Qual será o impacto no setor segurador após a maior tragédia climática do RS?

A tragédia que ocorreu em maio no Rio Grande do Sul teve repercussões no mercado de seguros local, levantando questões sobre um possível aumento nas taxas. Especialistas do setor apontam que, diante de eventos como este, as seguradoras precisam reavaliar seus modelos de precificação para garantir a sustentabilidade do negócio.

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Os atuários Eder Oliveira e Danielle Wink, sócios da Atuária Brasil, explicam o papel da análise atuarial nesse contexto, avaliando os riscos e determinando os preços dos prêmios de seguros. “Essa é uma nova oportunidade para as pessoas entenderem um pouco mais sobre a necessidade de contratar seguros, deixando de pensar que seguro é despesa, mas passando a entender definitivamente que seguro é um investimento necessário, e provavelmente o único que serve para repor as perdas de um patrimônio atingido. O papel do atuário cresce também neste momento, pois ele é o profissional habilitado para avaliar individualmente os riscos presentes nas coberturas dos planos de seguros que são disponibilizados à sociedade. Logo, essa tragédia traz consigo a valorização deste ambiente técnico e o necessário aprofundamento das especificidades presentes em cada seguro, com vistas a expandir possibilidades ou mesmo deixar cada vez mais claros os conceitos que estão inseridos em cada plano que é operado pela seguradora”, ressalta Oliveira.

Os custos dos seguros estão diretamente relacionados aos riscos que esses planos cobrem. Segundo o especialista, considerando essa perspectiva e os prejuízos associados à tragédia no RS causada por enchentes e alagamentos, que afetaram pessoas, casas, negócios, veículos, bens, equipamentos e instalações em geral, os custos para as seguradoras aumentam, elevando, consequentemente, as coberturas desses riscos. “Apesar de o evento no Estado gaúcho ser considerado extraordinário, temos nos deparado com eventos climáticos severos em outros estados do Brasil. Portanto, há uma tendência de que as seguradoras, através de seus atuários, passem a incorporar esse risco de forma mais contundente nos preços dos produtos atingidos”, conclui.

Entretanto, ainda é cedo para mensurar completamente o impacto dos sinistros, uma vez que as empresas de seguros seguem dedicadas a essa questão. Elas estão avaliando as apólices adquiridas pelos segurados, calculando os prejuízos e os valores segurados, e coordenando o suporte a todas as partes interessadas. Dado que muitos habitantes do Rio Grande do Sul foram impactados, abrangendo várias apólices de seguros, conforme a Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) até o dia 23 de maio, R$ 1,673 bilhão em indenizações serão pagas aos clientes.

O presidente da CNseg, Dyogo Oliveira, ressaltou a magnitude do desastre, afirmando que se trata do maior sinistro de ordem climática do Brasil. “Embora estejamos diante de um evento singular e de grande magnitude, não creio que isso cause impactos duradouros nas políticas das empresas ou no custo do seguro. Como mencionei anteriormente, todo o sistema de regulação e reservas foi cuidadosamente elaborado para lidar com situações excepcionais como essa”.

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Danielle Wink observa que, em 2023, segundo as estatísticas da Superintendência de Seguros Privados (Susep), houve queda de apenas 13,49% dos prêmios de seguro, considerando todos os ramos em operação no Brasil. Reduzindo a análise para o ramo Auto, o segundo mais acionado nesta catástrofe, a queda foi de 4,35% nos prêmios ao nível Brasil. Isso não significa que apenas 4,35% dos riscos sejam ressegurados. Independentemente do aumento dos custos, que deve ocorrer mesmo em carteiras não resseguradas, é crucial que o mercado avalie as causas da catástrofe e as medidas para impedir novos eventos de igual magnitude. Eventos catastróficos tendem a ser raros se adotadas as medidas necessárias. “Uma elevação significativa dos prêmios pode afastar os segurados, que já estão sofrendo com as perdas decorrentes da enchente”, finaliza Danielle.

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