Carta de Conjuntura de março traz análises do setor de seguros frente a pandemia do Covid-19

Objetivo do relatório é trazer uma avaliação mensal do mercado de seguros diversos aspectos

Foi divulgado na última quinta-feira, dia 19, a edição da Carta de Conjuntura do Setor de Seguros referente ao mês de fevereiro. O estudo apresentou um parâmetro de como o mercado segurador está reagindo frente à pandemia do Covid-19, além de projeções para os próximos meses. A contínua valorização do dólar e a queda da Bovespa, também estão entre os assuntos abordados.

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Para a realização da Carta de Conjuntura, foram realizadas as análises macroeconômica, econômica (de São Paulo), análise do setor de seguros e uma análise econômica geral. O estudo é apresentado pelo Sindseg-SP e Sincor-SP.

Para dar início a publicação, foi abordado o evento mais preocupante do momento, a pandemia do novo coronavírus. A Carta afirma que este é o evento histórico mais importante desde a 2ª Guerra Mundial, e que mudará a humanidade para sempre. Além disso, cita fatos históricos que sustentam tal afirmação como as pandemias de Peste Negra durante a Idade Média, e a gripe espanhola.

Na análise macroeconômica, foram apresentados gráficos que mostram os índices de comportamento de algumas variáveis macroeconômicas relevantes para o setor de seguros. A análise afirma que nas últimas semanas, o cenário brasileiro e mundial se modificou por conta do coronavírus com muita velocidade. Segundo a análise, “no momento está difícil fazer previsões, sobretudo porque a pandemia ainda não terminou. As variáveis estão se sucedendo”. afirma a publicação.

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Segundo as informações obtidas, há poucos meses, a expectativa de crescimento do país era de 2,0% a 2,5% ao ano. Porém, agora, o cenário econômico é bastante incerto e se fala em estagnação em 2020, por conta da interrupção de muitas indústrias e o fechamento de comércios. Com isso, segundo a publicação, a área de seguros irá naturalmente sofrer.

“No início do ano, se esperava um crescimento nominal do setor em 2020 de dois dígitos. Agora, a possibilidade é bem menor. Além disso, o país continua com os mesmos problemas de antes do coronavírus, mas agora com esse agravamento”, afirma a publicação. A análise também sugere que com uma taxa de desemprego estável e a dificuldade de aprovação das reformas, este será um problema que só poderá ser enfrentado com união nacional.

Já a análise do mercado de seguros, foi dividido em seis categorias. Confira:

1) Receita de Seguros:

O objetivo foi fazer a análise do comportamento de algumas variáveis do setor de seguros. Os números mostram que o Total de Seguros (sem Saúde) passou de 24,4 bi em dezembro de 2019, para 21,8 bi em janeiro de 2020. Vale lembrar que os dados de 2020 só correspondem ao primeiro mês do ano, e que não captam os efeitos do coronavírus em toda a sua intensidade.

2) Receita de Seguros por tipo:

A proposta foi segregar a análise do faturamento do setor de seguros em duas opções – pessoas(1) e ramos elementares (RE)(2) .Nos últimos anos, os valores de ramos elementares estiveram influenciados pela queda da receita do seguro DPVAT. Em vista disso, esse ramo está expurgado do cálculo, mostrando tal fato.

3) Receita de Resseguro Local e Capitalização:

Neste tópico, foi escolhido dois outros segmentos importantes ligados ao setor de seguros, como os mercados de resseguro local e de capitalização. Foi observado que em 2019, os dados do mercado de capitalização foram favoráveis e que o mercado voltou a ter crescimento real nesse negócio. Em 2019, o mercado de resseguro também obteve um comportamento positivo e uniforme, mantendo uma taxa histórica de crescimento de 10 a 15%.

4) Receita do Segmento de Saúde Suplementar:

Neste estudo foi apresentado a receita acumulada anual de todo o segmento de saúde suplementar, nos últimos anos. Em 2019, os valores ainda estão estimados. Nesse caso, houve certa defasagem de tempo na divulgação das informações desse mercado específico (produzidas pela ANS), quando comparadas ao setor de seguros como um todo (informações vindas da SUSEP). Por exemplo, os dados mais atualizados estão até o terceiro trimestre, pois ainda faltam os números do último trimestre de 2019. Mas, pela evolução dos números, o valor de 2019 ultrapassará, patamar de R$ 200 bilhões.

Segundo a Carta de Conjuntura, em termos de crescimento, a evolução desse ramo tem sido positiva, superando a taxa de inflação da economia, embora com uma trajetória decrescente nos últimos anos, sofrendo os efeitos da crise econômica. Neste momento, este segmento tem um crescimento médio de prêmios de aproximadamente 10% ao ano.

5) Reservas:

Foi analisado a evolução do saldo de reservas do setor de seguros (nesse caso, considerando também o segmento de capitalização). Nos últimos anos, a tendência das reservas teve características quase lineares, com uma evolução sempre positiva.

Analisando a evolução histórica dos números, ao final de 2014, o saldo era de R$ 550 bilhões, com uma variação de 17% em relação ao ano anterior. Já em 2015, o valor foi de R$ 650 bilhões, uma variação de 18% em relação ao ano anterior. Em 2016, o patamar ultrapassou os R$ 780 bilhões, com uma variação de 20% no exercício. A partir daí, houve uma diminuição na taxa de crescimento. Em 2017, o valor ultrapassou os R$ 900 bilhões. Em 2018, chegamos ao montante de R$ 1 trilhão.

Em média, nesse momento, as reservas aumentam a uma taxa média de R$ 10 a 15 bilhões por mês. Em 2019, o segmento ultrapassou o patamar de R$ 1,1 bilhão.

6) Rentabilidade do Setor:

Ao avaliar as margens de rentabilidade do segmento de seguros nos últimos anos, o estudo da Carta de Conjuntura, constatou que, de 2013 a 2015, com a economia brasileira mais positiva, o lucro agregado conseguiu evoluir de forma favorável, em trajetória crescente. Já em 2016, a rentabilidade sofreu de forma mais intensa, pelos efeitos da crise econômica.

Em termos nominais, a tendência de crescimento positivo dos lucros de anos anteriores foi quebrada. Em 2017, quando comparados ao mesmo período de 2016, a trajetória de variação do lucro acumulado total continuou negativa (ou seja, diminuição nos valores), porém, em uma taxa de queda menor. Em 2018, finalmente, foi observado uma reversão nos números, e os lucros voltaram a crescer. Os valores do mercado foram muito bons em 2019.

Já o capítulo da análise econômica da Carta, afirma que as contas não foram fechadas, porque a pandemia continua. Mesmo assim o texto traz algumas conclusões. Veja:

• A taxa de mortalidade estimada do coronavírus é de 2%, mas se acredita que muita gente foi infectada e as estatísticas oficiais não mostram. Ou seja, a taxa seria menor e as infecções seriam maiores;

• Não há vacina para o coronavírus, e os especialistas acham que pode levar um ano ou mais para ela chegar ao consumidor final;

• Há quase 100 anos, o vírus da gripe de 1918 (a famosa “gripe espanhola”, logo após a 1ª Guerra Mundial) tinha uma taxa de mortalidade estimada em cerca de 2% (um número similar ao dado oficial do coronavírus). Mas, como, naquela época, um terço da população mundial foi infectada, a morte chegou a milhões;

• De forma direta, na área de seguros, dois efeitos serão claros. Primeiro, possivelmente o principal, na área de saúde. O fato não estava inserido nas taxas, já que os custos das seguradoras irão aumentar. Um segundo segmento seria feito em seguro de vida, mas isso dependerá de quais faixas etárias serão as mais afetadas. Em outras áreas de seguros, porém, talvez aconteça um efeito inverso, pois, com a diminuição no fluxo de pessoas, haverá, por exemplo, menores taxas de sinistros de automóvel;

• De forma indireta, o setor de seguros será atingido pela menor produção e queda no PIB nos países. As expectativas de crescimento neste ano (e talvez do próximo) já começarão a ser ajustadas.

Ao final, a Carta de Conjuntura do Setor de Seguros, trouxe as previsões para os próximos meses, onde segure que o principal fator no desenvolvimento de um mercado segurador é o crescimento econômico ou seja, a variação do PIB brasileiro.

Em termos numéricos, o setor de seguros (sem saúde e sem os produtos de acumulação) evoluiu de 2017 para 2018, 6% e de 2018 para 2019, 7%.

Quando os produtos das empresas operadoras de saúde também foram considerados nessa soma, a variação tem se situado entre 8% e 9%. Ao longo dessa década, os produtos VGBL foram um destaque no segmento, mas, em 2017 e também em 2018, o comportamento foi bem menos expressivo.

Em 2018, houve inclusive queda no faturamento nominal. Porém, de 2018 para 2019, houve recuperação, com crescimento real no exercício. Já as reservas, historicamente, têm tido uma faixa de variação de 10% a 15%. Para 2018, em função da diminuição do crescimento do VGBL, o número caiu para 10% ao ano.

Em 2019, subiu um pouco, para 12%. Para 2020, com o coronavírus, o texto afirma que todas as previsões, nesse momento, ficam prejudicadas, pois ainda não se sabe a real extensão dos danos e qual a nova estimativa para a variação do PIB. Nos próximos meses, a situação deve ficar mais clara.

Para conferir a análise completa da Carta de Conjuntura do Setor de Seguros, clique aqui.

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