Dois anos de pandemia de Covid-19 neste 11 de março: impactos no turismo

Saiba o que dizem lideranças de diferentes setores do setor

Esta sexta-feira, 11 de março, marca os dois anos em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou o início da pandemia da Covid-19, data que mudou todas as relações sociais, econômicas e políticas em todo o mundo.

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Não. Esta não é uma data comemorativa porque ninguém comemora uma pandemia que destrói o mundo de diferentes maneiras. Mas é possível ressignificar a data e promover, a partir dela, uma importante reflexão: afinal de contas, dois anos depois, qual o impacto do que vivemos, como estamos e para aonde vamos?

Entre as inúmeras indústrias, o turismo, que movimenta mais de 50 segmentos econômicos (aviação, hotelaria, agências de viagem e operadoras, empresas de seguro, de locação de veículos, de alimentos, de bebidas, para citar algumas), foi, sem dúvida alguma, um dos primeiros a sofrer os impactos de 2020, a começar pelo fechamento do espaço aéreo de vários destinos.

Como consequência e para além da imediata preocupação com a saúde pública e com a implementação de medidas de segurança sanitária, acompanhamos a perda de centenas de milhares de empregos, de geração de divisas para municípios, estados e países, e o fechamento de pequenas, médias e grandes empresas. Isso sem falar, é claro, nos impactos emocionais, que vêm sendo debatidos e tratados na área da saúde pública e privada.

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Hoje, passados dois anos, de acordo com recente pesquisa da World Travel and Tourism Council (WTTC), turismo deve ser responsável pelo incremento de US$ 233 bilhões no PIB da América Latina, um crescimento de mais de 48% na geração de riqueza, se comparado a 2020. O índice já é considerado o maior desde 2019, na pré-pandemia, quando o faturamento de empresas ligadas a esta indústria alcançou US$ 267 bilhões na região, chegando a ser responsável por 8,1% do PIB, contribuição que caiu 41,1% em 2020.

Além da geração de riqueza, a expectativa é que os empregos também sejam recuperados na medida em que as restrições sejam diminuídas e que os programas de vacinação avancem. “Nos últimos anos, o setor de Viagens e Turismo na América Latina foi seriamente afetado. No entanto, nossa pesquisa mais recente mostra que 2022 pode trazer uma forte recuperação para o setor e a economia mundial”, conta Julia Simpson, presidente e CEO do WTTC.

No Brasil

“No pré-pandemia, nós esperávamos um 2020 com muitas oportunidades e resultados no Brasil”, afirma a professora e pesquisadora da USP, Mariana Aldrigui, que também é conselheira da WTM Latin America e responsável por uma série de estudos sobre o mercado nacional. Um deles aponta que o País ainda sobre os impactos do desemprego gerado no setor. “Ainda temos 40 mil vagas formais para serem recriadas a ponto de chegarmos aos patamares de 2019”, completa.

Em algumas empresas — nacionais ou internacionais — a manutenção do emprego foi uma das prioridades nestes dois anos. É o que aconteceu com o Plaza Premium Group, com a Atrio Hotel Management e com a Schultz, por exemplo.

“De um lado, nós trabalhamos com o objetivo de salvaguardar o maior número possível de postos de trabalho. De outro, reunimos este time que atuou de forma conjunta para inovar, estudar o mercado, antever demandas e, inclusive, lançar novos produtos e serviços”, explica Aroldo Schultz, presidente da empresa criada há 35 anos e que leva seu nome. Entre os novos produtos e serviços citados pelo executivo estão a ampliação de seu portfólio de destinos nacionais, com o tour rodoviário Alagoas Imperdível, e o lançamento de novos produtos para atendimento médico e seguros viagem, pela VitalCard, com coberturas para Covid-19.

Investir na contratação e na promoção de pessoas também foi uma das estratégias da Atrio Hotel Management, comandada por Beto Caputo e que conta com Paulo Mélega e César Nunes nas vice-presidências de Operações e Vendas & Marketing, respectivamente. Aliás, as posições ocupadas pelos VPs hoje são resultado de um processo de reestruturação da empresa que previu, além da contratação em diversas áreas, a mobilidade com a promoção destes dois altos cargos executivos – de diretores, Mélega e Nunes ascenderam para a vice-presidência da companhia que, em 2021, iniciou sua operação em dois novos negócios, a partir das start-ups Xtay e Livá Hotéis. “Em termos de crescimento, nós tivemos os dois melhores anos da companhia porque não paramos. Pelo contrário, aumentamos muito nosso investimento em tecnologia, inovação e em pessoas”, revela Caputo.

Manter posições estratégias também foi o caminho seguido pelo Plaza Premium Group no Brasil. “Além dos investimentos em infraestrutura, nós fizemos questão de manter toda nossa equipe de média e alta gestão, de modo a garantir, a partir dos inúmeros treinamentos, a padronização mundial em termos de qualidade e atualizar nosso time com todos os protocolos necessários para atender este novo momento de mundo”, acrescenta Pamela Stein, gerente-geral do Plaza Premium Group no Brasil. Complementarmente, a executiva reforça além de ser o único Grupo a operar com lougnes em operação no RIOGaleão, a empresa manteve seus investimentos e sua estratégia de iniciar as atividades em São Paulo. “Em menos de um ano, iniciamos as negociações, assinamos contrato e deixamos um lounge totalmente operacional”, diz ao referir-se ao Plaza Premium Lounge, localizado na área interna do embarque doméstico, no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. Hoje, além deste lounge, o PPG tem uma segunda operação, na área pública do mesmo terminal.

Público ávido pela retomada

A famosa “retomada” vem ocupando a pauta de executivos de iniciativas públicas e privadas em todo o País. E também dos viajantes.

Neste sentido, além dos dados econômicos, a decisão de várias capitais brasileiras, incluindo São Paulo, de retirar a obrigatoriedade da máscara ao ar livre chega como um divisor de águas.

“Nós sabemos que a pandemia não acabou e que vamos precisar viver com seus protocolos por muito tempo. Mas nós precisamos procurar e oferecer caminhos que tragam confiança e respondam aos anseios do turista. Para além dos números, tão necessários para a sustentabilidade econômica e social do nosso setor, o turismo é relacionamento, é conexão humana”, revela Simon Mayle, diretor da WTM Latin America, que será realizada entre 5 e 7 de abril no Expo Center Norte, em São Paulo. O executivo complementa que “ainda sobre relevância e anseios, bem como sobre os aprendizados, há muito tempo temos abordado, em nosso pavilhão, temas que integram a pauta dos viajantes e para os quais o mercado vem se preparando ao longo dos últimos anos”.

E é para o viajante de lazer, mais especificamente para a viajante mulher, que a turismóloga Gilsimara Caresia direciona seu olhar: os anseios, desafios e necessidades de mulheres viajantes integram a pauta do Terceiro Encontro de Mulheres Viajantes, evento que deve reunir 400 mulheres nos dias 19 e 20 de março no Tênis Clube Paulista, em São Paulo.

Gil, que é idealizadora e organizadora do evento, faz um reflexão e apresenta três diferentes de perfis de mulheres viajantes na atualidade. “De um lado, a pandemia fez com que muitas mulheres, naturalmente, ficasse mais sozinhas, o que lhe trouxe mais confiança e autonomia na decisão de viagens. De outro, em cada pequena iniciativa, a gente observa a alegria das pessoas em rever pessoas. Ou seja, as mulheres estão sentindo falta de voltar a socializar e a viagem é, sem dúvida, uma grande oportunidade. Por fim, temos observado uma certa dificuldade – econômica e de agenda – para viajar em conjunto, o que se explica porque muitas mulheres tiveram suas férias antecipadas ou foram demitidas e passaram a empreender”, observa.

Para além do turista de lazer, os hotéis que são ocupados prioritariamente pelo hóspede de negócios também precisaram oferecer novas soluções para este público. “A pandemia nos ensinou a cuidar das pessoas e da importância dos protocolos de higiene. Mas a grande lição foi no campo da reinvenção, de criar formas alternativas de manter os negócios funcionando. Os eventos online e hídridos se fortaleceram e devem continuar”, aborda Fernando Kanbara, gerente geral do hotel Grand Mercure Curitiba Rayon. Localizado no coração da capital paranaense e com acesso a vários pontos turísticos da cidade e da região, o hotel também está atento ao turismo de lazer. “Vimos que, apesar de todas as dificuldades, as pessoas não deixaram de viajar, de ter seus momentos de lazer, seja conhecendo a própria cidade ou destinos regionais”, finaliza o executivo.

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