Seminário debate inflação, alta de juros e cenário nacional e internacional

Especialistas analisam impactos e tendências econômicas no pós-pandemia

O Brasil se depara com um cenário desafiador na busca da retomada econômica no pós-pandemia. Inflação em alta, câmbio depreciado, dúvidas em relação à política fiscal e aperto monetário, além de incertezas geradas com a eleição presidencial, estão entre as preocupações de economistas e especialistas. Aliado a isso, há também riscos externos, com retirada dos estímulos de países para enfrentar a crise sanitária.

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Na abertura do 16º SIAC – Seminário internacional da Acrefi 2021, o presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Luis Eduardo da Costa Carvalho, destacou que o Brasil mais uma vez reforça a sua posição histórica de “país dos desafios”, ao se deparar com notícias preocupantes envolvendo alta da inflação e dos juros, câmbio depreciado e flexibilização da regra de teto dos gastos no momento em que busca novos caminhos para superar os impactos da crise sanitária.

“Temos inflação alta, instabilidade e um cenário eleitoral no horizonte. Mas temos resiliência para entender os erros e acertos do passado e tirar lições importantes desse cenário. É preciso entender como reagirão as economias dos EUA, China e União Europeia. A inflação que ronda o mundo também provocará aperto monetário nos emergentes. Numa situação como essa, diante do histórico, nossa margem de erro é mínima: teremos que ser criativos para superar esses desafios. O Banco Central tem promovido um aperto monetário, com política de juros, para conter a inflação. além de implementar mecanismos tecnológicos para ultrapassar esse período. Dentro desse cenário, a Acrefi reúne especialistas importantes para entender esses movimentos”, disse o presidente da Acrefi.

André Loes, Economista-chefe para a América Latina no Morgan Stanley, traçou cenários para a economia global e mercados no pós-pandemia. A instituição já vê o PIB global em níveis pré-pandemia, recuperando mais rápido o crescimento do que nos pós crise de 2008. “O PIB mundial está nos níveis pré-pandemia. Vemos um crescimento da economia global mais otimista, em torno de 5,7% contra 5,3% do consenso. A volta do Produto Interno Bruto (PIB) pós-crise de 2008 foi mais lenta que agora”, afirmou Loes.

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Alexandre Schwartsman, Sócio-Diretor da Schwartsman & Associados Consultoria Econômica e Doutor em Economia pela University of California Berkeley, falou sobre a inflação e seu impacto no crescimento do pais. Segundo o economista, as projeções apontam para um índice de 5% no próximo ano, ainda acima da meta. “Vamos trabalhar com uma taxa de juros muito acima da considerada neutra e, o resultado disso impacta no crescimento. Temos uma questão fiscal e da expansão de gasto, o que gera baixo crescimento e um câmbio pressionado – mas a percepção é que o risco fiscal é elevado, o que prejudica nossa capacidade de gerar investimentos externo”, completou.

Samuel Pessôa, Doutor em Economia e Pesquisador da JBFO, previu que o Brasil voltará a uma agenda de reforma fiscal estrutural em 2023 diante da aceleração da inflação. “Acredito que em 2023 voltaremos a essa agenda. Se nós olharmos os últimos anos, a nossa democracia tem mostrado uma certa intolerância em relação à aceleração da inflação, aqueles políticos de que produziram inflação foram punidos pelo eleitor, a sociedade não aceita inflação. Isso sustenta uma aposta que em 2023, independentemente de quem for eleito, entraremos uma trajetória de ajuste fiscal estrutural”, revelou.

Responsável pela síntese e comentários no evento, o economista Eduardo Giannetti destacou as preocupações em relação à situação fiscal do país com as eleições no ano que vem. “Nós estamos sem ancora fiscal e esse quadro pode se agravar ainda mais por ser um ano eleitoral. Os hormônios tanto do Executivo como do Legislativo ficarão muito exaltados no sentido descontrole de gastos. A dúvida que fica aqui é sobre a questão fiscal. O BC tendo que agir sozinho de forma muito mais contundente sem nenhum tipo de suporte da política fiscal tem limite. E o limite é dado no momento em que uma política monetária mais agressiva, de aumento juros mais pronunciado, começa a gerar ainda mais desconfiança em relação à sustentabilidade das contas públicas, mais desvalorização cambial. É um quadro bastante preocupante”.

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