Precisamos segurar o cliente: segurem os riscos!

Os corretores de seguros trabalham para levar proteção à sociedade, mas como fazer o setor crescer se não há aceitação de riscos por parte de seguradoras e resseguradoras?

Desde o início do ano venho apresentando o cenário desesperador enfrentado pelos corretores de seguros, que fecham novos negócios, mas não se consolidam porque não os contratos não são aceitos pelas seguradoras ou resseguradoras, ou, ainda, mesmo aqueles clientes que sempre tiveram a contratação têm seus riscos agora recusados. Estamos empunhando a bandeira da necessidade da aceitação dos riscos, mesmo que haja qualquer ajuste, aumento de taxação, mas que venha acompanhado de uma conversa, negociação, e não simplesmente uma porta fechada na nossa cara. Precisamos elevar o tom nesse debate, porque até agora não fomos de fato ouvidos: segurem os riscos dos segurados, que não são clientes apenas nossos, mas de toda a indústria.

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Com esse movimento temos tido muitas conversas, é verdade, mas que ficam entre as lideranças das entidades representativas do setor: os executivos demonstram boa vontade em buscar solução, mas na prática do dia a dia não estamos conseguindo ultrapassar esta barreira. Temos mantido frequentes e sérias conversas com a FenSeg (Federação de Seguros Gerais), e estamos iniciando diálogos com as seguradoras individualmente, tanto nos riscos declináveis, aqueles pequenos riscos, mas também naqueles riscos de maior proporção que não estamos conseguindo atender, para tentar buscar soluções. Mas, na prática, nada mudou ainda. Não há dia em que um corretor não ligue para o Sincor-SP desesperado na colocação de alguns de seus riscos.

Não dá mais para adiar, é preciso achar solução para os riscos declináveis e também para as questões de aceitação das companhias e seus respectivos resseguros ou cosseguros. O mercado exige crescimento, as companhias querem crescer, os corretores querem mais negócios e temos entrave muito grande nessas soluções. Os corretores de seguros seguem perdendo negócios e o mercado, em vez de crescer, reduzindo cada vez mais.

Entendemos perfeitamente tratar-se de uma questão mundial, de reflexos de uma crise global, conhecemos todo o processo que levou as companhias a esse caminho, mas certamente devemos ter o caminho reverso, aquele que nos levará de volta aonde estávamos, quando tínhamos – talvez não com a mesma facilidade da época do monopólio do IRB – mas com uma pacificação nas questões de aceitação e resseguro. Por redução de tempo e dinheiro, muitas seguradoras têm trabalhado num sistema automático de produtos prontos e lista de ramos recusáveis. Compreendemos que as seguradoras tenham sua política de aceitação, precificação e desenvolvimento de novos produtos. Praticamente todas as companhias têm também uma lista de atividades e/ ou produtos proibidos e não aceitos em hipótese alguma. Mas acredito que há sempre um caminho para a colocação/ aceitação de um risco por uma seguradora. Com conhecimento técnico e relacionamento, subscrição clássica, fronting, cosseguro e criatividade, praticamente todos os riscos podem ser resolvidos. Uma seguradora garantir riscos tem que continuar sendo a regra e não a exceção.

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É necessário que todos os players do mercado envolvidos nesta questão deem as mãos. Não é pelos corretores de seguros, é pela indústria como um todo, afinal, somos voz dos consumidores que anseiam pela proteção. Não somos clientes da seguradora na intermediação, somos clientes finais – quando fazemos qualquer reclamação referente a um sinistro, estamos representando o cliente. É em nome do consumidor de seguros que conclamamos uma maior atenção aos nossos riscos. Essa é uma batalha de todos, é um desafio do setor pela manutenção e geração de empregos, trabalho tanto das entidades representativas dos corretores, mas também, sem dúvidas, das empresas seguradoras e resseguradoras, que em um eventual sinistro não terão o respaldo do sinistro para reativar as suas possibilidades.

Vamos descer um pouco as expectativas e começar a construir um novo cenário, de retomada e estabilidade. É difícil e muito triste para o corretor de seguros que está há muitos anos se dedicando a uma mesma conta, que na maioria das vezes não tem sinistro ou pouquíssimos sinistros de coberturas até acessórias, falar para esse cliente que ele não tem opção. Hoje, renovar uma apólice de um risco razoável, mas protegido, dependendo do ramo de atividade, está se tornando um pesadelo e desespero para o corretor de seguros.

É hora de realmente botarmos as mãos na consciência e, em seguida, à obra, para tentar construir esse novo cenário. Em nome do maior sindicato de corretores de seguros do Brasil, conclamo todos os envolvidos a nos sentarmos juntos, fazermos um amplo debate e acharmos essa solução tão esperada. Se a situação está desesperadora no estado que produz 50% da receita da indústria de seguros, imagine nos locais de menor acesso às tomadas de decisão. Estamos largados à própria sorte – e os clientes mais ainda.

  • Artigo de Boris Ber, presidente do Sindicato dos Corretores de Seguros no estado de São Paulo

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