Seguradoras devem focar em corte de gastos e produto popular em 2017

Duração da crise implica em consequências para o setor

O crescimento mais restrito como reflexo da crise direcionou o foco das principais seguradoras do País para a diversificação de produtos e seguros populares. A maior atenção ao segmento financeiro e corte de gastos também foram destaques nos resultados.

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Com os baixos índices do varejo e do mercado de trabalho, os produtos mais afetados foram aqueles relacionados ao consumo e à renda, como os seguros de veículos e os de saúde que, com a alta do desemprego, acabaram perdendo clientes para o Sistema Único de Saúde (SUS).

Nas seguradoras, como ambos os segmentos são o que representam a maior parte da carteira, os resultados não foram tão positivos. Na Porto Seguro, a quarta maior seguradora do País – 9,98% de market share, segundo dados do Sindicato dos Corretores de Seguros (Sincor-SP) -, o lucro líquido ficou em R$ 205 milhões no terceiro trimestre, uma retração de 2% em relação a igual período de 2015.

Na SulAmérica, terceira maior do País (12,04% de share), por sua vez, o recuo foi de 37,8% na comparação trimestral (de R$ 204,4 milhões para R$ 148,3 milhões). A queda com impacto mais forte, porém, foi decorrente da venda das carteiras de grandes riscos e seguro habitacional no quarto trimestre do ano passado.

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Segundo Marcelo Picanço, diretor geral de investimentos da Porto Seguro, a duração da crise implicou em consequências mais fortes para o setor. “Há um aumento de sinistralidade nas duas maiores carteiras que temos, com mais roubos e furtos em veículos e maior uso dos planos de saúde, principalmente por antecipação daquele que teme perder o emprego e quer aproveitar a cobertura que tem”, identifica o executivo. Ele completa que, nesse sentido, ainda há dificuldade de as empresas contratantes aceitarem um maior reajuste de preços “foi uma combinação de situações trazidas pela crise que prejudicaram nossos produtos”, conclui Picanço.

A Bradesco Seguros, maior seguradora do País (23,16% de share) e o grupo segurador BB&Mapfre, segundo maior (12,75% de share) estão em período de silêncio pela semana prévia à divulgação de resultados dos respectivos bancos.

‘Sobreviver aos solavancos’

A alta das sinistralidades e a retração das maiores carteiras, por outro lado, também fez com que as seguradoras se voltassem mais fortemente para “outras formas de receita”.“Nesses momentos, o mercado segurador sofre mais com os impactos que são comuns ao setor e, por isso, acaba por procurar outras saídas”, comenta Erico Melo Nery, diretor de comunicação integrada da Federação Nacional dos Corretores de Seguros (Fenacor).

Nesse sentido, a SulAmérica somou R$ 238,7 milhões nas receitas com negócios financeiros e serviços, alta de 4,5% em relação a iguais meses de 2015 (com R$ 228,5 milhões). A Porto Seguro, por sua vez, alcançou R$ 492 milhões no período, aumento de 11% na mesma base de comparação.“Estamos sobrevivendo aos solavancos da economia e acreditamos que o melhor vem da consistência. O foco vai continuar na diversificação de produtos, evitando mudanças abruptas”, avalia Picanço, destacando também o “cuidado redobrado” em diminuir os custos operacionais.

A Porto diminuiu em 2,6% suas despesas administrativas na comparação com o terceiro trimestre de 2015 (de R$ 514,5 milhões para R$ 501 milhões ante ). Já a SulAmérica reduziu em 3,6% seus gastos, no período (de R$ 373 milhões para R$ 359,5 milhões).

Oportunidades

Outro aspecto proveniente do cenário econômico também foi a abertura de oportunidades para explorar mais a fundo seus outros segmentos, avaliam os especialistas. “As saídas para as seguradoras são os produtos com preços mais baixos e com menor penetração, como o residencial e o auto popular, prestes a ser lançado com várias particularidades pelas companhias”, diz Carlos Cunha, segundo tesoureiro do Sincor-SP.

“Cobrir essa falta de mercado nos ticket médios mais baixos pode ser difícil para as seguradoras em termos de cobrança, que acaba caro demais para os preços mais baratos. Mas é um mercado pequeno, que tem tendência de ganhar força nos próximos anos”, completa Melo.

Eles ressaltam que, apesar do crescimento de um dígito para este ano [entre 6% e 9%], o mercado já deve chegar aos dois dígitos em 2017. “Ainda não são os patamares anteriores, mas em 2017 a retomada de crescimento já começa a acontecer, timidamente, mas firme”, conclui Cunha.

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