Roubo de ouro no Aeroporto Internacional de São Paulo: como dimensionar e prevenir riscos

Ação de criminosos foi concluída em dois minutos e trinta segundos

No dia 25 de julho um crime chocou o Brasil. Uma quadrilha efetuou o roubo de quase 720 quilos de ouro no Aeroporto Internacional de São Paulo, no município de Guarulhos. Até o fechamento desta reportagem, quatro suspeitos foram detidos e a prisão de um quinto elemento havia sido decretada. A carga era avaliada em US$ 29,2 milhões, algo próximo a R$ 110 milhões.

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Para o corretor de seguros especialista no segmento de transportes, Thiago Fecher, é preciso compreender se o momento do roubo estava ou não dentro das coberturas contratadas pelo transportador. “Quando se fala em Seguro de Transportes vemos vários ramos específicos. Uma das principais divisões existe entre os ramos voltados para o embarcador – aquele que possui a propriedade da mercadoria – e o transportador – aquele que possui somente a posse da mercadoria”, analisa. Outra grande divisão ocorre entre viagens nacionais e internacionais, alerta o especialista. “Cada um destes ramos e subdivisões possuem coberturas diferentes. Do ponto de vista do embarcados, através de uma apólice de exportação, a mercadoria estaria coberta conforme os Termos Internacionais de Comércio (INCOTERMS) utilizados. No caso do transportador, o evento estaria amparado pela apólice de Responsabilidade Civil Facultativa do Transportador Rodoviário por Desaparecimento de Carga (RCF-DC)”, pondera.

Thiago Fecher é corretor de seguros especialista no segmento de transportes
Thiago Fecher é corretor de seguros especialista no segmento de transportes

A inviabilização do pagamento de uma indenização em um caso como este só deve acontecer quando todos os detalhes do ocorrido estiverem apurados, segundo Fecher. “A exclusão de cobertura está sempre ligada à cláusula de riscos excluídos como, por exemplo, alguma forma de agravamento do risco por parte do segurado”, justifica ao observar que, embora a mercadoria tenha um alto valor agregado, seu peso e dificuldade de venda podem ser fatores que diminuem o risco.

Outros pontos levados em consideração no dimensionamento de um seguro deste gênero são o histórico de sinistralidade e o quão visada é esta mercadoria, bem como o trajeto a ser percorrido. “A precificação do seguro é sempre calculada através de métodos atuariais onde são incorporados não somente os dados do risco específico, mas também todo o histórico relativo a aquela mercadoria e aquele trajeto. No caso de seguros para transporte internacional existe uma complexidade de operações, inclusive com vários modais de transporte, ou seja, rodoviário, aéreo, aquaviário e outros”, completa o expert.

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O proprietário da Aris Corretora de Seguros também argumenta que uma apólice de seguro deve ser encarada como última alternativa para reposição patrimonial. “Embora o seguro cumpra com esse papel, existem uma série de prejuízos que não serão indenizados. No caso do transporte de carga, isso fica ainda mais latente, pois quebrar a cadeia de suprimento com um sinistro pode gerar prejuízo na relação com a parte que iria receber a mercadoria e ainda gerar custos administrativos, de produção e de imagem do segurado. Neste sentido o segurado deve sempre estudar medidas para redução do risco utilizando modelos de comparação com sinistros já ocorridos, experiências de outras empresas e pesquisa e desenvolvimento para uso de processos de segurança e controle das operações cada vez mais rígidos”, projeta.

No caso do roubo de ouro no aeroporto fica comprovado o planejamento extremamente bem elaborado com rápida execução por parte dos criminosos. A ação foi executada em um total de dois minutos e trinta segundos, aproximadamente. “Empresas não só de transporte, mas de armazenagem, e outros pontos da cadeia de suprimentos devem criar e executar medidas de controle de quem acessa suas dependências, registro desses acessos, treinamento para identificação de comportamentos suspeitos e de reação, dentro das margens de segurança, para salvaguardar a mercadoria segurada. Todas essas medidas se tornam um desafio quando deve ainda ter um foco em não diminuir a fluidez da circulação das cargas, mas este é o cenário do novo modelo de logística”, finaliza Thiago Fecher.

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