Instabilidade econômica é o principal desafio para inovação no transporte de cargas
Apesar das tecnologias e das transformações, transportadores afirmam que ainda há muito o que evoluir no setor
A inovação é uma necessidade já percebida pelo universo corporativo, e um levantamento encomendado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e desenvolvido pelo Instituto FSB Pesquisa revelou que 83% das empresas precisarão de mais inovação para crescer ou até mesmo para sobreviver no mundo pós-pandemia. Contudo, é preciso compreender que nem sempre inovação é sinônimo de disrupção ou de tecnologias revolucionárias.
Algumas mudanças no setor de transporte rodoviário de cargas (TRC) podem ser claramente percebidas nos mais diversos níveis do segmento, como no monitoramento das operações, na gestão de frotas, na produtividade dos veículos e na gestão do transporte. Graças à evolução tecnológica que o setor tem vivenciado, tudo isso simplifica alguns processos e algumas atividades diárias.
Em contrapartida, o diretor executivo da Ghelere Transportes, Eduardo Ghelere, comenta que, apesar do grande salto dado em comparação com o TRC de alguns anos, ainda há um caminho muito grande a se percorrer. “Ao olhar tudo que nos permeia no setor de transporte, em geral, temos um veículo que parece ter evoluído, mas usa um motor diesel de mais de 50 anos. As mudanças foram alguns sensores e incrementos que tornaram nossa vida mais prática e fácil, no entanto o caminhão ainda precisa ir à oficina, trocar óleo e fazer manutenção, por exemplo”, observa.
Os 14 anos de carreira na transportadora, somado às suas ocupações anteriores diretamente ligadas à tecnologia para o segmento, auxiliaram na construção de uma visão mais crítica e progressista, algo que vem permitindo à transportadora dar grandes saltos no mercado.
“Realmente, houve pouca relevância disruptiva. Agora, incremental, tivemos muitas transformações, como telemetria, rastreamento, sensores e dados em uma série de fatores. A questão é o que estamos fazendo com isso. Levaremos os mesmos 50 anos só pensando em sensores melhores e em práticas incrementais?”, indaga Ghelere.
Fato é que para que a inovação seja possível, é preciso contar com recursos financeiros avantajados. Eduardo pondera que, se os transportadores tivessem uma margem de lucro maior, estariam desfrutando dos melhores recursos disponíveis no mercado, utilizando mais tempo para analisar os dados da frota e para aperfeiçoar a operação, gerando ainda mais lucratividade.
“Lidamos com várias adversidades no mercado diariamente. Insumos subindo, frete estável, motorista com dificuldades, jornadas duras de espera em porta de cliente, porta de mercado, veículo parado e remuneração incompatível com valores de veículos, de pneus, de peças e de acessórios. Assim, começamos a magia da redução de custos, que por ser muito agressiva acaba excluindo também a inovação e a melhoria contínua”, observa o executivo.
Ghelere compreende que haverá uma verdadeira inovação no transporte rodoviário de cargas quando os transportadores se aprofundarem mais no assunto e buscarem mecanismos que criem soluções. Para o empresário, as companhias de transporte já possuem a maturidade necessária para esse processo, mas ainda não há os recursos que a inovação demanda.
“O que podemos depreender disso é que as inovações normalmente ocorrem onde há recursos disponíveis, principalmente se observarmos grandes empresas que em seu início tiveram grandes prejuízos, como Uber e Airbnb. Por isso, quando há excesso de dinheiro, é muito mais provável que ideias disruptivas surjam deste meio”, afirma o empresário.
No entanto, o diretor executivo compreende que todas as transformações incrementais que o setor vem abraçando são de extrema importância para que esse processo de evolução continue. “Sem essas tecnologias, o TRC estaria estagnado e igual há 50 anos. O que não podemos é deixar de buscar o diferencial e a disrupção, pois é isso que nos fará crescer”, conclui.