Comércio em quarentena: Covid-19 custará US$ 320 bi em perdas comerciais por trimestre
Economistas da Euler Hermes analisam os impactos negativos do coronavírus
Depois que a disputa comercial entre EUA e China levou o crescimento do comércio global ao seu ritmo mais lento desde 2009 no ano passado (+1,2% em termos de volume), a Euler Hermes, especialista em seguro de crédito, prevê que o surto do Covid-19 funcionará como uma barreira comercial forte em 2020. De acordo com os cálculos dos economistas da seguradora, as medidas de contenção aplicadas em resposta ao surto do Covid-19 já equivalem a +0,7pp de tarifas adicionais sobre mercadorias – levando a tarifa global média a 6,5% no final do primeiro trimestre de 2020. Em outras palavras, em um único trimestre, o comércio global já sofreu com o equivalente à guerra comercial do ano inteiro de 2019 entre os EUA e a China.
“Estimamos que as perdas no comércio de bens e serviços devem somar US$320 bilhões por trimestre em disrupções comerciais (ver Figura 1). Cada trimestre de perdas comerciais relacionadas ao Covid-19, portanto, se compara ao impacto anual da disputa comercial entre EUA e China nas tarifas globais em 2019”, afirma o economista-chefe da Euler Hermes, Georges Dib.
Em relação às mercadorias, as suposições principais levam em conta os confinamentos na China e na Itália e medidas de contenção limitadas em outros países. A Euler Hermes prevê que o retorno da atividade de negócios será gradual em março e abril, chegando à velocidade total no final de maio. As perdas de exportação devem contabilizar US$161 bilhões, uma vez que a demanda da China e da Europa deve continuar significativamente afetada até o final de abril.
“Nossa suposição para os serviços é uma redução significativa no turismo de e para a China, Itália e, mais geralmente, internamente na Europa, ao que acrescentamos uma desaceleração significativa nos serviços de transporte. Espera-se que o retorno aos níveis de atividade normais seja bastante gradual, empurrando as perdas de exportações globais para US$125 bilhões no lado do turismo e US$33 bilhões para serviços de transporte”, afirma Dib.
Esse choque comercial já é visível em indicadores comerciais precoces, que indicam uma recessão comercial em termos de volume tanto no primeiro trimestre (-2,5% t/t anualizados) e no segundo trimestre (-1%) de 2020. Após uma leve recuperação em 1,6% no quarto trimestre de 2019, de acordo com a seguradora, é provável que o comércio global irá contrair em -2,5% no primeiro trimestre (t/t anualizado), certamente continuando em níveis negativos no segundo trimestre.
O índice de Momentum Comercial da Euler Hermes mostra que o comércio em termos de volume caiu novamente em janeiro de 2020, com uma derrocada marcada em fevereiro, após relatórios de atividade desanimadores na China e uma deterioração nos pedidos de exportação novos em outros lugares, especialmente na Europa e na Ásia (ver Figura 2). Os dados de remessas apontam na mesma direção.
A Câmara Internacional de Transporte Comercial Marítimo estima que o surto do Covid-19 removeu mais de 350.000 contêineres do comércio global. Houve 49% menos trajetos marítimos por navios de contêiner saindo da China nas últimas quatro semanas, de acordo com a Comissão Europeia. A queda projetada de 20-25% nos ganhos da indústria global de transporte comercial marítimo terão um impacto correspondente na indústria de terminais portuários.
Hoje, o cenário de recuperação em forma de V indica uma recuperação no segundo semestre de 2020, e assim, uma projeção para o comércio global de +0,4% para o ano inteiro de 2020.
O dólar forte, preços de commodity mais baixos e a queda na demanda manterão o comércio nominal em recessão no ano de 2020 como um todo. Uma queda de -10% no índice de preços de commodities S&P GSCI desde o início do surto do Covid-19 indica uma continuação das pressões de deflação de 2019. Isso, junto à apreciação do dólar em um contexto de incerteza elevada, empurrará os preços para baixo. Em termos de valor, o comércio também deve contrair no primeiro semestre, mantendo o número para o ano inteiro no território negativo após -1,5% em 2019.