Cuidados com os dentes para crianças autistas: da ida ao dentista à higiene bucal em casa

Veja como tornar as consultas odontológicas e limpeza diária mais fáceis

Se o famoso “motorzinho de dentista” faz com que alguns adultos se encolham de medo, isso se torna ainda mais intenso para as crianças, em especial as diagnosticadas com autismo. Este é um termo geral usado para descrever uma série de transtornos de desenvolvimento neurológico. Dentro do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), existem vários graus de complexidade, dos mais amenos aos mais severos.

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Pessoas com algum nível de autismo costumam ter dificuldades em relações interpessoais e comunicação. Também apresentam comportamento repetitivo ou estereotipado e tendem a ter mais sensibilidade em relação aos sentidos – audição, visão, olfato, tato ou paladar.

Maiores problemas de crianças autistas no dentista

É justamente a hipersensibilidade dos sentidos que causa os maiores desconfortos às crianças com TEA. Sons altos, luzes fortes, sensações táteis, cheiros e sabores desconhecidos, por vezes, se mostram muito mais acentuados do que os pequenos estão acostumados. Em um consultório odontológico, esses aspectos acontecem a todo instante e com grande intensidade.

Tudo isso faz com que as crianças tenham diversas reações quando se sentam na cadeira de tratamento. Dentre os mais comuns, especialistas citam agitação, dessocialização, crises de choro e manifestações agressivas.

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Diante dessas dificuldades, os pais podem acabar não levando os filhos autistas a consultas odontológicas com a frequência necessária, o que tem o potencial de comprometer a saúde bucal da criança.

Tornando a ida ao dentista mais agradável

Em casos mais extremos, alguns profissionais recorrem à sedação para que o atendimento possa ser feito em uma criança com TEA. No entanto, a preferência é sempre que o paciente esteja acordado e ciente do que acontece. Assim, é mais confortável para todas as partes que a criança consiga se familiarizar com a situação para que, em visitas futuras ao dentista, tudo ocorra sem maiores problemas.

Existem algumas atitudes que os responsáveis e o próprio dentista podem tomar para deixar a consulta mais agradável. Veja a seguir:

  • Antes da consulta, mostrar um passo a passo do que vai acontecer – preferencialmente com imagens;
  • Utilização de fone com sons/música que a criança goste ou cancelador de ruído;
  • Se possível e necessário, diminuir as luzes do consultório;
  • Conversar e fazer brincadeiras que não sejam relacionadas ao procedimento para deixar a criança distraída e mais confortável;
  • Mostrar os instrumentos para que a criança possa conhecê-los antes de serem usados;
  • Informar tudo o que vai ser feito, verbalizando de maneira clara e concisa;
  • Elogiar, agradecer, estimular e até oferecer recompensas – como uma escova de dente ou brinquedo – tornam a situação menos complicada e mostram que ir ao dentista não é tão ruim quanto parece;
  • É importante ressaltar que tudo deve ser feito com muita calma e paciência. Os pais e o profissional devem respeitar o ritmo da criança e transmitir segurança, nunca forçando situações que podem ser possivelmente traumáticas.

Saúde bucal no dia a dia

Evidentemente, a higiene bucal cotidiana é de extrema importância na vida de qualquer um e até mesmo pode reduzir as idas ao dentista. Afinal, um tratamento específico para algum tipo de problema requer muito mais atenção do que exames de rotina. Mas a saúde oral também pode ser um desafio para os autistas e suas famílias. A sensação da escova, por exemplo, é incômoda para muitas crianças.

Para que possam se acostumar, a recomendação é tocar os lábios e dentes dos pequenos com a escova, sem nenhuma movimentação em um primeiro momento.

Os pais também podem mostrar vídeos de escovação e até deixar com que os filhos assistam enquanto escovam os próprios dentes. Isso é útil para mostrar como a ação deve ser feita e que não é tão desagradável como pensam.

Deixar com que as crianças escolham os próprios itens de higiene também é de grande ajuda. Escovas de personagens, pastas de dente saborizadas, copos coloridos para enxágue… O que for necessário para deixá-las mais confortáveis.

Caso a criança ainda não consiga escovar os dentes sozinha, os pais podem ajudar na tarefa. Na frente de um espelho, para que seja possível ver o que acontece, o responsável deve ficar atrás do pequeno, cuja cabeça fica apoiada em seu peito.

A escovação deve ser feita como se fosse nos próprios dentes. O adulto deve guiar a escova de maneira mais lenta e com menos pressão, justamente para não estimular um sentido que já é hipersensível.

Para o uso do fio dental, a lógica é a mesma. A criança fica na frente do responsável, que vai realizar a higienização normalmente.

Se for necessário, para trazer um senso maior de aconchego, a higienização dos dentes pode ser feita em outros lugares fora do banheiro, como no sofá ou na mesa.

Aos poucos, a higienização migra para o banheiro e a criança deve conseguir, eventualmente, escovar os próprios dentes sem ajuda. O objetivo, no final das contas, é trazer mais independência e percepção de responsabilidade.

Contando com profissionais qualificados

Em casos de dúvidas sobre como lidar com crianças diagnosticadas com TEA em idas ao dentista ou nas práticas cotidianas de saúde bucal, os responsáveis podem (e devem) consultar profissionais que tenham a experiência necessária.

O atendimento e orientação de um médico que seja devidamente qualificado para atender crianças autistas facilita muito. A hora da consulta se torna mais amigável e os pais recebem a orientação certa para qualquer assunto relacionado à saúde da boca.

Por isso, a dica é encontrar dentistas especializados em odontopediatria e, mais estritamente, que já tenham certa vivência no tratamento de crianças autistas.

Como profissionais do tipo não são encontrados com tanta facilidade, é preciso fazer uma boa pesquisa para encontrar alguém adequado para cada paciente.

Usuários de plano odontológico, por sua vez, podem encontrá-los com menos esforço, já que há uma lista de profissionais de confiança que são vinculados às operadoras de saúde.

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