Newton Queiroz: Analisar, repensar, planejar, implementar e seguir em frente – a real solução para nosso mercado
Confira coluna de Newton Queiroz, Chief Strategy Officer da Kovr Seguradora e articulista do JRS
Desde o início deste mês, vários meios têm divulgado o aumento na busca por profissionais da área de seguros em mais de 40%. Os artigos explicam que essa demanda não vem apenas da indústria, pois outras áreas contratam securitários para efetuar funções ligadas a seguros em suas empresas (gerente de risco, desenvolvimento de produtos, negociação com o mercado e outros).
Ao analisar os principais indicadores sobre a indústria de seguros vemos que todos apontam para cima. Portanto, ao ler tal matéria a visão básica é de que nosso mercado está em crescimento sustentável e retomada de empregos. Sim. É verdade que estamos com um número maior de contratações nesses últimos meses, mas não consigo ver os 40% mencionados.
Vejo ótimos profissionais em busca de recolocação e que aceitam até mesmo significativamente menos que em suas posições anteriores. Mesmo assim, vários têm encontrado dificuldade. Isso se dá porque a demanda segue menor do que a oferta de profissionais.
Outro ponto que cabe ser ressaltado é que muitas seguradoras e corretoras não aumentaram seu quadro de colaboradores, mas substituíram profissionais. Ou seja. São empregos novos dentro da indústria em áreas relacionadas à tecnologia e startups (que buscam profissionais para compor seus times).
Em outras indústrias a demanda por profissionais de seguros aumentou, em especial, nos setores de finanças e varejo. Tanto na parte tradicional, como na digital (como e-commerce ou fintechs, por exemplo). Essas empresas investem cada dia mais nos departamentos de seguros para ofertar produtos de interesse aos clientes de modo a monetizar essas operações.
Este movimento faz com que os trabalhos da indústria de seguros migrem para outras que, anteriormente, efetuavam apenas a demanda, mas que, agora, pretendem fazer o processo do início ao fim (concepção, segmentação, criação, implementação, distribuição e concretização). Um bom exemplo disso é a Luizaseg, criada para atender as demandas das empresas do Grupo Magalu e que tem sido exitosa em seus números.
Tal tendência deve aumentar o interesse das empresas por fazer o processo do começo ao fim.
Claro que nem todas as empresas desejam ter seguradoras, mas sim, o desejo de controlar melhor o processo total de oferta e monetização de produtos relacionados a seguros.
Isso revela uma mudança no paradigma em relação ao modelo de produtos “enlatados”. Há um desejo de controlar com quem se deseja trabalhar, qual preferência no tipo de produto a ser ofertado e de que modo deseja fazer isso.
As seguradoras que não perceberem isso logo irão perder espaço para empresas que surgem com o DNA de focar no cliente e apresentar soluções para eles.
Agora, sobre os números do mercado, é interessante verificar o resultado das empresas no mesmo período de 2020 em cruzamento com 2021. Porém, não apenas sob o olhar dos prêmios emitidos, mas sim, com foco no resultado operacional ou expandido (quando considera o ganho de aplicações financeiras).
Segundo números publicados pela Superintendência de Seguros Privados (Susep), no período proposto para análise, enquanto os prêmios emitidos subiram 15%, o prêmio ganho subiu apenas 6,8% (que é o que realmente paga os custos). A sinistralidade cresceu 18,36% e as despesas comerciais expandiram 5,63%. Também caiu em 16,89% o percentual para as seguradoras pagarem suas despesas, efetuarem investimentos em inovação, times, novas áreas e demais compromissos.
Em resumo, mesmo com o aumento da emissão de prêmios, o resultado operacional ficou abaixo ao do ano anterior. Por isso temos várias seguradoras com lucros negativos, algumas com lucros marginais e algumas poucas (arrisco-me a considerar 5) com lucro operacional razoável e aceitável em comparação com os parâmetros mundiais.
Deste modo, é possível observar que existe sim o lado positivo de nosso mercado – que podemos chamar de estabilidade limitada -, uma grande vantagem em relação aos demais setores. E, ainda, um leve aumento na demanda pela mão de obra securitárias.
Porém, comemorar os resultados de prêmios emitidos, aumento na busca geral de profissionais e outros podem gerar visões não realistas sobre o momento atual do mercado e colocá-lo em risco. O momento exige muita atenção e readequação dos fundamentos básicos de nossa indústria.
Sou muito questionado por ser tão crítico com as análises dos números do mercado, mas faço isso justamente por ser extremamente comprometido com o setor e acreditar que temos muito a contribuir com a nossa sociedade. Mas, para isso, faz-se necessário este passo importante de adaptação dos fundamentos do setor para que se tenha um mercado sustentável.
Minha maior preocupação é que diminua o número de seguradoras, corretoras e outros agentes em função de uma retração na indústria ou de uma adaptação onde o mercado de seguros começa a ser dominado ou liderado por outras empresas do setor financeiro e de varejo conforme mencionado durante este artigo.