Mercados globais adotam viés otimista
Confira o artigo escrito por José Pena, economista-chefe da Porto Seguro Investimentos
Ao longo desta última semana, sinais de desaceleração do número de novos casos confirmados da Covid-19 em vários países da Europa e mesmo em Nova Iorque, o epicentro da epidemia nos EUA, trouxeram um certo otimismo para os mercados globais, não apenas pela redução potencial de vítimas da doença, como pela perspectiva de uma retomada mais rápida da atividade econômica.
A semana termina, porém, com um tom mais cauteloso. De um lado, Itália e Espanha, os dois países mais severamente afetados pela doença no velho continente, anunciaram às vésperas do feriado da Páscoa, que prolongarão suas quarentenas por mais duas semanas (até o final de abril).
Ao mesmo tempo, embora novas projeções indiquem um número menos dramático para o total de mortes esperadas nos EUA em função da epidemia, mantêm-se as estimativas de que, ao menos no futuro próximo, essas tristes estatísticas seguirão piorando de forma relevante naquele país, o que também sugere que dificilmente as atuais medidas de restrição serão removidas ou mesmo suavizadas antes do final deste mês.
Enquanto isso, o Federal Reserve, o BC dos EUA, segue em seu esforço de tentar mitigar os impactos econômicos da crise de saúde pública, anunciando na quinta-feira (9), um novo pacote que poderá injetar mais US$ 2,3 trilhões na economia local, através de linhas de crédito para municípios, além de micro, pequenas e médias empresas.
Por fim, a semana foi marcada por um acordo entre os maiores produtores mundiais de petróleo, para a redução da oferta da commodity de 10 milhões de barris diários. Embora seja o maior corte de produção já definido por esse grupo em toda a história, ele se mostra claramente insuficiente para compensar a queda ainda mais dramática da demanda, estimada em 35 MM de barris/dia. Como consequência, os preços do petróleo encerraram a semana com uma queda de 17%, acumulando no ano o impressionante declínio de 62%.
Em meio ao aumento do ruído político entre o Executivo federal e boa parte dos governadores estaduais, bem como com o Judiciário e o Congresso, o avanço das medidas de socorro a famílias e empresas em meio à abrupta paralisação da atividade econômica foi limitado, com destaque para o adiamento para a próxima semana, da votação, pelo Senado, da chamada PEC do Orçamento de Guerra, que facilita a ação do executivo para adotar medidas de estímulo fiscal e monetário.
Em meio a esse ambiente mais conturbado, aumentou o risco de que algumas medidas de cunho fiscal, que deveriam valer apenas enquanto perdurar a epidemia da Covid-19, sejam estendidas para além disso, comprometendo de forma mais relevante (e preocupante) a sustentabilidade das contas públicas no médio e longo prazo, o que traria efeitos bastante deletérios para a economia, conforme ensina a lição da crise de 2008.
Além das votações de medidas fiscais pelo Congresso, o centro das atenções está voltado para os números da atividade econômica chinesa – produção industrial e vendas do varejo de março, assim como o PIB do 1º trimestre. No caso dos dados mensais, a expectativa é quanto ao tamanho da retomada depois da expressiva queda no primeiro bimestre do ano. No caso do PIB, deverá ser registrada a primeira contração trimestral das últimas décadas.
*Por José Pena, economista-chefe da Porto Seguro Investimentos.