Mercados emergentes entre a cruz e a espada

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Menor ritmo da economia norte-americana pode atrair investimentos para emergentes, mas há riscos que devem ser acompanhados

Está semana será relevante em termos de divulgações de indicadores, as notas do Banco Central do setor externo, de crédito e política monetária e de política fiscal nos dias 25, 26 e 28, respectivamente. O IBGE apresentará o PIB de 2018 na quinta-feira (28). Indicadores no exterior também serão destaque, com foco no PIB norte-americano e seu deflator de consumo, que serão divulgados nos dias 28 e 1º, respectivamente.

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Será para estes dados no exterior, em especial nos EUA, que as atenções dos mercados deverão se voltar. Não é de hoje que a economia norte-americana vem dando sinais de desaceleração. Na verdade, isso ocorre desde meados do segundo semestre do ano passado. Indicadores industriais, do mercado imobiliário, de ciclo de negócios e principalmente de vendas varejistas apresentam evolução aquém das expectativas desde então. Entre as motivações desse movimento estão o aperto das condições financeiras, o imbróglio comercial com a China, a realização dos preços de renda variável e a paralisação das atividades do Governo. Não por acaso, portanto, o Banco Central norte-americano recuou em sua estratégia de aperto da política monetária.

Quais os impactos desse cenário para economias emergentes? À primeira vista, esse recuo pode representar um alívio para economias emergentes. De fato, o menor ritmo de aumento ou mesmo a estabilidade da taxa básica de juros nos EUA favoreceria movimentos de fluxos de capitais e de investimentos em prol de economias emergentes. Neste caso, poderíamos conter a trajetória de fortaleza da moeda norte-americana. De certa forma, foi exatamente isso que ocorreu desde janeiro, conforme figura abaixo.

Divulgação
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Vale observar, entretanto, que esse movimento não é isento de riscos. Pelo contrário. Há pelo menos três tipos de risco que devem ser monitorados. Primeiro, o aprofundamento da desaceleração da economia norte-americana. Cabe monitorar a evolução do mercado de trabalho nos EUA, último bastião das análises otimistas. Segundo, a evolução dos conflitos comerciais sino-americanos, já que não é possível dizer que o pior já passou. Por fim, há a desaceleração da economia chinesa, sob a qual pesam mais dúvidas do que certezas. Se um desses riscos se precipitar, o mencionado alívio será revertido pela aversão a risco, em detrimento de economias emergentes. A Mapfre Investimentos está atenta aos riscos e às oportunidades desse cenário binário.

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Empresas e Setores: Mineração e Construção

  • Mineração: O desastre em Brumadinho e a suspensão da operação de oito barragens da Vale por determinação da Justiça fizeram com que a oferta de minério de ferro fosse reduzida em nível global. Como a demanda se manteve estável, os preços subiram – os preços do minério de ferro estão 15% mais altos após o desastre. O valor de referência é o negociado na bolsa de Dalian, com teor 62%. Entretanto, a commodity que a Vale produz tem um teor superior, difícil de ser reproduzido. Como o minério de ferro de maior teor tem correlação com aqueles negociados em Bolsa, é possível que os preços do produto premium da companhia também tenham subido em igual ou maior magnitude.
  • Construção Civil: Os dados divulgados pelo Secovi na última semana demostraram alta de 27% nas vendas de imóveis em São Paulo, incluindo unidades novas e as já concluídas, que ainda estavam no estoque das construtoras. O setor foi um dos que mais sofreu na recente crise. Isso porque depois de terem comprado imóveis na planta, diversos clientes passaram a desistir da decisão, o chamado “distrato”. Se antes da crise o índice de distratos ficava em torno 10% das vendas, estes passaram para o patamar de 40% durante a crise. O modelo de negócios consiste em comprar, construir e vender. Como as vendas rarearam, os estoques nos balanços aumentam. Assim, as empresas passaram a ficar com as unidades devolvidas e tiveram de conviver com a administração de estoques. Unidades paradas exigem gastos com manutenção, encargos de condomínio e pagamento de IPTU. O crescimento das vendas traz um duplo alívio para as construtoras: a possível retomada do setor, viabilizando novos lançamentos, e o interesse dos clientes nas unidades já construídas.

Gestão: No fim do túnel há uma reforma, mas no caminho muita volatilidade

Arrefecido um pouco do otimismo com a troca de governo no começo do ano, o mercado já começa a se dar conta de que a aprovação da reforma da Previdência não será simples. Porém algumas ‘análises’ que ouvimos por aí pecam ao restringir as economias fiscais aos R$ 1,1 trilhão da PEC apresentada ao Congresso no último dia 18: a ela estão vinculados dois Projetos de Lei de aproximadamente R$ 200 milhões (incluindo aí a reforma dos militares), R$ 3 milhões em repasses previstos do BNDES ao Tesouro e de R$ 200 milhões a R$ 400 milhões advindos da MP 871 (combate a fraudes), totalizando R$ 2 trilhões.

Isto nos lembra a lenda da queda do filósofo, astrônomo e matemático Tales de Mileto em um poço enquanto observava os céus, na ocasião comentada por uma testemunha ocular da história: “eis aqui um homem que estuda as estrelas e não pode ver o que está a seus pés”. A Mapre Investimentos antecipa um período tortuoso e volátil para o mercado durante a ‘travessia’ da reforma da Previdência pelo Congresso, em que toda e qualquer notícia sobre sua tramitação será amplificada no movimento intradiário dos preços.

Como boa notícia da semana passada, destaque para os avanços reportados nas negociações comerciais entre os EUA e a China, o que ajudou a fortalecer o dólar e melhorou o humor dos investidores no cenário externo, contribuindo para o desempenho das bolsas na Ásia e nos Estados Unidos. No Brasil, o Ibovespa oscilou muito em ambas as direções nas sessões durante a semana para encerrar praticamente estável, com o dólar avançando cerca de 1% e os DIs também em ligeira alta.

Nesta próxima semana, destaque no Brasil e nos EUA para os dados do PIB do 4T18, bem como a continuidade da temporada de resultados corporativos. Também no radar a repercussão do encontro do presidente Donald Trump com o presidente chinês, Xi Jinping, sobre as negociações comerciais, com um desfecho favorável podendo dar suporte adicional às commodities ao longo da semana.

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