Três coisas que talvez você não saiba sobre investidoras

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Executiva da SulAmérica Investimentos analisa tendências no comportamento feminino e ressalta a importância de se compreender quem é a investidora mulher

Existe um debate constante sobre se as mulheres investem de forma diferente dos homens. Essa ideia de que o gênero pode influenciar na definição de uma estratégia de investimentos leva em conta os desafios e as particularidades das mulheres, como o fato de receberem menores salários, abrirem mão de carreira para cuidar da família e viverem mais que os homens, por exemplo.

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É fato que o número de mulheres investidoras cresce de forma devagar e as mulheres ainda são minoria no mundo financeiro. Hoje, elas representam cerca de 35% dos investidores no Tesouro Direto e cerca de 25% dos investidores em ações na B3, a Bolsa de Valores brasileira. De acordo com uma pesquisa feita pelo UBS Investor Watch, as mulheres brasileiras dizem que não se envolvem nos investimentos porque têm outras responsabilidades mais urgentes de curto prazo.

No entanto, para Daniela Gamboa, Head de Crédito Privado da SulAmérica Investimentos, e que já investe desde quando recebeu o seu primeiro salário, aos 21 anos, é possível verificar novas tendências no comportamento da investidora no Brasil e no mundo. “É importante refletir sobre a inclusão das mulheres no universo das finanças para que possamos traçar estratégias e abordagens que contemplem suas particularidades como investidoras e, muitas vezes, como as principais responsáveis pelo planejamento financeiro doméstico”, ressalta Daniela. A seguir, a executiva lista alguns insights:

Investimento com propósito

Já existem análises e estudos mostrando que as mulheres valorizam mais do que os homens os investimentos que refletem seus valores e que tenham contribuições positivas para a sociedade. Um estudo do Morgan Stanley identificou que 84% das mulheres declaram interesse em investir de forma sustentável, enquanto este número entre os homens é de 67%.

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Sendo assim, as mulheres tendem a ser muito mais propensas a investir em ativos ou emissores com maiores compromissos ambientais, sociais e de governança (sigla ESG, em inglês). Na SulAmérica Investimentos, por exemplo, o fundo Total Impacto FIA, que só aplica em ações de empresas sustentáveis e doa 100% da taxa de administração para a ONG Vagalume, viu um aumento exponencial de mulheres investindo no último ano. A presença feminina entre 2019 e 2020 aumentou em 11 vezes neste produto e hoje elas movimentam 2,52% do total investido – ainda é pouco, mas em 2019 esse volume era de apenas 0,06%.

“Isso reflete um desejo das mulheres de que o dinheiro investido gere mais do que só um bom retorno financeiro. Acredito que, com seu jeito mais cuidadoso, as mulheres podem impulsionar os investimentos mais sustentáveis, em linha com sua preferência por planejamento e seu rigor na hora de correr riscos”, aposta Daniela.

Investimento “à prova de crises”

A maioria dos especialistas em finanças afirma que as mulheres são geralmente mais conservadoras que os homens quando o assunto é investimento. De fato, as mulheres são mais preocupadas com os riscos, refletem mais antes de tomar decisões, tendo mais paciência e visão de longo prazo. Dados sobre investidores nos títulos do governo (Tesouro Direto) mostram que a participação feminina é crescente e aumentou mesmo durante a pandemia. Em 2019, elas representavam 30,0%; já em 2020, o número foi para 31,5% e, neste ano, já está em 32,8%.

“Visto pelo lado negativo, a princípio, as investidoras podem perder oportunidades de ganhos mais rápidos de retorno. Mas momentos como o que vivemos, diante de um cenário de crise que era impossível de prever, mostram que a mulher, pensando no longo prazo, investe melhor. A preocupação com o futuro incerto faz com que a investidora avalie os riscos sob uma outra ótica”, afirma a executiva da SulAmérica.

A própria Daniela se classifica como uma investidora conservadora, apesar de sempre separar um pouco da reserva para investimentos de maior risco. “Eu fiz isso minha vida toda. Mantive grande parte do que fui juntando na renda fixa, seja em fundos, em títulos do Governo, títulos bancários e fundos imobiliários, mas sempre separei um pedaço menor, tipo 15-20%, para colocar direto em ações e câmbio, por exemplo. Hoje, penso em investir mais, focando em ter uma aposentadoria tranquila. Para isso, busco alocações protegidas da inflação e diversificação”, conta.

Educação financeira para elas

De acordo com a pesquisa do UBS Investor Watch, as mulheres cuidam de 80% das despesas diárias como orçamento e fluxo do dinheiro, mas 60% delegam as decisões sobre seus investimentos. As mulheres muitas vezes acreditam que este é um assunto muito complicado e que os homens entendem mais de investimentos.

Essa lógica precisa mudar, na visão de Daniela. “As mulheres precisam de mais informação sobre os produtos e as formas de investir, para acabar com o preconceito de que é tudo muito difícil. As plataformas de investimentos têm produzido cada vez mais conteúdo e formas direcionadas de atendimento às mulheres”, reforça.

Esse despertar para a educação financeira delas (e para elas) se reflete na diversidade de canais nas redes sociais sobre finanças liderados por mulheres e focados em conteúdo para a sua realidade. Empoderar economicamente mulheres no mundo todo é uma das metas nos próximos 5 anos do W20, o grupo de mulheres do G20 – que concentra os países com as maiores economias do mundo, incluindo o Brasil.

“Sempre quis ter minha independência financeira, seja dos meus pais enquanto morava com eles, seja do companheiro depois que decidi casar. Acho que isto é libertador e sempre busquei esta liberdade. Temos que empoderar as mulheres que estão do nosso lado para que possam seguir pelo mesmo caminho”, conclui Daniela.

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