que é exatamente o inverso: é preciso ter definitiva certeza da situação insanável da entidade para – só depois – aplicar o remédio extremo. Aplicado antes, na dúvida, pode matar o paciente.

Em reunião no Rio, com a APLUB, o senhor causou outro susto, ao afirmar, en passant, tal como faria um iniciante no mercado, que a intervenção é uma medida normal, que não causa maior efeito ou prejuízo – como se a intervenção não fosse a ante-sala da liquidação.

Mas a sua carta de despedida demonstra que não se tratava de desconhecimento, mas de intenção, quando enfatiza “a ação peremptória na liquidação de empresas que não mais reúnem capacidade econômica-financeira para seguir operando”. Até estaria bem, se antes esgotassem fórmulas e possibilidades de recuperação de uma empresa em tal situação.

Mas a ação confessada era peremptória, isto é, terminante e decisiva, como ensina o dicionário. O senhor estava lá para liquidar as companhias, que a seu juízo, ou a juízo da SUSEP, não detinham mais condições de permanecer no mercado.

Dá para entender, perfeitamente, porque a APLUB, depois de seis meses de direção fiscal, teve de um dia para o outro, em dezembro, decretada a sua intervenção, mesmo apresentando um plano de recuperação mais do que viável, com aporte imediato de recursos (R$ 15 milhões de reais, que estão no caixa da APLUB até hoje) e com a promessa de adicionar mais outros R$ 50 milhões em 60 dias, dentre os quais ativos oferecidos por ex-diretores e ex-conselheiros da entidade, o que era uma prova insofismável da seriedade de nossas intenções.

O senhor não prestou a menor atenção aos propósitos elevados, à firme disposição e aos sólidos fundamentos dos planos de recuperação apresentados. Talvez nem tenha percebido que o primeiro deles tinha como valor básico de R$ 89 milhões, uma estimativa realista da própria SUSEP. Em reunião que o senhor presidiu no Rio, no fim de novembro de 2015, nos foram cobradas, da forma mais ríspida, uma série de providências e aportes, como se a SUSEP tivesse aprovado o plano inicial. Cumprimos as exigências em dois dias, mas era um blefe, tentando nos tomar os recursos que havíamos oferecido, sem entretanto levantar a intervenção.

Talvez surpresos com a nossa pronta e firme disposição de dar uma solução de qualidade para a APLUB, a autarquia adotou práticas deletérias. Primeiro, enviando sinais trocados, alternando o mau humor da citada reunião do Rio com uma atitude de certa compreensão, de que a liquidação não era o propósito, como o senhor repetiu tantas vezes a interlocutores nossos. Enquanto isso, em Porto Alegre a interventoria cumpria (e continua cumprindo até hoje) a tarefa de acelerar o esforço cerebrino, inaudito, sistemático, sem abrir exceção, de expurgar bens e ativos, de retirar-lhes valor e de inchar nossos passivos. Se o método utilizado no caso da APLUB, de calcular e refazer contas e valores for usado para todas as instituições do mercado, não sobrará nenhuma para contar a história.

E enquanto acenava com a possibilidade de se alcançar um ajuste seguro e elevado, da noite para o dia, na undécima hora, no dia 17 de dezembro, na última reunião do ano do Conselho Diretor – depois a SUSEP entrou em férias coletivas de final de ano – decretou a intervenção.

Desculpe, senhor Roberto, mas não é assim que fazem pessoas honestas, e mais ainda, servidores e agentes públicos. Mas o senhor fez, a entidade da qual era superintendente fez, sem a menor complacência, como se tudo fosse normal.

A intervenção era “peremptória”, isto é, de caso pensado, visando a liquidação. O voto das razões da medida foi redigido somente depois, ficou secreto por mais de 25 dias. E o senhor se gaba de uma “nova SUSEP”!

No voto conhecido somente 25 dias depois, descobrimos que o valor da insuficiência da entidade não era de R$ 89 milhões de reais, a primeira conta da SUSEP, mas de R$ 137 milhões. Com a ação frenética em curso na sede da entidade, de reduzir e expurgar ativos e de inflar passivos, em pouco tempo, duas semanas se tanto, o valor já estava acima da casa dos R$ 200 milhões de reais! A cada um desses valores formulamos planos, revisamos valores, buscamos soluções possíveis.

O senhor afirma, na sua despedida, que todas as ações e medidas tomadas na sua gestão, foram em prol dos consumidores. Não no caso da APLUB. O senhor e a SUSEP deixaram à deriva, em mar crispado, 30 mil associados e seis mil beneficiários da APLUB, quando tinham à mão um barco salva-vidas, capaz de, no mínimo, só com os recursos já em poder da autarquia e de outros que seriam aportados, dar uma sobrevida de três ou quatro anos à entidade, se tudo corresse mal, e da permanência por tempo indefinido, se as coisas se desdobrassem com razoável normalidade.

É inacreditável que não tenha ocorrido ao senhor, a algum diretor ou alto comissário da SUSEP, a ideia simples de que com os valores já aportados e a aportar no curto prazo, haveria uma redução do risco e do prejuízo dos associados e dos beneficiários da APLUB, em alguns milhões de reais – algo na ordem dos R$ 75 milhões de reais. Mas porque argumento tão elementar e verdadeiro iria sensibilizar, se a intenção era “peremptória”?

O senhor reclama, na sua carta de “pressões” políticas que recebeu. É interessante. Para a nomeação se busca o apoio dos políticos. Quando eles, os políticos, fazem pedidos (ao menos, e com certeza no nosso caso) plenamente legais, razoáveis e republicanos, se diz que é “pressão”. E de quem o senhor sofreu pressão para a intenção “peremptória” de liquidação? Das grandes empresas e conglomerados do setor? No caso da APLUB, dos escalões gerenciais e intermediários da autarquia, que não gostam de entidades sem fins lucrativos, mesmo que a lei complementar tenha assegurado a sua existência e funcionamento?

Desculpe de novo, senhor Roberto, para dizer o mínimo é patético, ocupar um posto da relevância da superintendência da SUSEP e se queixar de “pressão”.

Se queixa também o senhor de ameaças sofridas. Nossas é que não foram, porque ameaças não fazem parte de nosso estilo e repertório. Do que somos contrários, contra o que nos insurgimos, o que achamos abusivo e ilegal, ou apresentamos argumentos visando uma solução consensual (no que nunca fomos bem sucedidos com a SUSEP) ou fazemos o que se costuma fazer no Estado Democrático de Direito: recorremos à Justiça.

(A SUSEP, em amplos setores internos, detesta ser contrariada e não gosta de cumprir decisões judiciais. E não se exime de retaliar quando perde – o que é comum – na Justiça. Mudar tal atitude – eis aí o que seria, sim, um grande ato de gestão. Mas certamente isso não lhe passou pela cabeça).

O que eu pretendo com esta carta, Dr. Roberto? Nada, a não ser o registro necessário. Continua em curso a ação “peremptória”. Os negócios da APLUB estão paralisados, os passivos da entidade estão inchados de forma artificial e desproporcionada, os ativos desidratados. Prossegue o empenho de “enquadrar” a entidade na situação de insolvência, para levá-la à liquidação. Nem reajustes previstos em contratos a interventoria se dignou aplicar, abrindo mão de forma temerária e displicente, de receitas que a APLUB não pode dispensar. A interventoria cumpre com aplicação e brilho o desiderato sinistro.

Lembro-lhe, para finalizar, que não convivemos, o senhor como superintendente da SUSEP e eu como dirigente da APLUB ou de empresa do grupo. Quando o senhor entrou, eu já havia saído em agosto de 2013. A questão não é pessoal, mas institucional.

Desejo que o senhor tenha saúde, seja feliz e bem sucedido. Costumo relevar o mal que me fazem ou que nos fazem. Nós, humanos, não somos perfeitos. Mas, como disse acima, fique o registro.

Nelson Wedekin
Associado e ex-presidente do grupo APLUB

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